BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Onze países da América Latina assinaram nesta terça-feira (2), em Brasília, o Estatuto da Aliança Sul-Americana de Inteligência Estratégica, protocolo que prevê cooperação entre os órgãos de inteligência dessas nações.
A reunião plenária foi realizada na sede da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e contou com a presença, entre outros, do diretor-geral do órgão brasileiro, Luiz Fernando Corrêa, e do chefe da Agência Federal de Inteligência da Argentina, Sergio Darío Neiffert.
Apenas a Venezuela do ditador Nicolás Maduro ficou de fora das tratativas, iniciadas formalmente em 2023 com a assinatura do marco de constituição do grupo, também no Brasil.
A assinatura do estatuto da aliança ocorre em um momento de embate público entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e da Argentina, Javier Milei.
Lula não vai a Itajaí (SC) nesta semana para evento que aconteceria praticamente ao mesmo tempo e a poucos quilômetros da conferência conservadora em Santa Catarina que vai reunir Jair Bolsonaro (PL) e Milei.
Em entrevista na semana passada ao UOL, Lula condicionou uma conversa com o colega argentino a um pedido de desculpas. Durante a campanha no país vizinho, Milei havia chamado o petista de comunista e corrupto.
O presidente da Argentina rejeitou o pedido de desculpas, chamou Lula de “esquerdinha” de “ego inflado” e, em novas manifestações, reafirmou entender que o petista é corrupto, além de chamá-lo de um “perfeito idiota”.
Lula era um aliado próximo do antecessor e adversário de Milei, Alberto Fernández.
A presidência da aliança dos órgãos de inteligência será ocupada pelo Brasil em 2024.
De acordo com a Abin, a cooperação entre os órgãos de inteligência dos 11 países tem como objetivos avaliar de forma conjunta riscos e ameaças, além de oportunidades na região.
Entre os princípios estabelecidos no estatuto assinado estão a defesa da ordem democrática do Estado de Direito, dos direitos humanos e a cooperação e convivência pacífica entre as nações.
A Bolívia foi uma das signatárias do documento.
Na última quarta-feira (26), os bolivianos foram surpreendidos com uma tentativa de golpe televisionada. Naquele dia, militares rebeldes sitiaram a praça Murillo, na capital, durante várias horas, nas quais avançaram contra a porta do palácio presidencial com um blindado do Exército e entraram no prédio.
O general Juan José Zúñiga, apontado como líder da tentativa de golpe contra o presidente Luis Arce, disse, sem apresentar evidências, que o presidente teria arquitetado um autogolpe para aumentar sua popularidade.
A versão, reverberada por Evo Morales, padrinho político e atual rival do presidente, foi negada por Arce.
Ainda de acordo com a Abin, a reunião desta terça-feira em Brasília também serviu de pontapé inicial à agenda técnica da Aliança, com a discussão sobre o papel da Inteligência nas discussões das mudanças climáticas.
Em novembro de 2025 o Brasil sediará em Belém a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, também chamada de COP30.
RANIER BRAGON / Folhapress