‘Extremismo’ de Boulos e ‘controvérsias’ de Nunes; o que a IA diz sobre pré-candidatos em SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Extremismo político” de Guilherme Boulos (PSOL) e “controvérsias passadas” de Ricardo Nunes (MDB) são alguns dos “defeitos” dos principais pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, segundo o ChatGPT, ferramenta de IA que responde a usuários a partir de bancos de dados.

A reportagem fez perguntas na plataforma sobre os principais postulantes ao cargo em São Paulo: Boulos, Nunes, José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB), Pablo Marçal (PRTB), Marina Helena (Novo) e Kim Kataguiri (União Brasil). Nessa busca, todas as respostas vieram sem a indicação da fonte pesquisada. Novas consultas, porém, podem gerar dados diferentes e vir ou não com a indicação das fontes, já que plataforma pode dar respostas diversas a questões semelhantes.

As pesquisas na ferramenta sobre os políticos são relevantes em um cenário em que os eleitores, principalmente os mais jovens, diversificam os locais em que buscam informação para além de jornais e plataformas como o Google, a exemplo de chatbots e o TikTok.

Segundo pesquisa Datafolha de maio, Boulos e Nunes estão tecnicamente empatados na corrida eleitoral, com 24% e 23% das intenções de voto, respectivamente. Datena e Tabata Amaral têm 8%, seguidos de Pablo Marçal (7%), Marina Helena (4%) e Kim Kataguiri (4%).

Questionado sobre quem seria o melhor pré-candidato para ocupar o cargo de prefeito, o ChatGPT respondeu que não pode “tomar partido político” e sugeriu que o usuário pesquise as propostas de campanha.

Sobre as qualidades dos políticos, mencionou o poder de “oratória e persuasão” de Boulos, bem como “engajamento social”, “capacidade de mobilização” e “juventude e renovação”. Para Nunes, foram citadas “experiência comunitária”, “capacidade de gestão”, “compromisso com a assistência social” e “trabalho em equipe”.

Já o apresentador Datena teria como qualidades a “capacidade de comunicação direta e franca”, além de um “carisma cativante”. “Sua popularidade entre os eleitores devido à sua exposição na mídia e sua habilidade em abordar questões sociais são importantes”, respondeu a plataforma.

Tabata é reconhecida pelos quesitos “educação e conhecimento” —o chatbot cita a formação da deputada na Universidade Harvard—, “inovação e renovação” por ser uma das “parlamentares mais jovens do Brasil”, “compromisso com a educação”, “capacidade de diálogo e negociação” e “coragem e independência”.

Quando a reportagem fez a pesquisa, o chatbot afirmou não ter “informações atualizadas” sobre a pré-candidata Marina Helena. De maneira similar, a pesquisa por Marçal não trouxe muitos dados.

“Até o momento, não possuo informações sobre uma figura pública chamada Pablo Marçal. Pode ser que seja alguém menos conhecido ou que não tenha ganhado destaque a ponto de ser amplamente documentado.”

Kim Kataguiri, por sua vez, teria como pontos positivos, segundo a IA, ser uma “liderança jovem” que faz “a defesa do liberalismo”, além de ter como características “articulação e comunicação” e “ativismo político”. A ferramenta diz ainda que ele representa “renovação política”.

O defeito de Boulos, de acordo com a IA, seria o que alguns considerariam “extremismo político”. “Boulos é associado a uma plataforma política progressista, o que pode ser visto por alguns como extremismo ou radicalismo”.

A plataforma também cita como defeitos “falta de experiência governamental”, “ligação com movimentos sociais controversos”, fazendo referência à relação com o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), “falta de apoio político”, uma vez que o PSOL tem “uma representação relativamente pequena no cenário político brasileiro”, e “visão ideológica restrita”.

Sobre os defeitos de Nunes, cita “polêmicas ou controvérsias passadas”, “posicionamentos políticos contestados”, os quais não detalha, “desafios de liderança” e “falta de experiência política”. Indagada sobre quais seriam essas controvérsias, a IA cita “polêmica no passado relacionada a um inquérito policial por violência doméstica, onde ele foi acusado por sua esposa em 2011”.

No caso de Datena, a plataforma destaca como defeitos “falta de experiência prática na política institucional, já que sua carreira predominantemente na mídia pode não ter proporcionado uma imersão completa nos mecanismos políticos”. A IA cita “flertes” do apresentador com a política, mas ressalta que sua atuação se dá mais marcadamente na área da comunicação.

Os “defeitos” de Tabata incluiriam “discordâncias políticas” que por vezes “entram em conflito com a linha do seu próprio partido”, “inexperiência política”, “mudança de posicionamento”, “pressão partidária” na hora de “equilibrar suas próprias convicções com as expectativas de seu partido” e “divergência com eleitores e apoiadores”.

Sobre Kim Kataguiri, a IA cita “radicalismo político” já que o MBL, ao qual o político é associado, “pode ser percebido como radical por algumas pessoas, devido à sua defesa de ideais liberais e de livre mercado”. Fala também em “controvérsias e polêmicas” relacionadas às “táticas utilizadas ou às posições defendidas pelo MBL”, em “falta de experiência política” e em “conflitos de interesse”, “especialmente considerando o financiamento e apoio recebidos pelo MBL de certos setores da sociedade.”

O QUE DIZEM OS PRÉ-CANDIDATOS

A reportagem questionou as assessorias de Boulos, Nunes, Datena, Tabata e Kataguiri sobre se as pré-campanhas se preocupam com a maneira como os políticos são citados nos conteúdos envolvendo IAs.

A assessoria de Boulos afirmou que “o algoritmo de ferramentas como o ChatGPT não está imune à assimilação e reprodução de informações distorcidas e enviesadas”. Como exemplo, citou a ocorrência do chamado racismo algorítimico, fenômeno que ilustra como as tecnologias não são neutras.

“Se, por um lado, a inteligência artificial representa um avanço importante do ponto de vista tecnológico, por outro ainda está sujeita à manipulação por parte de agentes políticos de carne e osso que visam burlar o jogo democrático e contaminar o debate político com mentiras e inverdades”, disse, afirmando que Boulos “é alvo de uma grande quantidade de fake news disseminadas pelo Gabinete do Ódio”.

Em nome da pré-campanha de Datena, o ex-senador José Aníbal (PSDB) afirmou que as informações colhidas no ChatGPT sobre o pré-candidato fazem referência mais à atuação de Datena como comunicador do que como político. Disse também que essas avaliações podem mudar a partir do lançamento da candidatura.

A assessoria de Tabata disse à reportagem que não comentaria o assunto. As equipes de Nunes e Kim não responderam até a publicação desta reportagem.

ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA / Folhapress

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