Prefeitura de Corumbá (MS) defende festa de São João em meio a incêndios

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS0 – O vídeo de uma festa com labaredas queimando a mata ao fundo viralizou no último fim de semana por mostrar os incêndios que devastam o pantanal. O evento era o Arraial do Banho de São João, festa mais importante da cidade de Corumbá, em Mato Grosso do Sul.

As imagens foram registradas por volta das 2h de sábado (22), o segundo dos três dias da festa, pelo tatuador Marcel Felipe Moraes, 34. “Me chamou a atenção ver a proporção do fogo, tomando a margem do rio de ponta a ponta.”

Ele fez três vídeos e encaminhou um deles, gravado às 2h24 para um vizinho. Este repassou a um amigo, que publicou o registro no Instagram. É possível ouvir a música e ver o público reunido à frente do palco e, ao fundo, as labaredas que sobem dos focos de incêndio.

Durante quinta (20) e sexta (21) da semana passada, a Folha recebeu relatos de que os focos estavam se aproximando da área urbana, sentido sul, rumo ao centro de Corumbá. A cidade, no entanto, é separada dos focos pelo rio Paraguai.

Na manhã de sábado (22), agentes do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul combateram os focos de incêndio no local, usando um avião e dois helicópteros com dispositivos para lançar água.

O vídeo atraiu críticas à gestão do prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (PSDB), pela realização do evento em meio à temporada de fogo, que foi antecipada neste ano. Tradicionalmente, os incêndios são esperados para agosto.

Em comunicados divulgados na manhã desta quarta-feira (26), a gestão defendeu a realização da festa e anunciou que R$ 9,9 milhões foram movimentados na economia local, com público de 94 mil pessoas -quase a população total de Corumbá, que tem 96,2 mil habitantes.

Também disse que indicou, em fevereiro, pontos do município com risco crítico de incêndio para formar brigadas. Já no começo de junho, segundo a prefeitura, foi solicitado mais apoio ao governo de MS e ao governo federal.

A prefeitura também afirmou, na nota, que seu escopo de atuação em incêndios é limitado, e que atua com fiscalização e educação ambiental na área urbana de Corumbá, além de se reunir periodicamente com o corpo de bombeiros.

A rotina dos moradores segue em meio à fumaça, mas não sem problemas. Assim como Marcel, o professor universitário Dário Ferreira Sousa Neto, 47, diz que convive com fuligem dentro de casa e que tem usado máscara para circular pela cidade.

“Geralmente durante a manhã e a tarde, um nevoeiro toma conta da cidade. Eu estou com a voz rouca e com a garganta afetada. E o que acontece também é uma chuva de fuligem, principalmente à noite, além das cinzas dentro de casa.”

O problema também foi relatado por Marcel. “De dia fica nublado, e quando o vento é forte, leva um pouco da fumaça, mas cai fuligem pra caramba dentro de casa.”

Mesmo que vistos de longe, os focos continuam a manter as populações do pantanal na região de Corumbá. No município vizinho Ladário, os moradores da zona rural, na APA (área de proteção ambiental) Baía Negra, continuam sob alerta.

“Nós vemos alguma fumaça que pode ser de tronco, de árvores de caem, mas há sempre o risco de ventar. No momento, a fumaça deu uma amenizada”, diz Virgínia Paz, 52, que mora na APA e é brigadista voluntária da comunidade.

“Essa estiagem nós temos todo ano. Nós, como ribeirinhos, sabemos do cuidado e da precaução que temos de tomar todo ano, isso é certo”, afirmou Virgínia. “Mas esse ano, [o fogo] foi assim, num piscar de olhos. O clima está mudado.”

LUCAS LACERDA / Folhapress

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