BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A deputada Carla Zambelli (PL-SP) se referiu à colega parlamentar Bendita da Silva (PT-RJ) como “Chica da Silva”, mulher escravizada no Brasil no século 18, durante live realizada na terça-feira (2).
No vídeo, ela se queixava por não ter voz na reunião de mulheres parlamentares do P20 grupo legislativo do G20 que acontece desde segunda-feira (1) em Maceió, presidida por Benedita.
“Não sei porque que eu não vou falar, mas (…) já foi montado [o P20] pela secretaria da mulher, a Chica da Silva”, diz Zambelli no vídeo. Benedita é coordenadora-geral dos Direitos da Mulher da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados.
O evento reuniu representantes do legislativo de 26 países. Parlamentares da bancada do governo e da oposição também participaram, como as senadoras Soraya Thronicke (PODE-MS) e Leila Barros (PDT-DF), líder da bancada feminina no Senado.
Procurada pela reportagem, a assessoria de Benedita da Silva informou que a deputada ainda não se manifestou sobre o assunto por estar imersa nas atividades do P20 e que não se sabe o que será feito acerca da fala de Zambelli.
Em nota, a assessoria de Carla Zambelli alegou que a deputada se equivocou durante a transmissão ao vivo e confundiu o nome da deputada Benedita da Silva.
“Imediatamente quando percebeu o ocorrido, Zambelli apagou a publicação de suas redes e se desculpou com a deputada Benedita. A conversa foi amigável e houve compreensão da situação. Zambelli lamenta o referido lapso, mas torna público que não houve qualquer intenção de ofensa à sua colega de Parlamento”, diz o comunicado.
Na resposta é dito ainda que a deputada pediu desculpas pessoalmente, na reunião do G20 de terça-feira (2), onde ambas as parlamentares estavam presentes. No entanto, a assessoria de Benedita diz ainda não ter recebido nenhum contato oficial da deputada.
Francisca da Silva, popularmente conhecida como “Chica da Silva”, foi uma mulher negra escravizada que conseguiu a alforria e alcançou uma ascensão social no Brasil do século 18.
Benedita cumpre seu quinto mandato enquanto deputada federal. Ela iniciou a trajetória no Congresso em 1987, continuando até 1995 e retomando em 2011. Foi senadora entre 1995 e 1998. Hoje ela é coordenadora-geral dos Direitos da Mulher da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados e da 1ª Reunião de Mulheres Parlamentares do P20.
O comentário da deputada bolsonarista provocou reações de membros do governo, que condenaram a fala e manifestaram apoio a Benedita.
Em postagem no X (antigo Twitter), o PT prestou solidariedade à deputada e classificou a fala de Zambelli como racista. A publicação foi repostada pela conta de Benedita.
“Nossa solidariedade e apoio a nossa grande referência e exemplo de luta @dasilvabenedita , que foi chamada de “Chica da Silva” pela deputada bolsonarista Carla Zambelli. Benedita tem uma trajetória política exemplar, principalmente na luta do povo preto. Racistas não passarão”, diz o post.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também repudiou a fala e publicou uma foto em que aparece ao lado de Benedita.
“São inaceitáveis as falas desrespeitosas e de cunho racista se referindo a @dasilvabenedita, referência para o Brasil, para a política e para a Democracia. Benedita abriu caminhos para muitas e muitos de nós, e é nossa inspiração cotidiana.”
O ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos) também publicou homenagem à parlamentar, sem mencionar o comentário de Zambelli. “Amamos a senhora e sempre estaremos ao seu lado”, diz trecho da publicação.
MARIANA BRASIL / Folhapress