Mensagens indicam que Bolsonaro sabia de leilão de joias, diz Polícia Federal

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal diz que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha ciência da tentativa de venda do conjunto de joias ouro rosé em leilão que ocorreria no dia 8 de fevereiro de 2023 em uma loja nos Estados Unidos.

Segundo o relatório produzido pelo órgão, isso ficou evidenciado numa troca de mensagens entre Bolsonaro e o seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, em que este manda um link de um leilão e o ex-presidente responde “selva”.

“Selva” é uma forma de saudação comum no Exército, com um “ok” ou um “tudo certo”, por exemplo, e que surgiu inicialmente em batalhões na Amazônia.

A PF relatou também que, durante a sua análise do celular de Bolsonaro, foram encontrados cookies e históricos de navegação da página da empresa Fortuna Auction, responsável pelo leilão.

Os cookies são arquivos que são trocados entre uma página da web e o navegador para facilitar o acesso e a trocas de outras informações.

“Esta sequência apresentada: primeiro, o envio de link do leilão por Mauro Cid, segundo, o registro de acesso à página por meio de histórico e cookies por Jair Bolsonaro, em seu aparelho telefônico, e terceiro, a utilização da expressão ‘Selva’ reforçam a utilização deste jargão para confirmar a ciência, do ex-presidente, de que o kit ouro rosé fora exposto a leilão”, disse a polícia.

O kit rosé, segundo a PF, é composto por um conjunto de itens masculinos da marca Chopard contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe e um relógio recebidos pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita, em outubro de 2021.

A análise dos dados coletados pela PF no telefone celular de Mauro Cid revelou que o kit foi levado do país no final do mês de dezembro de 2022, por meio do avião da Presidência da República, e submetido à venda, em procedimento de leilão nos Estados Unidos.

A polícia ainda acrescentou que, no dia do leilão do kit rosé, Cid enviou ao contato do ex-presidente um link da rede social Facebook que provavelmente seria de uma transmissão ao vivo dos leilões da empresa Fortuna Auction e escreveu “daqui a pouco é o kit”.

De acordo com a PF, como o item não foi arrematado, Cid enviou mensagens eletrônicas para a loja perguntando se o item poderia constar do próximo leilão e quais seriam os próximos passos a respeito do kit.

Porém, no dia 13 de fevereiro, Cid enviou um novo email à loja informando que o proprietário havia mudado de ideia e gostaria que o item fosse devolvido.

Segundo a PF, neste momento, o grupo estava preocupado em fazer com o kit voltar ao Brasil e solicitar que ele fosse enviado ao endereço onde residia o ex-presidente e seus assessores, em Orlando, nos EUA, o que ocorreu.

No dia 1º de março, Cid voltou a questionar a loja sobre quando iriam enviar o item de volta, numa espécie de “operação resgate”, acelerada após reportagem publicada pelo jornal Estado de S. Paulo, em 3 de março, que revelou o caso.

O documento da PF também cita um depoimento do general da reserva Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em que o militar afirma que entregou US$ 68 mil ao ex-presidente, de forma fracionada, pela venda de relógios recebidos pela Presidência.

O general disse que o seu filho solicitou que ele recebesse, em sua conta bancária nos EUA, os valores decorrentes de uma venda de bens de propriedade do então presidente. Em razão disso, ele teria disponibilizado sua conta bancária.

“O declarante disse que Mauro Cid relatou posteriormente que se tratava da venda de relógios de propriedade do então presidente Jair Bolsonaro. Ao ser questionado como se deu os repasses dos valores, Lourena Cid afirmou que os valores foram repassados de forma fracionada conforme a disponibilidade de encontros com o ex-presidente”, disse.

Mauro Cid também afirmou, em depoimento do dia 28 de agosto de 2023, ter combinado com seu pai que o saque dos US$ 68 mil dólares, decorrente da venda dos relógios, ocorreria de forma fracionada e que os valores seriam entregues à medida que alguém conhecido viajasse dos Estados Unidos ao Brasil.

“O colaborador enfatizou que o dinheiro seria entregue sempre em espécie de forma a evitar que circulasse no sistema bancário normal”, disse a PF.

CONSTANÇA REZENDE / Folhapress

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