SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Logo no início do primeiro episódio, “My Lady Jane” já mostra a que veio. O que se vê na tela é uma vigorosa cena de sexo oral envolvendo uma mulher e um homem, ambos criados da família da protagonista.
“Isso foi uma estratégia. Queríamos deixar claro a todos que a série vai ser uma produção de sexo positivo e feminista, para não deixar dúvidas”, afirma à reportagem Gemma Burgess. Junto com Meredith Glynn, ela escreveu e dirigiu “My Lady Jane”, que chega ao Prime Video nesta quinta-feira (27).
Baseada no livro de mesmo nome da escritora Cynthia Hand, a produção cria uma história alternativa para Jane Grey, a “rainha dos nove dias” da Inglaterra. Ela foi deposta após nove dias no trono, presa em uma torre e decapitada aos 16 anos no jogo de poder da Dinastia Tudor. Nesta nova versão, a libido anda em alta e demonstrações de afeto outrora mais tímidas, principalmente em séries históricas, ficaram literalmente no passado.
“Desde o começo, nós queríamos muito beijo, nós somos fãs de beijos, especialmente os mais longos. Não queríamos ser um desses programas em que as pessoas se beijam por três segundos só”, explica Gemma. “Queríamos beijos, beijos, beijos, beijos…”, reforça Meredith.
Ao longo dos oito episódios, Jane Grey, vivida por Emily Bader, de “Atividade Paranormal 7”, se torna rainha do dia para a noite e precisa lidar com traições e tentativas de assassinato. O par romântico da personagem é Guildford Dudley, vivido por Edward Bluemel, de “Killing Eve”.
Para a atriz, poder improvisar e mostrar diferentes nuances de uma personagem histórica foi o grande diferencial deste trabalho. A bravura de Jane foi o que a deixou mais orgulhosa ao interpretá-la. “Ela mostra coragem e valentia em momentos e níveis que são realmente impressionantes. Tem muitas coisas nela que espero ser capaz de fazer na minha vida normal porque o mundo é assustador”, afirma.
LADY JANE GREY
Eis a história: A rainha assumiu o trono após a morte de Eduardo 6º, filho de Henrique 8º. Seu reinado foi curto devido à saúde frágil -a causa da morte, aos 16 anos, foi, possivelmente, tuberculose. Em 1553, começou a sofrer de um forte resfriado, mas conseguiu pensar na própria sucessão.
Lady Jane Grey era prima de segundo grau do rei -sua avó era irmã de Henrique 8º-, protestante e muito próxima do monarca. Ela se tornou a primeira mulher a receber a coroa inglesa na história do país.
Jane só integrou a linha de sucessão porque a meia-irmã de Eduardo 6º, Maria Tudor, filha de Catarina de Aragão, foi considerada ilegítima, mas era católica e tinha amplo apoio da população.
Maria se encontrou com partidários que queriam resgatar o catolicismo no poder inglês e se aliou a eles, o que dificultou o reinado de Jane. O próprio pai dela, o duque de Suffolk, convenceu a filha a renunciar à coroa. Já rainha, Maria Tudor prendeu Jane e a encarcerou, acusada de traição e de ser uma usurpadora do trono. Ela foi decapitada em 12 de fevereiro de 1554.
As escritoras se definem como “duas nerds” e ressaltam que queriam criar um casal icônico para a história alternativa de Jane, como Elizabeth e Darcy em “Orgulho e Preconceito.”
Gemma afirma que era obcecada por ela quando estava na escola, mas que só realmente entendeu o que aconteceu após adulta. “Pensei ‘nossa, isso realmente foi horrível e trágico. Essa não deveria ter sido a forma que ela morreu’. A oportunidade de dar a Jane a história que ela merece e deveria ter tido foi muito importante.”
Gemma e Meredith consultaram três historiadores durante a fase dos roteiros. “Pegamos as histórias verdadeiras e pudemos brincar com isso. Foi incrível”, diz Gemma.
MARIA PAULA GIACOMELLI / Folhapress