SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A pré-campanha de Guilherme Boulos (PSOL) incluiu na agenda dois atos públicos com Lula (PT) em São Paulo no sábado (29), como parte da estratégia de usar o presidente para impulsionar a candidatura do deputado a prefeito. Lula deverá fazer quatro anúncios de iniciativas do governo federal ao lado do aliado e da indicada pelo PT para vice, a ex-prefeita Marta Suplicy, que voltou ao partido por iniciativa do petista.
A presença de Lula na capital paulista para atividades com Boulos será a primeira desde que os dois foram condenados pela Justiça Eleitoral por propaganda eleitoral antecipada, na sexta-feira (21), em virtude do pedido de voto no deputado feito pelo presidente em evento do 1º de Maio.
Informações repassadas à equipe de Boulos indicam que Lula estará pela manhã na zona leste para os anúncios da criação de um instituto federal de educação em Cidade Tiradentes e da destinação de recursos para obras no campus local da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
À tarde, as atividades serão na zona sul. A expectativa é que o presidente anuncie recursos do Novo PAC para a extensão da linha 5-lilás do metrô até o Jardim Ângela e a construção de um instituto federal no mesmo distrito. A abertura dos dois institutos na capital já tinha sido oficializada pelo governo.
O Palácio do Planalto confirmou na noite desta terça-feira (25) que a agenda de Lula para sábado prevê a viagem para os anúncios dos institutos federais. É esperada também a participação do ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e de outros auxiliares e correligionários do presidente.
Com as medidas para intensificar a presença do governo federal na cidade e vincular Boulos ao padrinho, Lula cumpre a promessa de se engajar na eleição paulistana para fazer frente ao campo do rival Jair Bolsonaro (PL), que apoia a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Imagens para serem compartilhadas em redes sociais e aplicativos de mensagens convocando militantes para os atos de sábado já estão circulando entre membros de PSOL e PT. As montagens usam foto de Lula, Boulos e Marta de mãos dadas tirada na filiação dela ao PT, em fevereiro.
Na semana passada, o juiz eleitoral Paulo Sorci, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, condenou Lula e Boulos ao pagamento de multas de, respectivamente, R$ 20 mil e R$ 15 mil, por causa do discurso do presidente no evento de centrais sindicais no Dia do Trabalhador em que pediu voto no aliado.
Os dois informaram que vão recorrer da decisão. A propaganda eleitoral será permitida somente após o dia 16 de agosto, quando as candidaturas já estiverem registradas na Justiça Eleitoral.
Durante a comemoração, em Itaquera (zona leste), Lula disse que o pleito paulistano seria uma “verdadeira guerra” e, ao lado do deputado no palco, pediu que seus eleitores votem nele.
“Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2006, em 2010, em 2018… 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo”, afirmou o petista.
Ao decidir pela condenação, o juiz afirmou que foi “inquestionável a prática do ilícito eleitoral” e que houve “pedido explícito” de voto. Ele considerou ainda que Boulos foi beneficiário direto e demonstrou inércia diante da fala, “mesmo podendo atuar de forma discreta para amenizar o discurso”.
Lula fez outras aparições ao lado do pré-candidato do PSOL na cidade nos últimos meses. Em dezembro, os dois estiveram juntos em cerimônia do governo federal em Itaquera para o anúncio de um empreendimento a ser construído em parceria com o MTST (movimento de sem-teto ligado a Boulos).
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o pré-candidato ganhou um alívio recentemente com a desintegração do campo da direita nas últimas semanas, após a entrada de Pablo Marçal (PRTB) e de José Luiz Datena (PSDB). A avaliação é que o cenário favorece uma pulverização de votos que pode desidratar Nunes.
A ascensão de Marçal, visto como opção para bolsonaristas resistentes ao atual prefeito, teve outro efeito colateral comemorado pelo consórcio PSOL-PT: obrigou Nunes a ceder à pressão de Bolsonaro pela indicação de Ricardo Mello Araújo (PL) como vice, incorporando o bolsonarismo mais radical à chapa.
O anúncio do coronel da reserva, ex-chefe da Rota, como vice foi feito na sexta por Nunes e pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), durante evento para a assinatura de um aditivo que prevê a extensão da linha-5 do metrô. A mesma obra será tema do evento com Lula no fim de semana.
Bolsonaro sofre alta rejeição na capital, onde foi menos votado que o rival na eleição de 2022.
Segundo o Datafolha, o apoio de Lula faria 23% dos eleitores votarem com certeza em um candidato, mas levaria 45% a não votarem nele de jeito nenhum. Já a recomendação de Bolsonaro seria motivo de voto para 18%, enquanto 61% se recusariam a escolher o nome indicado pelo ex-mandatário.
Na pesquisa mais recente do instituto, divulgada em 29 de maio, Boulos teve 24% de intenções de voto, empatado tecnicamente em primeiro lugar com Nunes, com 23%. Em seguida apareceram Datena, com 8%, também empatado com Tabata Amaral (PSB), com 8%, e Pablo Marçal (PRTB), com 7%.
O PSOL vê como um trunfo o envolvimento de Lula na campanha e conta com a ajuda do presidente para melhorar os índices de Boulos entre eleitores de baixa renda e menor escolaridade, hoje tendendo ao voto em Nunes. Outra aposta é explorar legados da gestão Marta (2001-2004) para o município.
A aprovação do presidente na capital, entretanto, tem uma curva descendente desde 2023, quando ele assumiu o governo.
Em maio, de acordo com o Datafolha, 35% dos moradores avaliavam o mandato do petista como ótimo ou bom, situação estável na comparação com o levantamento anterior do instituto, de dois meses antes. Desaprovavam o trabalho do presidente 34%, enquanto 30% o consideravam regular.
JOELMIR TAVARES / Folhapress