SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As pré-candidaturas de José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) se mostraram um fator a mais na dificuldade que Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) têm encontrado para herdar votos que seus padrinhos políticos obtiveram na eleição de 2022, segundo o Datafolha.
O apresentador de TV e o ex-coach oscilaram positivamente e, em alguns casos, chegaram a crescer entre os eleitores de Lula (PT), Jair Bolsonaro (PL), Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), enquanto o prefeito e o deputado federal mantiveram patamares similares àqueles registrados em maio.
No principal cenário pesquisado, o atual ocupante do edifício Matarazzo aparece com 24% das intenções de voto, e o congressista do PSOL, com 23%, empatados tecnicamente na liderança.
Lula e Haddad estão no palanque de Boulos, enquanto Bolsonaro e Tarcísio se consolidaram como cabos eleitorais de Nunes, refletindo, então, a polarização nacional. O levantamento mantém a tendência, porém, de que a transferência de eleitores não é automática.
Mantendo o que foi visto no fim de maio, menos da metade dos eleitores dos quatro padrinhos afirma que votará no respectivo afilhado.
Boulos, que registrava em maio ter 44% dos que votaram em Lula e 47% dos que escolheram Haddad, viu os números oscilarem: negativamente no caso do presidente –agora são 41%– e positivamente no caso do ministro da Fazenda, de 47% para 48%.
Já Nunes, que tinha certa desvantagem do congressista quanto aos seus apoios, teve oscilações positivas entre os que votaram em seus padrinhos. São 42% os eleitores de Bolsonaro que afirmam votar para reelegê-lo, ante 39% em maio, e 40% dos de Tarcísio, contra 37% de maio.
Essas oscilações, porém, refletem o efeito de Datena e Marçal nos resultados, que vão em tendência diferente do chefe do Executivo municipal e do deputado federal.
O apresentador, que ainda tem candidatura incerta diante do histórico de desistências e a divisão interna do PSDB, tem 11% dos eleitores de Lula, ante 7% anteriormente. Entre os que votaram em Tarcísio, Datena cresceu e foi a 14%, ante 7% em maio, e entre os de Bolsonaro, foi a 11%, contra 8% da última pesquisa.
O ex-coach, que tenta amealhar apoios na direita e abocanhar o eleitor bolsonarista, tem sinalização a seu favor: ele cresceu de 14% para 22% entre os que apoiaram o ex-presidente em 2022 e foi de 12% para 19% entre os que escolheram o governador de São Paulo.
Assim como no levantamento de maio, um número pode dar pistas a esta dificuldade de Nunes e Boulos em herdar os votos de seus cabos eleitorais: nem toda a população sabe quem os apoiam.
São 48% que dizem que Lula apoiará o congressista filiado ao PSOL, e 27% os que veem Bolsonaro endossando o atual prefeito da cidade, além de 36% dos que afirmam que Tarcísio apoiará o emedebista.
Neste mesmo dado, é possível ver que 24% acreditam que Geraldo Alckmin (PSB) apoiará Boulos. O vice-presidente tem firmado, até agora, seu apoio a Tabata Amaral (PSB). Outros 7% dos eleitores acreditam que ele apoiará a deputada, ante 9% em maio, uma oscilação negativa.
Além disso, há um grande número dos que dizem não saber quem estes líderes apoiarão. São 27% para Lula, 40% para Bolsonaro, 35% para Tarcísio e 39% de Alckmin. Ainda, há 11% que disseram que o ex-presidente apoiará Marçal.
Cada um dos dois, entretanto, tem adotado formas diferentes de abordar seus apoios diante do paulistano. Nunes tem aumentado as iniciativas em torno de consolidar o apoio de Bolsonaro. Ele confirmou a indicação do coronel Mello Araújo (PL), escolhido pelo ex-presidente, para a vice-prefeitura.
Por outro lado, o ocupante do edifício Matarazzo não tem feito eventos com Bolsonaro, evitando ser contaminado pela rejeição que o paulistano tem ao ex-mandatário –são 65% os que dizem não votar de jeito nenhum em um candidato apoiado por ele.
Já Tarcísio, figura menos tóxica (48% negam votar em candidato apoiado pelo governador) tem aparecido mais ao lado do prefeito.
Do lado de Boulos, a estratégia parece ser a oposta. Ele tem feito eventos com Lula, apesar de 45% dizerem que não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado pelo presidente, e indicou no início do ano Marta Suplicy (PT), de volta à sigla trabalhista após quase dez anos afastada, à vice-prefeitura.
Chegou, inclusive, a ser condenado por campanha antecipada, junto do mandatário, a pagamento de multas. O atual presidente da República pediu votos para o deputado federal durante ato do 1º de Maio. Cabe recurso à decisão.
A pesquisa Datafolha foi realizada de terça-feira (2) a quinta-feira (4) passada com 1.092 eleitores de São Paulo. O trabalho foi contratado pela Folha e está registrado na Justiça Eleitoral sob o número SP-01178/2024.
MATHEUS TUPINA / Folhapress