BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O palestino Muslim M. A. Abuumar afirmou nesta terça-feira (25) que a autorização de sua deportação no Brasil aconteceu por causa de seus posicionamentos políticos.
“Essa jornada árdua incluiu uma decisão injusta da Polícia Federal de impedir minha entrada no Brasil, emitida sob ordens de um país estrangeiro imperialista que patrocina ativamente o genocídio em Gaza perpetrado por Israel”, disse ele em comunicado à imprensa.
Segundo Muslim, o suposto vínculo dele ao grupo terrorista Hamas não passa de “alegações fabricadas” devido à sua “atividade acadêmica em apoio à causa palestina” e “clara posição em favor dos direitos palestinos”.
Ele afirmou ainda que não descumpriu leis brasileiras e que sua posição crítica à invasão de Israel na Faixa de Gaza está alinhada com a de autoridades brasileiras. O veto à entrada no país, segundo Muslim, veio de “uma potência estrangeira imperialista com longa história sombria de interferência nos assuntos de outros países”.
Muslim M. A. Abuumar, 37, chegou ao Brasil com a esposa grávida, o filho e a sogra na última sexta-feira (21). A família mora em Kuala Lumpur, Malásia, e passaria quase um mês no estado de São Paulo, onde mora um irmão do palestino.
Ele foi abordado por policiais federais na saída do avião, no Aeroporto de Guarulhos. Os agentes fizeram um interrogatório com Muslim sobre as preferências políticas e seu suposto vínculo com a resistência palestina.
Depois de responder às perguntas, Muslim foi comunicado que não poderia entrar no país e ficaria retido em Guarulhos até sua deportação. A Justiça Federal de São Paulo analisou o caso e, no domingo (23), autorizou a repatriação da família para a Malásia.
A decisão de impedir a entrada de Muslim e os familiares se deve ao fato de o nome do palestino estar numa lista feita pelo FBI (polícia federal dos Estados Unidos) de pessoas vinculadas ao Hamas.
A Polícia Federal é procurada desde domingo, mas ainda não se manifestou sobre o caso.
Há dezenas de fotos de Muslim com líderes do Hamas nas redes sociais. O palestino é ainda identificado na imprensa da Malásia como um dos porta-vozes do grupo terrorista para a língua inglesa.
A defesa do palestino nega que ele tenha relação com atos terroristas. “Desconheço essa alegação da Polícia Federal e não tive acesso a nenhuma lista do FBI que constaria o nome do Muslim como agente terrorista. Se ele é, qual ato terrorista praticou?”, disse à Folha de S.Paulo o advogado Bruno Henrique de Moura, defensor da família deportada.
No texto enviado à imprensa, Muslim Abuumar disse que havia visitado o Brasil em outras oportunidades, sem sobressaltos, e destacou que possuía um visto da Embaixada da Malásia para permanecer no Brasil até meados de 2024.
Mesmo já de volta a Kuala Lumpur, o palestino diz que vai questionar a decisão da Justiça de São Paulo de permitir a deportação.
“Para mim e para os ativistas brasileiros que apoiam os direitos palestinos, a batalha ainda não acabou, e continuaremos a busca legal para anular essa decisão injusta e exigir desculpas e compensações. Estou absolutamente certo de que a justiça prevalecerá no final”, afirmou.
CÉZAR FEITOZA / Folhapress