A preocupação com a possibilidade de confronto entre torcedores de Flamengo e Palmeiras antes, no dia e depois da final da Libertadores motivou as autoridades brasileiras e uruguaias a montar uma estratégia de segurança capaz de evitar brigas, ou ao menos minimizar os riscos. Uma das medidas já definida é a proibição de o torcedor das duas equipes viajar sem ingresso nas caravanas para Montevidéu, no Uruguai, local da decisão marcada para o dia 27 de novembro.
“Isso vale para torcedor comum e de organizada”, explica ao Estadão o delegado César Saad, chefe da Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Desportiva (DRADE) da Polícia Civil de São Paulo. “Tudo isso é pra evitar a presença dos caras que vão lá para brigar, que têm histórico de briga de torcida. Na maioria das vezes são sempre os mesmos”, diz.
O torcedor que for ao Uruguai para assistir ao jogo, seja por via terrestre, marítima ou aérea, e estiver sem o ingresso não poderá entrar no país vizinho. Muitos flamenguistas e palmeirenses têm comprado passagens para Buenos Aires para ir da capital argentina de barco a Montevidéu, aproveitando a proximidade das duas cidades. “A questão é mais direcionada às torcidas organizadas e para aqueles que vão pra tumultuar, arrumar confusão”, reforça Saad.
Os ingressos serão nominais. A medida, acreditam as autoridades, vai coibir a presença de torcedores com histórico de violência na final da Libertadores. Os bilhetes para o duelo começarão a ser vendidos na próxima quarta-feira, dia 27. As entradas mais baratas custarão US$ 200, cerca de R$ 1,1 mil, ou seja, valor equivalente a um salário mínimo no Brasil. O Estadão apurou que os torcedores das organizadas do Palmeiras chegarão a Montevidéu no sábado, dia do jogo, pela manhã.
A estratégia para coibir confrontos ao longo do trajeto das caravanas com torcedores de Flamengo e Palmeiras inclui monitoramento de flamenguistas e palmeirenses e escolta da polícia brasileira e uruguaia durante todo o percurso até a chegada ao país vizinho. São quase 2 mil km de trajeto em comum entre as duas caravanas. Os ônibus sairão em horários diferentes para os integrantes das organizadas não se encontrarem na rodovia.
“Quando os torcedores do Flamengo estiverem em São Paulo, os do Palmeiras já estarão no Paraná. A gente vai sempre adiantando um Estado”, ressalta o chefe da DRADE. Ele teve acesso a mensagens entre torcedores de organizadas de Flamengo e Palmeiras em grupos de WhatsApp que dão a dimensão do quão violentos podem ser os conflitos. “Tanto a Polícia Civil de São Paulo quanto do Rio estão fazendo monitoramento nas redes sociais”, diz Saad. Há um clima de guerra entre as duas torcidas que ultrapassa a rivalidade envolvendo os clubes que disputam o protagonismo do futebol brasileiros nos últimos anos. Por esse cenário, o evento é considerado de alto risco.
Tanto Flamengo como Palmeiras estão temerosos de que haja casos de violência a caminho de Montevidéu ou na capital uruguaia. Eles não querem que as equipes sejam punidas. As autoridades dos dois países estão se reunindo com frequência para tomar providências. As punições variam e podem ir de multa a jogos com portões fechados.
A Conmebol já solicitou às autoridades brasileiras e às federações estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro a lista dos torcedores que foram condenados por eventuais brigas de torcida ou são investigados por conduta violenta e que por isso são proibidos de frequentar estádios de futebol.
Reuniões envolvendo membros da Conmebol, CBF, Associação Uruguaia de Futebol (AUF), STJD e representantes da polícia brasileira e uruguaia têm acontecido nos últimos dias para tratar do assunto. Outras já estão agendadas para as próximas semanas. O primeiro encontro ocorreu em Manaus, há uma semana, aproveitando a presença do chefe da segurança da AUF, que estava na capital amazonense para o duelo entre Brasil e Uruguai, pelas Eliminatórias Sul-Americanas. O local do última reunião, na quarta, foi a sede do STJD, no Rio.
No encontro, foram discutidos aspectos que envolvem o risco do deslocamento de mais de 20 mil torcedores pelo sul do Brasil até Montevidéu, eventuais conflitos já anunciados pelas redes sociais entre as torcidas de ambos os clubes, bem como as medidas para diminuir esses riscos e atuar nos conflitos.
“O objetivo dessa operação é a proteção dos cidadãos brasileiros e uruguaios, dos torcedores de ambos os clubes, bem como medidas para antecipar riscos, evitar crises e, na eventualidade mitigar seus efeitos”, afirma Mauro Marcelo de Lima e Silva, coordenador brasileira da força tarefa. Ele exerce a função de delegado de Polícia no Estado de São Paulo e também é auditor do STJD.
Nesta sexta-feira, 22, Saad, representando a DRADE, vai se reunir com dirigentes do Palmeiras e, depois, com membros das três principais organizadas do time paulista. No Rio, a Polícia Civil fará o mesmo com dirigentes do Flamengo e integrantes de suas organizadas. Na semana que vem, os encontros acontecem em Montevidéu. Serão três dias de reuniões na sede da polícia uruguaia com agentes de segurança do país vizinho, membros da Conmebol e representantes do Ministério do Interior. Haverá visita técnica aos centros de treinamentos que os times vão usar, aeroporto de Montevidéu, hotéis em que as delegações ficarão hospedadas e ao estádio Centenário, palco da final. O Flamengo vai utilizar o CT do Peñarol para treinar e o Palmeiras, o do Nacional.
Também na semana que vem, os presidentes de Palmeiras e Flamengo têm uma reunião agendada com o mandatário da Conmebol, Alejandro Domínguez, na sede da entidade, em Luque, no Paraguai.
Existe um agravante que faz a preocupação aumentar. A torcida do Peñarol é rival dos torcedores dos dois times finalistas da principal competição continental. Em 2017, em jogo da Libertadores, Felipe Melo se envolveu em briga com Matias Mier no campo e o confronto se estendeu para as arquibancadas.
Em 2020, 151 torcedores do clube uruguaio foram detidos após confusão com torcedores comuns do Flamengo no Rio de Janeiro, hora antes de as equipes se enfrentarem no Maracanã. Roberto Vieira de Almeida, que viajou do Espírito Santo ao Rio para ver o time, foi um dos agredidos e morreu depois de 10 meses internado no hospital Miguel Couto.
Agência Estado