SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Real completa 30 anos de vitória sobre a inflação, ações da Nvidia despencam após recordes e outros destaques do mercado nesta terça-feira (25).
**REAL CHEGA AOS 30**
O real, atual moeda brasileira, completa 30 anos na próxima segunda-feira (1º). Nesse mesmo dia, em 1994, as notas conhecidas pelos animais estampados entraram em circulação.
A inflação, finalmente, estava controlada. O índice foi de 47% ao mês para 6,84%.
A cereja de um plano. O lançamento do real foi apenas a terceira e última etapa de um programa de controle da hiperinflação, que chegou a 5.000% ao ano.
O plano começou em maio de 1993, quando o então senador Fernando Henrique Cardoso assumiu o Ministério da Fazenda.
Ele foi nomeado pelo então presidente da República, Itamar Franco, vice de Fernando Collor que assumiu a presidência após o impeachment de 1992. Era o quarto ministro em sete meses.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o economista Edmar Bacha, que primeiro apresentou o conjunto de ideias a FHC, conta que o primeiro rascunho do plano foi feito num papelzinho azul.
ENTENDA
Bacha levou ao ministro as ideias dos colegas André Lara Resende e Pérsio Arida, que propunham o uso de duas moedas ao mesmo tempo para se livrar da inflação. O grupo de trabalho também contava com Gustavo Franco, Pedro Malan e Winston Fritsch.
Primeiro viria um controle das contas públicas. Depois, o plano propunha a transição usando a segunda moeda, que seria virtual e foi batizada de URV (Unidade Real de Valor).
Ela funcionaria como uma espécie de ponte e, só depois, a moeda nova seria lançada.
A estratégia era usar a URV ao mesmo tempo em que se mantinha a moeda antiga, o cruzeiro real, onde a inflação ficaria sem conseguir atravessar. Funcionou, mas não escapou de críticas e ceticismo.
30 ANOS DEPOIS…
A inflação ainda é vista como um risco a se considerar no Brasil. Desde então, nossa moeda desvalorizou 40%. Em parte porque a economia segue indexada, com contratos de reajustes.
Para o ex-ministro Bresser-Pereira, há uma herança negativa: os juros altos. Já os economistas Gustavo Franco e Helena Landau afirmam que faltaram reformas ao país.
**NVIDIA TEM TOMBO DE 13%**
As ações da Nvidia caíram 13% desde a última quinta-feira, o que tirou a fabricantes de chips da posição de mais valiosa do mundo. Só na segunda, a queda foi de 6,7%, a maior entre as ações do índice de tecnologia Nasdaq.
Com o resultado, a Microsoft retornou à liderança do ranking de empresas mais valiosas (US$ 3,3 tri), seguida pela Apple (US$ 3,2 tri).
POR QUE IMPORTA
A gigante de chips não caiu sozinha. Netflix (-2,49%), Amazon (-1,86%) e Microsoft (-0,47%) também registraram quedas. O movimento deixou investidores em alerta quanto a um esfriamento do mercado nos EUA, que vive um boom nas bolsas desde 2023.
O avanço da IA e a força da economia americana, apesar de juros altos, elevaram os preços das ações.
BOLHA?
Apesar dos resultados positivos da Nvidia e de outras techs, parte dos analistas alerta para o risco de uma bolha. Afirmam que as ações teriam subido demais.
Ações da Nvidia acumulam alta de 140% em 2024, mesmo com as últimas baixas.
A empresa: é a principal fornecedora de chips de alto desempenho em que a tecnologia de inteligência artificial é processada. Com o crescimento do ChatGPT e do Google Gemini, as encomendas por essa infraestrutura dispararam.
Foi fundada nos anos 1990 em Santa Clara, Califórnia. Antes da IA, era sucesso no mercado de games.
A Nvidia domina 80% do mercado de chips para processamento de inteligência artificial, de acordo com a consultoria Omdia. Quer manter a liderança com uma nova geração de chips.
Xilinx, Google, AMD e Intel, todas dos EUA, dividem o restante do bolo.
**AGENDA VERDE EM MARCHA LENTA**
Empresas de diversos setores estão mudando suas políticas ambientais e deixando as metas para redução de emissões menos rigorosas, em meio à mudança climática.
POR QUE IMPORTA
O Acordo de Paris, de 2015, propõe que as emissões globais de gases poluidores devem ser reduzidas em 43% até 2030. Isso manteria o aquecimento global em no máximo 1,5°C.
