SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O zagueiro turco Merih Demiral, herói da classificação de sua seleção às quartas de final da Eurocopa na Alemanha, vai pegar dois jogos de suspensão por ter celebrado seu segundo gol na vitória contra a Áustria na terça (2) com um gesto fascista.
A informação é do jornal alemão Bild, que citou informações da cúpula da Uefa, o ente dirigente do futebol europeu. Se confirmada, é uma dura punição, que colocará mais água no moinho da polêmica levantada pelo jogador.
Após ampliar o marcador no jogo das oitavas com os austríacos, que acabou 2 a 1 para a Turquia, Demiral fez um sinal imitando a cabeça de um lobo com as duas mãos. Esta é a saudação dos membros do Lobos Cinzentos, uma das principais organizações extremistas do país eurasiano.
Ele não negou a intenção, dizendo ter sido uma homenagem à sua nação. Se for mesmo banido, perderá o jogo de sábado (6) contra a Holanda, pelas quartas. Se os turcos passarem, o zagueiro de 26 anos também não jogará a semifinal contra ou Inglaterra, ou Suíça, na quarta (10).
O Lobos Cinzentos, que teve o homem que atirou contra o papa João Paulo 2º em 1981 nas suas fileiras, além de uma série de atentados e crimes atribuídos a seus membros, é legal e ligado a um partido político na Turquia.
Na Alemanha, tem de 18 mil a 20 mil seguidores, o que o torna a segunda maior agremiação de extrema direita, atrás do Afd (Alternativa para a Alemanha). Isso decorre da grande presença de turcos, 1,5 milhão dos 83 milhões de habitantes do país europeu, além de 1,4 milhão de descendentes de pessoas originárias da Turquia.
Nos vizinhos, como Áustria e França, o Lobos Cinzentos é banido da vida pública, algo debatido há anos no Parlamento alemão.
O caso gerou uma crise diplomática. Após o embaixador alemão ser convocado para se explicar em Ancara, nesta quinta foi a vez de seu homólogo turco fazer uma visita ao Ministério das Relações Exteriores em Berlim.
A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, postou no X que “os símbolos do extremismo de direita turcos não têm lugar nos nossos estádios” no torneio. Para completar o caldo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, mudou de planos e deverá estar no estádio em Berlim no sábado para apoiar a seleção –um sinal nada sutil sobre o que acha do episódio.
Na Turquia, restrições ocidentais são imediatamente associadas a preconceito religioso contra o Islã, sendo uma das moedas políticas de Erdogan, no poder desde 2003. Apesar de aliado ocidental, fazendo parte da aliança militar Otan, o país nunca conseguiu ser aceito na União Europeia e mantém uma política independente, sendo próximo por exemplo da Rússia.
A Uefa proíbe manifestações políticas nos estádios. Nesta Euro, torcedores da Romênia defenderam grupos de ultras, torcedores fanáticos associados à extrema direita, e gritaram o nome do presidente russo Vladimir Putin durante jogo com a Ucrânia, invadida pelo russo, além de trazer também uma bandeira de uma área anexada do país vizinho.
Na Copa de 2018, a Fifa multou a Suíça após os jogadores Granit Xhaka e Xherdan Shaqiri fazerem um gesto imitando a águia albanesa de Kosovo, país de origem deles, após gols contra a Sérvia –país do qual os kosovares se tornaram independentes em 2008.
IGOR GIELOW / Folhapress