SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em reprimenda à acusação de que a tentativa de golpe de Estado na Bolívia foi forjada, o governo de Luis Arce convocou nesta segunda-feira (1º) o embaixador da Argentina para prestar esclarecimentos. Na linguagem diplomática, a medida representa grande insatisfação.
A convocação ocorreu após o governo de Javier Milei divulgar comunicado no qual repudiou o que chamou de “falsa denúncia de golpe de Estado”, sem apresentar quaisquer provas.
“O relato [da tentativa de golpe] era pouco crível, e os argumentos não se encaixavam com o contexto sociopolítico [da Bolívia]”, disse a nota argentina divulgada no domingo (30). O texto ainda reiterou que o partido governista boliviano, o MAS (Movimento ao Socialismo), controla os poderes Judiciário e Executivo e as Forças Armadas.
Em entrevista coletiva, a ministra interina das Relações Exteriores da Bolívia, Maria Nela Prada, disse que o governo de seu país “rejeita energicamente” as insinuações de que a tentativa de golpe foi uma farsa.
Além de convocar o embaixador argentino em La Paz, o governo boliviano chamou o seu representante no país vizinho para consultas. As iniciativas são atos de desagravo. Anteriormente, o gabinete de Arce havia dito que as declarações divulgadas pela equipe de Milei eram “hostis e imprudentes”.
No comunicado, o argentino não cravou, no entanto, acusações de que o que chama de farsa tenha sido tramada por Arce. Essa narrativa ganha força em La Paz, e mesmo o ex-presidente Evo Morales agora tem afirmado que tudo não passou de um autogolpe em busca de popularidade, o que o atual presidente nega.
Há mais dúvidas do que certezas sobre a tentativa de golpe militar da última quarta (26) liderada pelo agora ex-chefe do Exército Juan José Zúñiga. Entre outras possibilidades, o governo ventila que tenha se tratado de uma ação patrocinada por interesses externos.
Arce tem dito, porém, que a tese de autogolpe é falsa e sem sentido. “[O governo boliviano convida as autoridades argentinas] a agir dentro dos princípios de respeito à soberania e de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados”, acrescentou o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia.
Na última quarta-feira (26), os bolivianos foram surpreendidos com uma tentativa de golpe televisionada. Naquele dia, militares rebeldes sitiaram a praça Murillo, na capital, durante várias horas, nas quais avançaram contra a porta do palácio presidencial com um blindado do Exército e entraram no prédio. Zúñiga, o líder da ação, acabou preso.
O ultraliberal Javier Milei, que mantém relações tensas com os governos de esquerda da América do Sul, distanciou-se do apoio internacional que Arce tem recebido. Já o Itamaraty disse que “as afirmações mal informadas e tendenciosas” sobre a “inexistência de um golpe de Estado fracassado” representam “um negacionismo excessivo e inaceitável”.
Redação / Folhapress