SÃO JOÃO DA BARRA, RJ (FOLHAPRESS) – O Porto do Açu está reforçando a aposta no agronegócio como parte do plano de expansão de suas atividades no norte do estado do Rio de Janeiro.
Nesta quinta-feira (4), o empreendimento, administrado pela Prumo Logística, inaugurou uma área destinada à armazenagem de grãos (soja e milho).
São dois novos galpões de 6.400 metros quadrados cada. A obra faz parte de um investimento de cerca de R$ 100 milhões de uma das empresas que operam no complexo, a Minas Port.
“A gente já fez embarques de grãos no ano passado, tanto de soja quanto de milho, sem ter essa estrutura pronta. Isso aqui é um passo no processo de ter uma estrutura dedicada a aumentar eficiência e volume na cadeia específica dos grãos”, disse o CEO do Porto do Açu, Eugenio Figueiredo, em entrevista a jornalistas.
Segundo ele, o complexo também planeja a criação de um terminal dedicado à movimentação de itens como soja e milho. Atualmente, o processo ocorre no terminal multicargas do porto. As origens dos grãos são os estados de Goiás e Minas Gerais.
“Nesta potencial expansão, o próximo passo é ter um berço dedicado para o carregamento de soja, de grãos. Hoje temos os mesmos berços para o carregamento de várias cargas”, afirmou o executivo.
Inaugurado em 2014, o Açu é considerado o segundo maior porto em movimentação de cargas no Brasil, atrás de Santos (SP). Está localizado no município fluminense de São João da Barra (a 320 km da capital do estado). A cidade tem 36,6 mil habitantes.
FERROVIA É GARGALO
Para ampliar a movimentação de grãos, o porto tem pelo menos um desafio: destravar o projeto da ferrovia EF-118, conhecida como Vitória-Rio. As discussões para a realização da obra, entre os estados do Espírito Santo e do Rio, arrastam-se ao longo da trajetória do Açu.
A ferrovia é considerada essencial para ampliar o acesso ao complexo e a capacidade de transporte de mercadorias como grãos. A análise sobre a EF-118 está inclusa no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O CEO da Prumo, Rogério Zampronha, afirmou que o Açu, por ser um empreendimento privado, tem processos mais rápidos, o que contribuiria para reduzir o tempo de espera de navios. Ele também disse que a localização do porto, afastada de grandes centros urbanos, ajuda o tráfego de caminhões.
“Se você somar isso com uma série de outras coisas, não é por acidente que finalmente o Rio de Janeiro entra no mapa do agronegócio brasileiro”, declarou.
“Não é só entrar para morder um pedacinho. É entrar para realmente ser um ator importante através da atuação nossa aqui no Porto do Açu.”
O complexo completa dez anos de operações em outubro. Elaborado pelo empresário Eike Batista, o empreendimento teve como plano inicial se tornar um polo industrial baseado no minério de ferro.
O projeto, contudo, passou por dificuldades com a derrocada do império econômico de Eike. Após uma reorganização societária que culminou na criação da Prumo, o porto reforçou a aposta no setor de petróleo e agora também mira em áreas como o agronegócio.
No ano passado, o Açu movimentou um total de 84,6 milhões de toneladas de cargas, o que significa uma alta de 27% ante 2022. O complexo afirma que, de 2015 a 2023, cresceu em média 32% ao ano. Petróleo e minério de ferro puxam as atividades.
O Açu conta com 11 terminais privados, e as operações diárias geram em torno de 7.000 empregos, segundo os responsáveis pelo projeto.
Para se ter uma ideia, do total de 5.570 municípios brasileiros, 1.917 (34,4%) têm menos de 7.000 moradores, de acordo com dados do Censo Demográfico 2022.
NOVA INAUGURAÇÃO PREVISTA
Nos dois galpões de armazenagem da Minas Port inaugurados nesta quinta, a capacidade de estocagem de grãos fica em torno de 70 mil toneladas. O CEO da empresa, Marcelo Marra, estimou que esse volume seria capaz de carregar 2.000 caminhões do tipo rodotrem.
Marra também anunciou a construção no porto de uma misturadora de fertilizantes da Minas Port. O investimento estimado é de R$ 200 milhões. A inauguração está prevista para o segundo semestre do próximo ano.
A Minas Port iniciou suas atividades voltada para o setor siderúrgico e, com o passar do tempo, diversificou as operações, incluindo agora projetos direcionados para o agronegócio. A companhia paga aluguel ao porto pelo uso das áreas.
O Açu abrange uma área de 130 km quadrados. Desse total, 40 km quadrados contemplam uma reserva ambiental, a Caruara.
A área de proteção também está sob responsabilidade do porto e já recebeu em torno de 30 mil pessoas, principalmente estudantes, em um ano e meio de abertura para visitação.
“O que falta ao Porto do Açu: a ferrovia”, disse Caio Cunha, gerente de relações portuárias e da reserva Caruara. “Um terminal de grãos com uma ferrovia vai se tornar uma potência gigantesca.”
O porto também tem planos de desenvolver um hub de energia. Em junho, por exemplo, a Eletrobras e a Prumo assinaram um memorando de entendimento para produção de hidrogênio verde e derivados no complexo do norte fluminense.
A iniciativa deve envolver a instalação de uma planta-piloto e estudos para projetos de maior escala. A Prumo é controlada pelo grupo americano EIG.
O jornalista viajou a convite do Porto do Açu
LEONARDO VIECELI / Folhapress