SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Otan formalizou, nesta quarta-feira (26), a nomeação do holandês Mark Rutte para o cargo de secretário-geral da organização.
Ele substitui o norueguês Jens Stoltenberg em 1º de outubro –data a partir da qual terá que mobilizar todas as habilidades diplomáticas pelas quais ganhou fama para liderar a aliança militar ocidental em um dos períodos mais difíceis de sua história.
Rutte, 57, foi premiê da Holanda por quatro mandatos, entre 2010 e 2023. Seu tempo no cargo fez dele não só o mais longevo primeiro-ministro da história de seu país, como o segundo líder europeu com mais tempo de poder, depois apenas de Viktor Orbán, seu homólogo da Hungria.
As adversidades que ele enfrentou nesse período renderam ao holandês o apelido de “Mark Teflon”. A referência à substância que torna panelas antiaderentes é um trocadilho com o talento do líder para evitar que crise políticas grudassem, digamos, na sua reputação.
“Mark Teflon” não é a única alcunha pela qual o político (que seguiu atuando provisoriamente como líder do Parlamento enquanto o partido de ultradireita mais votado nas eleições legislativas do ano passado não assumia o poder) é famoso. A outra é “The Trump Whisperer”, algo como “o encantador de Trump” ou, mais literalmente, aquele que sussurra em seu ouvido.
O epíteto data de julho 2018, quando, durante uma cúpula da Otan, o então presidente dos Estados Unidos alertou que seu país “seguiria seu próprio caminho” se outras nações não aumentassem seus orçamentos militares.
Segundo um relato do episódio feito pelo site Politico, os líderes da França e da Alemanha, Emmanuel Macron e Angela Merkel, respectivamente, tentaram argumentar dizendo que não era tão simples incrementar esse tipo de coisa da noite para o dia, sem sucesso.
Foi Rutte, então, que conseguiu retomar o controle da situação, afirmando que na verdade os gastos já vinham aumentando -e que o próprio Trump era um dos responsáveis por isso. A justificativa aparentemente surtiu efeito, pois quando o republicano conversou com a imprensa mais tarde naquele dia, estava exultante, afirmando ter alcançado “grandes progressos” durante o encontro.
O histórico de interlocução entre os líderes pode vir a calhar caso Trump vença as eleições presidenciais dos EUA em novembro, mês seguinte à posse de Rutte, e retorne à Casa Branca.
Ao longo de sua campanha, o republicano vem ameaçando cortar as doações dos EUA à Ucrânia, de longe as maiores em termos de ajuda militar. De acordo com o Instituto para a Economia Mundial de Kiel, enquanto Washington teria doado EUR 50,37 bilhões (R$ 296,90 bilhões) para Kiev em ajuda militar desde o início da guerra, a Alemanha, o segundo maior benfeitor dos ucranianos nesse quesito, a Alemanha, teria enviado cerca de um quinto desse valor, EUR 10,20 bilhões (R$ 60,12 bilhões).
Uma reeleição de Trump também provavelmente sabotaria os planos da Otan de preparar a Ucrânia para sua adesão ao grupo, incluindo os esforços para completar a ocidentalização de seus equipamentos, cujo estilo data dos tempos soviéticos.
Rutte ainda deve se deparar com uma situação particularmente complicada na frente do conflito ao assumir, às vésperas do inverno no hemisfério Norte. A estação é marcada por um frio rigoroso na Ucrânia, e nos últimos meses, a Rússia tem intensificado seus ataques contra a infraestrutura energética do país invadido, algo que leva meses, quando não anos, para ser completamente reparado.
Rutte é o mais novo de sete irmãos. Embora sonhasse em ser pianista, ele acabou trabalhando para a Unilever, gigante anglo-holandês de produtos de consumo antes de entrar para a política.
Seu estado civil, solteiro, gera com frequência especulações na imprensa. Ele costuma evitar o tema.
Um terceiro apelido seu na mídia é “Sr. Normal”. Além de ir de bicicleta para reuniões com líderes estrangeiros, ele faz suas próprias compras no supermercado e dirige o próprio carro, um Saab –o que fez inclusive ao ir apresentar sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro ao rei no ano passado.
Rutte se descreve como um “homem de costumes” e passou toda a sua vida em Haia. “Mark não gosta de mudanças, ele quer sempre a mesma coisa”, afirmou Marco Rimmelzwaan, seu cabeleireiro, à agência de notícias AFP.
Redação / Folhapress