Empresas disputam mercado de R$ 5 bi com bioinsumos no Centro-Oeste

LUCAS DO RIO VERDE, MT (FOLHAPRESS) – Em ascensão, o mercado de bioinsumos cresce em ritmo chinês, já representa negócios de R$ 5 bilhões por ano e, no mundo, deve triplicar o faturamento até 2032, o que tem impulsionado a disputa por uma fatia de mercado no agronegócio brasileiro, especialmente no Centro-Oeste, que concentra as cidades mais ricas do setor.

Só na safra 2023/24, esse mercado ficou 15% maior e, nos últimos três anos, cresceu a uma taxa média anual de 21%, segundo dados da CropLife Brasil. Em oito anos, a estimativa é que os negócios no mundo cheguem a US$ 45 bilhões (cerca de R$ 250 bilhões).

A pressão internacional para que haja uma produção agrícola cada vez mais sustentável, o aumento do interesse de consumidores brasileiros por produtos com menos químicos, as políticas de incentivos governamentais, assim como a resistência de plantas a certos agrotóxicos usados atualmente e o desenvolvimento científico são alguns dos fatores que explicam o crescimento e motivam as empresas a buscarem mercado em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Os bioinsumos são produtos de origem vegetal, animal ou microbiana que atuam no crescimento e no desenvolvimento da planta e melhoram a fertilidade do solo ou inibem pragas.

Mato Grosso representa 33,4% dos produtos usados, seguido por Goiás (e DF), com 13%. Mato Grosso do Sul tem 7,8% do mercado, ao lado de Minas Gerais e atrás de Paraná (7,9%) e São Paulo (9%).

O interesse foi visto nas duas grandes feiras agrícolas realizadas no primeiro semestre na região, em Rio Verde (GO) e Lucas do Rio Verde (MT), que reuniram fazendeiros em busca de soluções para suas lavouras –especialmente a soja, que representa 55% dos bioinsumos usados no país, e o milho, com 27%.

A Orígeo, empresa que tem dois anos de mercado e é fruto de uma joint venture entre Bunge e UPL, foca justamente o cerrado e os grandes produtores para crescer, atuando em todo o ciclo da jornada de produção, o que inclui os biológicos.

A empresa, que iniciou as atividades no Matopiba, chegou ao Centro-Oeste para buscar fazendeiros que tenham potencial de, no mínimo, 4.000 hectares de plantio. De 300 clientes, chegou a 1.500 neste ano.

“O produtor rural tem que tomar mais de 2.000 decisões por safra, é uma quantidade muito grande. Nosso objetivo é simplificar isso, ofertando todos esses insumos dentro de uma estrutura única: fertilizantes, sementes, defensivos agrícolas e produtos biológicos”, diz Paulo Laurente Junior, diretor de marketing da Orígeo.

Igor Borges, líder de sustentabilidade da empresa, afirma que há muito espaço para a agricultura sustentável crescer como um sistema complementar. “A gente tem visto o produtor bastante interessado por essas alternativas.”

É o caso do fazendeiro mato-grossense Francisco Oliveira, que esteve na Show Safra em busca de novos insumos para sua lavoura. “É inevitável usar bioinsumos, buscar uma agricultura mais sustentável.”

Na mesma feira, a Mosaic Fertilizantes lançou a Mosaic Biosciences Brasil, focada em bionutrição, dividida em manejo do estresse hídrico e de ativação foliar e eficiência do uso de nutrientes.

O diretor da divisão, Alexandre Ricardo Alves, diz que Lucas do Rio Verde foi escolhida para o lançamento pelo fato de 80% dos negócios no país serem feitos com produtores do cerrado.

“É o primeiro passo que estamos dando na direção desse portfólio de bionutrição. É algo realmente disruptivo, porque o mercado de biológicos basicamente é biocontrole e fertilizantes foliares. Estamos falando de um novo segmento. Vamos trazer bases naturais para construir a otimização dos nutrientes do solo. Isso realmente é uma linguagem nova”, diz.

Entre os exemplos da importância vista pelo agro com os biológicos estão a resistência que algumas culturas passaram a ter ao glifosato –um dos agrotóxicos mais usados no mundo– e aos inseticidas usados na citricultura.

Os dados da CropLife foram divulgados no último dia 25 e, segundo seu presidente, Eduardo Leão, apesar de 2023 ter sido desafiador para o mercado de insumos, o segmento de bioinsumos manteve o ritmo de aumento.

O mercado global de bioinsumos está estimado em US$ 15 bilhões em 2023, incluindo todos os setores (controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores), com estimativa de manter crescimento entre 13% e 14% até 2032, chegando aos US$ 45 bilhões. O principal segmento é o de bioinsumos de controle, com 57% do total.

A expectativa é que o setor cresça nos próximos anos com a expansão da indústria, o manejo integrado de químicos e biológicos e o surgimento de novas fórmulas e tecnologias.

Além da Orígeo, a UPL criou nas margens da BR-163, na mesma Lucas do Rio Verde, a Bioplanta, junto com a Tapajós Participações, para ser o “braço verde” da companhia.

Seu CEO, Giuliano Scalabrin, diz que os biológicos permitem que a planta tenha mais equilíbrio em relação ao uso de químicos, melhorando a absorção de nutrientes.

Na Tecnoshow Comigo, em Rio Verde, a Vittia, com fábrica em São Joaquim da Barra (SP), apresentou um bioinseticida microbiológico para controlar pragas com três dias de aplicação.

A produção de biológicos apresentou alta de 9,2% em relação ao ano anterior na empresa, que alcançou receita líquida de R$ 756,1 milhões em 2023 e investe 2,2% em pesquisa e desenvolvimento –tem mais de 250 projetos em andamento, dos quais 37% para inovações em defensivos biológicos.

TAXAS

Há também um outro motivo que contribui para despertar o interesse de produtores rurais por produtos sustentáveis: o bolso.

Já no ano passado, quando o governo federal lançou o Plano Safra de R$ 364 bilhões para médios e grandes produtores, havia taxas de juros reduzidas para produtores que adotassem práticas sustentáveis.

O Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural) tinha juros de 8% ao ano, mas quem comprovasse a adoção de produção orgânica, agroecológica ou com bioinsumos tinha redução de 0,5 ponto percentual. O Plano Safra deste ano foi lançado com valor recorde, R$ 400,5 bilhões.

Outra iniciativa, lançada em 2021, foi o ABC+, plano sobre mudança do clima e baixa emissão de carbono na agropecuária, para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas no campo até 2030.

MARCELO TOLEDO / Folhapress

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