WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Nesta quarta-feira (26), seis manifestantes interromperam a principal palestra de um evento da Amazon em Washington com protestos contra o contrato de fornecimento de tecnologia mantido pela empresa com o governo de Israel.
O protesto, marcado por acusações de apoio da big tech aos ataques do Exército israelense à Palesfina, cortou a fala do vice-presidente global para setor público da Amazon Web Services (AWS), Dave Levy. O painel tratava da adoção de inteligência artificial pela CIA (agência de inteligência americana), pelas Forças Armadas e por hospitais americanos.
“Sua tecnologia está patrocinando o genocídio”, gritou um homem branco segurando a bandeira da Palestina. Outros manifestantes chamaram o conflito na Faixa de Gaza de exercício de limpeza étnica.
As intervenções ocorreram uma por vez e totalizaram cerca de dez minutos. Seguranças retiraram os manifestantes do salão principal do Centro de Convenções Walter E. Washington.
Os manifestantes se referiam ao Project Nimbus, uma iniciativa de computação em nuvem e inteligência artificial (IA) de US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 6,6 bilhões) que envolve o Google, a Amazon e o governo israelense, incluindo as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).
Documentos obtidos pelo Intercept mostram que os serviços do Project Nimbus podem ser usados como ferramenta de vigilância. Em 2021, funcionários anônimos do Google e da Amazon escreveram artigo publicado no jornal The Guardian em que afirmaram ter receio de que a tecnologia desenvolvida por eles pudesse ser usada para coletar dados e monitorar palestinos ilegalmente.
Questionada pela Folha de S.Paulo, a Amazon disse que não comentaria o caso.
O protesto desta quarta foi organizado pelo grupo No Tech for Apertheid, que mobilizou os protestos contra o Google de abril, também contra o Project Nimbus. Na ocasião, o gigante das buscas demitiu ao menos 58 funcionários envolvidos nas manifestações.
Ainda no fim de abril, o governo israelense aprovou um plano estratégico de cinco anos para a transição para a nuvem sob o Project Nimbus e consequente expansão de serviços digitais.
O Ministério da Defesa de Israel e as Forças Armadas do país foram listados em um comunicado do governo israelense como parceiros no Project Nimbus.
Segundo declaração do Google ao Washington Post, o contrato Nimbus “não é direcionado para trabalhos sensíveis, confidenciais ou militares relevantes para armas ou serviços de inteligência”.
De acordo com o secretário assistente para aquisição, logística e tecnologia do Exército americano, Young Bang, que também participou do painel interrompido pelos manifestantes, as Forças Armadas americanas são o maior consumidor do mundo de IA e processamento de dados.
Bang disse que a cooperação da Amazon com as entidades de Defesa americanas era “exemplar”. Nos Estados Unidos, AWS fornece tecnologia para departamentos de Defesa, Segurança Interna, Forças Armadas e CIA. A empresa ainda mantém contratos com outros governos, incluindo o brasileiro.
Levy também anunciou que a nuvem e a IA da Amazon seriam usadas para processar imagens de satélite a fim de detectar minas terrestres na Ucrânia.
*O repórter viajou a convite da AWS.
*PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress