SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a retirada do letreiro, de portas e tapumes, teve início nesta quarta-feira (10) a demolição do prédio da boate Kiss, em Santa Maria (RS).
O primeiro passo foi dado logo pela manhã após uma cerimônia com a presença de sobreviventes, pais de vítimas e autoridades.
O lugar dará espaço a um memorial em homenagem às 242 vítimas do incêndio que atingiu a boate em 27 de janeiro de 2013.
A previsão é que a demolição do prédio e a construção do memorial sejam concluídos em oito meses. Haverá o recolhimento de alguns itens internos para integrar o acervo.
Para o presidente da AVTSM (Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria), Gabriel Rovadoschi, o espaço terá uma função de reconstrução de vidas.
“O memorial funciona como um instrumento para produzir vida, porque dá um cenário de produção de cultura, de educação e de diversos fatores que nos ajudam a posturar esse tecido social que foi extremamente danificado pelo trauma que ocorreu”, disse.
O espaço terá um jardim central e áreas públicas, além de 242 pilares de madeira representando as vítimas da tragédia.
“Com o memorial, a gente tem a chance de transformar a cidade da Kiss na cidade da memória, na cidade da vida, na cidade da prevenção”.
A ideia do memorial também é manter a memória viva para as gerações mais jovens, como crianças nascidas depois da tragédia. Para Gabriel, o espaço deve estar integrado às escolas da cidade e do estado, aberto a visitações de turmas e fazendo parte do cronograma de estudos.
“Acreditamos e apostamos muito nessa educação pedagógica, nesse sentido da formação da cidadania das pessoas através do conhecimento dessa história também”, diz.
A demolição ocorre mais de 11 anos após a tragédia. “A gente aguardava o resultado do júri para então nos sentirmos seguros de tomar esse passo em direção à memória, da construção do memorial”, disse o presidente da AVTSM.
Com a finalização do júri que aconteceu em 2021, deu-se andamento à construção do memorial. A anulação posterior do júri e os embates jurídicos posteriores, segundo Gabriel “estremeceu esses passos”, mas a decisão pela demolição foi mantida para mandar um recado.
“Com o cronograma da obra do memorial, a gente coloca também um apelo diante da justiça”, diz Gabriel. “Agora temos oito meses para a conclusão, e será que até lá nós saberemos se esse memorial vai ser da justiça ou da impunidade? A justiça nos dá uma resposta definitiva a respeito disso”.
Nesta sexta-feira (12), representantes de vítimas da Boate Kiss, de Brumadinho e Mariana (MG), dos bairros afetados por problemas no solo Maceió e do incêndio do Ninho do Urubu no Rio de Janeiro participarão de uma reunião da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), órgão da OEA, para cobrar explicações do Estado brasileiro.
Redação / Folhapress