Ele subiu os picos da África e das Américas após saber que tem Parkinson

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Subir o Kilimanjaro, ponto mais alto da África, ou o Aconcágua, o “teto” das Américas, é uma aventura para poucos. E se ela for realizada alguns anos após receber o diagnóstico da Doença de Parkinson? Foi isso que fez o economista Rodrigo Mendes, que ressignificou a vida através do esporte e virou até “influencer” depois de postagens sobre o dia a dia nas redes sociais.

Quando ouvi do médico: ‘você tem Parkinson’… Cara, 38 anos. É devastador! Foram uns seis meses para digerir aquilo, perdi quase 15 quilos, mas aí pensei: ‘Tenho de reagir, se não minha vida vai terminar aqui’. E assim começou.

O DIAGNÓSTICO

Rodrigo nasceu no Rio de Janeiro e praticava exercícios físicos com certa regularidade. Foi durante as rotineiras corridas que o sinal de alerta começou a acender. Ele tinha 35 anos à época.

“Eu corria duas, três vezes por semana, e comecei a sentir minha perna travar um pouco, o pé meio que virava para dentro. Acontecia no 4,5 km de uma corrida de 5 km. Mas o período foi ficando mais curto, até que começou a acontecer já com 1 km”, lembra.

Ele decidiu parar as corridas por um tempo e imaginou ser um problema ortopédico. Após consultar alguns especialistas, nada foi encontrado. Sem um diagnóstico, as corridas ficaram de lado na agenda.

Quando eu tinha 38 anos, comecei a ter um tremor na mão direita. Fui a um neurologista. Ele bateu o olho e falou na hora: ‘Você tem Parkinson’. Para mim, foi uma bomba atômica.

Rodrigo passou por um quadro de depressão e chegou a perder 15 quilos. Alguns meses depois, deu os primeiros passos para reagir. Achou exemplos de pessoas que conviviam com Parkinson havia muitos anos e, neste “alento”, como ele descreveu, começou a virada de chave.

“Comecei a fazer musculação. Também nadava no prédio onde moro, comecei a me sentir melhor, recuperei peso e isso foi me animando”, conta.

Atualmente, ele estima que utilize em torno de 2h30 por dia para atividades físicas com os mais variados esportes, de natação a tênis de mesa, passando por basquete, futebol e boxe.

MONTANHISMO

O montanhismo surgiu na vida de Mendes em um misto de acaso e curiosidade. A primeira aventura aconteceu sete anos após o diagnóstico —uma década após os primeiros sintomas.

“Fui à África do Sul. Foi uma viagem mais arrastada, literalmente. Eu chegava a alguns lugares com o pé arrastando. Até que chegamos a uma cidadezinha, no sul do país, que tinha um mapa da África toda em alto relevo. Tinha lá um monte mais alto. Fomos a um pequeno monte da região e tiramos algumas fotos. Depois, vendo as fotos, ficou na minha cabeça aquela montanha mais alta, que era o Kilimanjaro, e que seria legal subir”, conta.

O economista foi à internet e realizou pesquisas que relacionavam pessoas com Parkinson e o ponto mais alto do continente africano, que tem 5.895 metros. Achou a história de Maurício Carvalho, autor do livro Rumo Ao Kilimanjaro —Carregando o Parkinson na Mochila. “Comprei e devorei o livro. Li tudo em dois dias e já comecei a pesquisar as rotas possíveis de serem feitas”, lembra.

Rodrigo se preparou e, na companhia de dois amigos, embarcou para a Tanzânia, mas quase desistiu da viagem. “Em Amsterdã, antes de pegar o último voo, eu travei e não consegui passar pelo raio-x. Tive de explicar aos funcionários do aeroporto que tinha Parkinson, sentar e tomar um remédio. Embarquei já em cima da hora, mas pensei em voltar para o Brasil”, admite.

Ele, porém, desembarcou e conseguiu realizar o desejo de subir o Kilimanjaro. Foi o pontapé e, depois disso, traçou outro destino: o Aconcágua.

O TOPO DAS AMÉRICAS

Mendes já tem uma resolução para 2025: chegar ao topo do Aconcágua. Ele já subiu a montanha em duas oportunidades, mas, por motivos diferentes, não conseguiu completar. O “teto” das Américas fica em Mendoza, na Argentina, e tem 6.961 metros. Ele conseguiu atingir o 6.550

“Eu fui pela primeira vez em 2022 e chegou em um ponto que não havia equipamento para que eu pudesse avançar de forma segura. O guia me explicou as complicações que tinham naquele trecho. No ano seguinte, voltei, mas chegou perto do topo e não tinha terreno favorável para continuar. Uma placa de gelo impediu de avançarmos. Resumo da história: volto no ano que vem para tentar”, diz Rodrigo.

No começo deste ano, Rodrigo foi ao vulcão Ojos del Salado, no Chile, que tem 6.893 metros e é considerado o vulcão mais alto do mundo.

VIROU ‘INFLUENCER’

Rodrigo conta que, por um longo período, tentou esconder que tinha a Doença de Parkinson. Ele abriu publicamente o diagnóstico há apenas dois anos.

“Quando eu abri para as pessoas, tirei um piano das minhas costas. Demorei tempo pra caramba. [Contar] Foi a melhor coisa que eu fiz, porque a energia que você gasta para esconder das pessoas… É muito ruim. Depois, me senti muito mais leve”.

Com essa liberdade, o economista passou a fazer postagens nas redes sociais sobre o tema, e muitas delas com vídeos em que praticava esporte.

“Foi uma forma que eu encontrei de tornar mais leve essa doença. Eu mesmo aprendi a editar e faço os vídeos, foi meio que em ‘tentativa e erro’. E muita gente começou a me seguir, mandar mensagem, e tento responder a todos. Faço questão porque muitos ali passam pelo que eu passo e sei que posso ajudar de alguma forma”, afirma.

Atualmente, ele tem mais de 22 mil seguidores. A história de Rodrigo Mendes, inclusive, vai virar um documentário, em projeto iniciado pela apresentadora Karina Oliani e que teve continuidade sob o comando de Rafel Duarte. A produção será lançada em breve.

ALEXANDRE ARAUJO / Folhapress

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