Segurança pessoal de candidatos acende alerta de campanhas em SP após ameaças

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A segurança pessoal se tornou ponto de atenção para pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo após relatos de ameaças que exigiram reforço de escolta. Eles têm falado abertamente sobre riscos a que estão expostos, que vão além da violência enfrentada pela população.

Guilherme Boulos (PSOL) circula em carro blindado desde o início do ano, deixando de lado o Celta que foi incorporado à estética de suas campanhas anteriores, e quase sempre anda com seguranças. Ameaças de morte que recebeu virtualmente são investigadas pela Polícia Federal.

Pablo Marçal (PRTB) foi outro que acionou autoridades por ameaças de morte. Em junho, ele incorporou à sua equipe o policial militar Edson Melo, de Goiás, que em 2021 estava na caçada ao serial killer Lázaro Barbosa. Marçal sugeriu existir uma “fila” de pessoas querendo “pará-lo”.

José Luiz Datena (PSDB) insinuou que sua pré-candidatura incomoda facções como o PCC, que ele combate. Seu partido diz que o aparato de proteção será definido mais adiante, mas o apresentador de programa policial afirmou que fará campanha “de peito aberto”, sem colete à prova de balas.

“Atira aqui”, discursou Datena, apontando para o próprio peito, no evento em que o PSDB o lançou pré-candidato. “Se me deixarem de cadeira de rodas, eu termino a campanha de cadeira de rodas e ganho.”

Ele reforçou o tom linha-dura na segurança pública em comentários no “Brasil Urgente”, da Band, nos últimos dias, reclamando do clima de medo na cidade. Também falou que, se eleito, investirá em saúde e educação “para o pobre” e quer “tirar o crime organizado da prefeitura e dos serviços públicos”.

A segurança é tema central deste pleito por ser apontada em pesquisas como um dos principais problemas da cidade —embora a área seja de responsabilidade do governo estadual, não da prefeitura.

Para candidatos a prefeito, a legislação não prevê o direito a segurança feita por órgãos públicos, como ocorre com presidenciáveis, protegidos na campanha pela Polícia Federal.

Como está no cargo de prefeito, Ricardo Nunes (MDB) é o único dos pré-candidatos que conta com uma equipe de defesa pertencente à ativa da Polícia Militar. Além disso, em agendas públicas do pré-candidato à reeleição é comum a presença de carros da GCM (Guarda Civil Metropolitana).

As preocupações com segurança se ampliaram no entorno dele com a recente novela da indicação de Ricardo Mello Araújo (PL) para vice. A chance de que o ex-chefe da Rota, batalhão conhecido por sua letalidade, entrasse na chapa provocou alertas de aliados do prefeito.

O receio levantado por eles é o de que a presença do policial dificulte atos de campanha na periferia. Um dos temores era que o PCC, que atua na venda de drogas em diversas comunidades, vetasse a entrada de políticos ligados ao grupo de Nunes em determinados territórios.

Além do histórico na Rota, Mello Araújo defendeu em 2017 diferença de tratamento a cidadãos em abordagens policiais nos Jardins (área nobre de São Paulo) e na periferia.

Desde que a escolha foi sacramentada, no entanto, auxiliares diretos do prefeito têm minimizado os temores, sustentando que a campanha é de Nunes, não de Mello Araújo. Eles também avaliam que rivais como Boulos e Marçal estão capitalizando de maneira oportunista o assunto das ameaças.

A equipe do pré-candidato do PSOL procurou a PF, e não a Secretaria de Estado da Segurança Pública, sob a justificativa de que um dos supostos autores integra força de segurança estadual e poderia não haver isenção do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para apurar o caso.

A PF informou à reportagem que o inquérito está sob sigilo. Boulos já costumava ser alvo de ataques, mas disse em entrevista ao UOL que com a pré-candidatura “começou a ter um nível de ameaça brutal”, envolvendo também sua família. O aluguel do carro blindado é pago pelo PSOL.

Marçal também disse ter recebido, por telefone e mensagens de celular, ameaças de sequestro e morte contra ele e familiares, em tentativa de coação para que desista da candidatura. Ele compartilhou os conteúdos com a Polícia Civil ao registrar boletim de ocorrência, em 10 de junho.

O influenciador agora tem um protocolo de segurança mais rígido. Uma equipe avalia riscos em locais onde ele irá e até, eventualmente, o uso de colete à prova de balas, segundo informou sua assessoria.

Marçal, em nota, disse que o tenente-coronel Melo, que começou a atuar em sua segurança, não foi contratado. “Ele é um amigo pessoal de longa data e alguém que eu tenho em alta estima.”

Tabata Amaral (PSB) também adotou medidas de vigilância e segurança em seu escritório político e em eventos de maior porte. Ela relata receber ameaças de violência tanto física quanto sexual desde que se tornou deputada federal, em 2019, com um agravamento em fases em que se expõe mais.

A pré-campanha afirma que as intimidações chegam via comentários em redes sociais, emails, telefonemas e até mesmo cartas para a casa dela. Diz ainda que, além dos ataques pela atuação política, ela está sujeita a ameaças que atingem “muitos paulistanos, especialmente mulheres”.

Em dezembro, Tabata sofreu uma tentativa de assalto na região central da capital e saiu ferida por estilhaços quando um homem quebrou o vidro do carro e tentou pegar o celular da deputada.

O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo diz que “foge da sua competência” a oferta de proteção, mas que “a Justiça Eleitoral tem a preocupação natural com relação à segurança dos candidatos, servidores da Justiça Eleitoral, mesários e todos os envolvidos no processo eleitoral”.

“O TRE-SP manifesta sua preocupação no sentido de que o pleito se desenvolva da melhor forma possível, apoiando as ações dos órgãos competentes para a segurança de todos”, afirma, em nota.

Para a diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, o quadro é uma combinação da crise de segurança no país com o fenômeno da violência política, acentuado nos últimos ciclos eleitorais. “É muito preocupante para a democracia que exista isso”, diz.

Segundo o Observatório da Violência Política e Eleitoral, ligado à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, entre janeiro e março deste ano 59 lideranças políticas sofreram algum tipo de violência no Brasil.

ARTUR RODRIGUES E JOELMIR TAVARES / Folhapress

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