MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – Carliane Alves de Souza, 42, mãe do goleiro Ramón Souza, 22, atingido por uma bala de borracha na coxa esquerda, após o jogo entre Grêmio Anápolis e Centro Oeste, conta à reportagem que o filho não jogará mais durante a Divisão de Acesso do Campeonato Goiano por conta do ferimento e que, devido à grande perda de sangue, chegou a desmaiar em campo.
Ao ver as imagens, ela saiu de Goiânia para Anápolis para dar suporte ao filho. Foi o único jogo que ela não foi presencialmente. Ramón, segundo a mãe, estava muito abalado e triste quando conversou com ela ainda pouco depois da partida. Trocou poucas palavras. A perna estava inchada, com um grande machucado.
“Estava muito calado, acho que com uma tristeza muito grande. Ele sangrou muito e desmaiou em campo. Ele disse que queimava muito, doía muito, perdeu as forças. A ambulância demorou bastante para fazer o socorro, mas, graças a Deus, ainda assim foi um grande livramento. Eu não consegui pregar o olho e fico imaginando se fosse em outro lugar, se esse policial atira na barriga dele, coisa assim, poderia ter causado algo muito mais sério”, lamentou Carliane.
“Esse homem que usa a farda jamais pode ser chamado de policial goiano. Aquele homem é um despreparado. Ele não poderia jamais ter disparado aquele tiro, porque não havia necessidade. Atrapalhou meu menino, tirou ele do campeonato. Ele não joga mais esse ano. Em vez de estar treinando, está andando de delegacia em delegacia. A história da vida dele mudou dentro de alguns segundos. Se a gente ficar calado, isso vai acontecer com outros”, complementou.
Ela revela que Ramón vive o futebol desde os sete anos de idade e abriu mão da infância e da adolescência em prol do sonho de se tornar profissional, algo que realizou.
“Somos uma família pobre, pobre de verdade. Teve tempo em que eu, trabalhando como cozinheira, quando ele tinha seus 9, 10 anos, pegava meu salário inteiro para comprar uma luva, comprar uma chuteira, pagar uma viagem. O que me dói é que ele não ofereceu nenhum risco, apenas falou de forma enérgica para que baixasse a arma porque não havia nenhuma necessidade, os meninos já estavam se afastando. Ele sempre me diz que vai melhorar cada vez mais, crescer mais, e uma barbaridade dessas dá uma pausa na carreira dele.”
Carliane afirma que Ramón somente tentou tirar os companheiros de perto dos policiais, no meio do tumulto, e afastou boa parte deles. No momento do tiro, ele havia pedido para que fosse abaixada a arma e foi atingido pouco tempo depois.
“A atitude desse ser humano, totalmente despreparado, não havia necessidade disso. Ali era só para dispersar a multidão. Nem ele mesmo acreditava que pudesse ser atingido por um policial a tão curta distância, de forma covarde e violenta. Ele mirou no joelho do Ramón, dá para ver no vídeo. A sorte é que meu filho deu um passo para trás. Se pegasse na veia femoral dele, poderia chegar até a óbito, segundo o médico.”
O advogado Paulo Pinheiro, do Grêmio Anápolis, está acompanhando o goleiro durante depoimento na delegacia na manhã desta quinta-feira (11). Ramón passou por exame de corpo de delito ainda durante a noite desta quarta (10).
Segundo Pinheiro, será feita a representação na corregedoria da Polícia Militar, bem como os atos necessários na Justiça Desportiva e na Justiça comum para buscar reparação.
A Polícia Militar informou, por meio de nota, que foi determinada a abertura de um procedimento administrativo para apurar os fatos com rigor.
A corporação disse que reafirma o seu compromisso com o cumprimento da lei e reitera que não compactua com qualquer desvio de conduta praticado por seus membros.
JOSUÉ SEIXAS / Folhapress