Polícia do Quênia atira contra manifestantes e mata ao menos 5

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um ato no Quênia, palco de protestos desde a semana passada contra um projeto de lei para aumentar impostos no país, terminou com pelo menos cinco pessoas mortas e 31 feridas nesta terça-feira (25) após a polícia abrir fogo contra manifestantes que tentaram invadir o Parlamento.

Os números foram confirmados por diversas organizações, incluindo a Anistia Internacional, em um comunicado que não especificou onde ocorreram as mortes, já que houve protestos pedindo a renúncia do presidente, William Ruto, em diversas cidades do país.

Confrontos eclodiram também em Eldoret —cidade natal de Ruto, onde multidões de manifestantes encheram as ruas e muitos negócios foram fechados por medo de violência— e na cidade litorânea de Mombaça. Manifestações foram registradas também em Kisumu, às margens do Lago Vitória, e Garissa, no leste do país, onde a polícia bloqueou a estrada principal para o porto de Kismayu, na vizinha Somália.

A cifra de mortos ainda é incerta. Jornalistas da agência de notícias AFP viram três corpos inanimados deitados no chão das ruas de Nairóbi entre poças de sangue nas imediações do local, onde um prédio foi incendiado. Já um funcionário da Reuters contou os corpos de pelo menos cinco manifestantes.

A paramédica Vivian Achista, por sua vez, disse à Reuters que ao menos dez foram mortos a tiros, enquanto outro profissional de saúde, Richard Ngumo, afirmou ter contado mais de 50 feridos por tiros.

Na capital, os primeiros confrontos eclodiram ao meio-dia, quando os manifestantes avançaram em uma área que abriga vários prédios oficiais, como o Parlamento, a Suprema Corte e a Prefeitura de Nairóbi. O terceiro protesto em pouco mais de uma semana no país faz parte do movimento “Occupy Parliament”, ou Ocupar o Parlamento, que se articulou nas redes sociais para fazer oposição a um projeto de Orçamento com novos impostos.

Em cenas caóticas, os manifestantes conseguiram atravessar um cordão de isolamento policial e invadiram o prédio do Legislativo, onde os deputados acabavam de aprovar emendas ao texto. Após os policiais falharem em dispersar a multidão com gás lacrimogêneo e canhões de água, os agentes abriram fogo contra os manifestantes.

A ativista queniana Auma Obama, meia-irmã do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, estava entre os atingidos por gás lacrimogêneo, mostrou uma entrevista da CNN.

“Queremos fechar o Parlamento, e todos os deputados devem renunciar”, disse à Reuters o manifestante Davi Tafari, que tentava entrar no prédio. “Teremos um novo governo.” Moody Kimwele, 51, foi às ruas com seu filho de 15 anos para denunciar o crescente peso dos impostos. “O que eles fizeram com o dinheiro? […] Não se vê nada do que foi arrecadado”, disse ela à AFP.A presença de jovens que se organizaram pela internet é uma marca dos atuais protestos no Quênia, onde as manifestações costumam ser convocadas por líderes políticos. Nesta terça, a conexão com a internet sofreu perturbações no país, afirmou a NetBlocks, organização que monitora redes de telecomunicações no mundo.

Horas antes da escalada da violência, quenianos cantavam “Ruto deve sair” e “Tudo é possível sem Ruto” na capital, enquanto música tocava em alto-falantes e manifestantes agitavam bandeiras do país e sopravam apitos em uma atmosfera de festival.

Por fim, a polícia conseguiu expulsar os manifestantes do prédio em meio a nuvens de gás lacrimogêneo e ao som de tiros. Já os legisladores foram evacuados por túneis subterrâneos, segundo a imprensa local.

A principal coalizão de oposição, Azimio la Umoja (Resolução para a Unidade, em suaíli), acusou o governo de “desencadear sua força bruta contra os filhos do país”. Antes desta terça-feira, duas pessoas já haviam sido mortas em Nairóbi durante protestos.

Os quenianos lidam há anos com diferentes choques econômicos causados pelos impactos da pandemia, da Guerra na Ucrânia, da seca e da desvalorização da moeda. Ruto venceu as eleições há quase dois anos com a promessa de defender os trabalhadores do Quênia, mas tem sofrido pressões da população e de credores como o FMI (Fundo Monetário Internacional), que pede ao governo para reduzir déficits e obter mais financiamento.

O projeto de lei financeira tem como objetivo arrecadar mais US$ 2,7 bilhões em impostos e ajudar a aliviar a pesada carga da dívida do Quênia —os pagamentos de juros consomem, sozinhos, 37% da receita anual.

Apesar do protesto, o Parlamento aprovou o projeto de lei sem a participação da oposição, que se recusou a votar. O texto será submetido a uma terceira e última votação e, se aprovado novamente, será encaminhado ao presidente. Ele pode devolvê-la aos legisladores se tiver objeções.

A tensão e as cenas de violência fizeram outros países se manifestarem. A Casa Branca, por exemplo, disse que os EUA estão monitorando de perto a situação em Nairóbi e pedindo calma. Embaixadores de países como Reino Unido e Alemanha disseram em um comunicado conjunto que estavam profundamente preocupados com a violência que testemunharam durante os recentes protestos contra impostos e pediram contenção de todas as partes.

Redação / Folhapress

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