Levantamentos feitos por organizações sem fins lucrativos mostram que grandes empresas se comprometeram com uma redução de cerca de 30% até o prazo. Esse alvo, porém, vem sendo revisado para baixo e até abandonado.
ENTENDA
Empresas anunciaram compromissos de redução de emissões por conta própria. Nos pós-pandemia, muitas aproveitaram a onda de responsabilidade socioambiental para estabelecer metas ousadas.
A avaliação, porém, é de que elas não calcularam a viabilidade, e especialistas apontam que o discurso do pragmatismo agora ganhou força.
Unilever, Bank of America e Shell são algumas das empresas que abandonaram metas nos últimos meses.
O movimento já havia sido registrado em março, quando um levantamento mostrou que mais de 200 empresas, entre elas JBS e Microsoft, não estavam cumprindo as metas que assumiram com a ONU em 2021, na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática).
EFEITOS FINANCEIROS
Como resultado dessa mudança de tom, o mercado de títulos verdes enfraquece.
↳ Também conhecidos como green bonds, eles costumam ter juros que acompanham indicadores ambientais e favorecem investimentos em empresas que assumam compromissos verdes.
↳ As emissões globais desse tipo de título caíram para US$ 9,2 bilhões nos primeiros três meses de 2024. Em 2021, foram US$100 bilhões, de acordo com o Barclays.
MAS…
Apesar do recuo de algumas empresas, outras continuam avançando. Mais de dois terços das receitas anuais das maiores companhias do mundo estão alinhadas com a neutralidade de carbono, um aumento de 45% em dois anos.
**MAGALU + ALIEXPRESS**
A Magalu anunciou uma parceria com a gigante AliExpress. Clientes poderão comprar produtos da marketplace brasileira dentro da plataforma chinesa e vice-versa.
ENTENDA
O Magalu venderá os produtos da linha Choice da varejista chinesa, considerada premium. São acessórios de informática, produtos de moda e para o lar. A Aliexpress comercializará eletrodomésticos e bens de consumo duráveis da companhia brasileira.
APROXIMAÇÃO
O CEO do Magalu, Frederico Trajano, afirma que a aprovação recente da taxação de importados de até US$ 50 possibilitou a aproximação entre as companhias.
Na Bolsa, as ações da Magalu subiram 12%.
EX-RIVAIS
Marketplaces estrangeiros já foram acusados por empresas brasileiras do varejo e da indústria de concorrência desleal. Relatório do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, do qual a Magalu é associada, apontou que eles ofereciam produtos com risco à saúde.
CRISE NO VAREJO
A alta das taxas de juros no pós-pandemia e a concorrência de plataformas digitais estrangeiras são algumas das causas da crise por que passa o setor. Em 2023, Shein e Shopee faturaram mais de R$ 35 bilhões no Brasil. A força das estrangeiras faz o varejo a rever estratégias.
Casas Bahia e Polishop pediram recuperação judicial recentemente.
Na Bolsa, Magalu (-38%), Americanas (-81%), Casas Bahia (-47%), Renner (-25%) acumulam quedas em 2024.
COMPETIÇÃO
Em 2023, quando a taxação era discutida em Brasília, Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração da Magalu, criticou a isenção de impostos: Não tem jeito de competir, afirmou.
A taxa das blusinhas. Na nova parceria entre Magalu e AliExpress, a taxação de 20% sobre importados de até US$ 50 vai incidir sobre a linha Choice assim que entrar em vigor.
SIM, MAS…
O imposto aprovado no Congresso após idas e vindas ainda precisa da sanção do presidente Lula. Hoje as compras são taxadas pelo ICMS. Gastos acima de US$ 50 terão imposto de 60%.
Há quem peça mais medidas para desestimular as importações, como a Confederação Nacional da Indústria.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
MERCADO
Empresas de tabaco, cerveja e petróleo tentam fugir de ‘imposto do pecado’. Congresso debate regulamentação de novo tributo, e governo propõe tributar até carro elétrico; setores contestam.
COPOM
Galípolo segue favorito para comandar BC, mas Lula ainda não bateu martelo. Diretor continua como principal cotado apesar de voto no Copom para interromper queda dos juros.
SEGURANÇA DIGITAL
Hackers põem ‘tigrinho’, links suspeitos e termos sexuais em sites de governos. Links oficiais em motores de busca redirecionam usuários para páginas com a interface de casas de apostas.
MERCADO
PIB da Argentina cai 5,1% no 1º trimestre de 2024. Setores de construção civil e manufatura tiveram contração de dois dígitos; única alta ocorreu nas exportações, de 26,1%.
VICTOR SENA / Folhapress