SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério Público de Mato Grosso do Sul divulgou nesta quarta-feira (3) um relatório que aponta 20 locais onde iniciaram os incêndios de grandes proporções no pantanal, registrados entre 14 de maio até 30 de junho. O levantamento revela que 17 ignições ocorreram em Corumbá e três em Porto Murtinho -em algumas áreas o fogo ainda não foi controlado.
Segundo o documento, elaborado a partir de monitoramento de satélites, a maioria dos focos partiu de fazendas e outros tipos de propriedades rurais, entre eles, nove locais próximos a rios navegáveis, três próximos a estradas vicinais e três em divisas de imóveis.
Ainda conforme o relatório, os pontos iniciais de fogo geraram 14 grandes incêndios resultando em uma área queimada de 292,86 mil hectares (equivalente a quase duas vezes a área da cidade de São Paulo). As chamas atingiram 177 propriedades rurais, a Terra Indígena Kadiwéu e três Unidades de Conservação, além de 39,28 hectares em território boliviano, apontou o levantamento.
O MP-MS constatou que 65,82% da área total de ignição ocorreu em vegetação campestre, 19,52% em área de formação savânica e 5,76% em florestas.
Luciano Loubet, promotor de Justiça do Núcleo Ambiental do MP-MS, afirmou que o monitoramento iniciou a partir da identificação dos primeiros focos de fogo, que foram acompanhados diariamente. Ele destaca que a estratégia busca responsabilizar os autores.
“A gente desenvolveu uma metodologia de trabalhar com o monitoramento de propriedades prioritárias -entre elas, as de importância ecológica maior, pois se pegar fogo são de difícil recuperação”, disse, acrescentando que foram analisadas áreas onde houve fogo em anos anteriores.
Loubet destacou que o “grande desafio” nos incêndios é, como no desmatamento, comprovar se a causa do incêndio foi proposital ou culposa (quando não há intenção de causar dano), para gerar responsabilidades nas esferas administrativa, cível e criminal.
“Quando soubemos, pelos meteorologistas, que os incêndios seriam muito graves nesse ano e já tendo desenvolvido essa metodologia de identificar os locais iniciais, começamos esse trabalho para buscar a presença de um agente do estado investigando esses incêndios durante o próprio curso do fogo”, contou.
O promotor revelou que apenas um caso tem boletim de ocorrência registrado, porque um fazendeiro reuniu testemunhas que teriam presenciado um capataz de outra fazenda atear fogo durante o manejo de uma colmeia, que se espalhou. A Polícia Civil investiga esse caso.
“O nosso objetivo é deixar muito claro que, primeiro, quando ocorrer um incêndio de grande proporção, em seguida, haverá a presença de um agente do estado seja Polícia Militar Ambiental, seja Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], ou outro, no local para investigação. Essa medida pode inibir novas ações intencionais”, finalizou.
O pantanal vem sendo devastado por queimadas históricas. Neste ano já foram registrados 3.762 focos de incêndio na região, aumento de mais de 2.000% na comparação com 2023.
A área consumida pelo fogo em 2024 já supera a atingida no mesmo período em 2020, quando cerca de um terço do bioma queimou. Naquele ano, porém, os maiores incêndios se concentraram no segundo semestre.
JORGE ABREU / Folhapress