Empresas emprestam linhas de produção para outras companhias atingidas por enchentes no RS

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Após ser atingida pela enchente de maio em Porto Alegre, a indústria do setor eletroeletrônico FuelTech recorreu ao auxílio de outras empresas do mesmo ramo para manter parte das operações em funcionamento.

A companhia vem utilizando maquinário e espaços cedidos por duas fábricas nos municípios de Caxias do Sul, na serra gaúcha, e Cachoeirinha, na região metropolitana da capital gaúcha. As empresas são a Inova e a Parks, segundo Leonardo Fontolan, CEO Brasil da FuelTech.

“A gente utiliza a linha deles no contraturno, quando não estão usando. Ou, no final de semana, a gente vai lá, adapta a linha e faz a produção”, afirma Fontolan.

O caso ilustra um movimento que ganhou corpo na indústria eletroeletrônica do estado após as enchentes de proporções históricas, segundo a Abinee-RS (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica no Rio Grande do Sul).

Fábricas que não foram alagadas cederam parte das plantas produtivas e dos equipamentos para o abrigo de companhias diretamente afetadas pela tragédia ambiental. A ideia foi evitar a paralisação completa dos negócios instalados em áreas inundadas.

A FuelTech, que desenvolve equipamentos para o ramo automotivo, também já usou parte da estrutura da empresa Exatron, em Canoas, na região metropolitana.

“De alguma forma, um empresário conhece o outro, e a gente quer ajudar. Não fomos atingidos, e começamos a ver o que poderíamos fazer”, diz Jorge Demoliner, sócio e diretor da Exatron.

Com cerca de 210 funcionários em Porto Alegre, a FuelTech planeja remodelar sua planta produtiva após as enchentes, aponta Fontolan.

“Não vamos colocar mais o maquinário no primeiro andar. Temos um investimento para operar a área industrial no segundo piso. A ideia é que, se vier uma nova enchente, não nos pegue como agora.”

Outra empresa local a recorrer ao auxílio dentro do próprio setor foi a Globus, que desenvolve componentes automotivos para veículos comerciais. Nas últimas semanas, a indústria trocou a sede inundada em Porto Alegre por espaços cedidos pelas fábricas da Exatron e da Novus, em Canoas.

“As empresas estão se adotando, estão se unindo. Uma está ajudando a outra”, afirma Gilberto Rossato de Medeiros, diretor da Globus.

A companhia tem cerca de 120 funcionários e decidiu transferir sua sede da capital para uma área mais alta do município de São Leopoldo, na região metropolitana, nos próximos meses. Com a mudança, o plano é evitar novos prejuízos em inundações.

“Em 23 anos, nunca tínhamos tido uma gota de água [de enchentes] no nosso prédio. Desta vez, tivemos 1,6 metro de água. Estamos fazendo um esforço bastante grande para a recuperação das máquinas”, diz Medeiros.

A previsão dele é retomar 100% do nível da produção entre o final de agosto e o começo de setembro, já no novo endereço. Hoje, com as operações provisórias e a contratação de montadores terceirizados, o percentual está em torno de 40%.

“Cedemos uma linha de produção com maquinário. Tínhamos uma capacidade excedente”, afirma Marcos Dillenburg, diretor-geral da Novus, uma das empresas que abrigaram a Globus.

Em outros setores da economia gaúcha, ações colaborativas também viraram realidade para tentar mitigar os efeitos das enchentes. Um desses exemplos é o site Produtores Gaúchos Unidos.

A meta da iniciativa é conectar pequenos e médios produtores de alimentos e bebidas do Rio Grande do Sul a restaurantes, lojas e empórios instalados em diferentes regiões do país.

A plataforma tem um espaço de cadastro. Ao realizá-lo, os produtores registram as mercadorias, e os estabelecimentos podem consultar os itens disponíveis, com a possibilidade de fechar os negócios.

“O objetivo é fomentar a venda. Funciona como um e-commerce”, diz a jornalista Aline Barilli Alves, que é responsável pela iniciativa ao lado do marido, o produtor de carne de cordeiro Bernardo Barbosa Ibargoyen.

Segundo Alves, em torno de 240 produtores e cem contatos da área de gastronomia estão cadastrados no projeto, que ela define como uma ação social. “A gente não recebe nada”, afirma.

Alves, contudo, não descarta que a iniciativa se torne um negócio depois da crise, já que a sustentabilidade financeira seria necessária para a manutenção da plataforma.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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