PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Começa na segunda (15), em Pequim, a Terceira Sessão Plenária do 20º Comitê Central do Partido Comunista da China, em meio à expectativa no país e nos mercados, inclusive no exterior, sobre um prometido “aprofundamento das reformas”. O Escritório Nacional de Estatísticas da China anunciou para o mesmo dia 15 a divulgação do PIB de junho.
Os sinais sobre a Terceira Plenária são conflitantes. O primeiro-ministro Li Qiang disse em simpósio com economistas e empresários, na última terça na capital chinesa, que “os fatores afetando o crescimento são mais complexos que antes” e será preciso “tomar decisões científicas” para conseguir “alcançar os objetivos para o ano”. Entre eles, crescer em torno de 5%.
A leitura imediata da declaração foi que haverá medidas de curto prazo para animar a economia. Mas o mesmo Li, duas semanas antes na chamada Davos de Verão, conferência que o Fórum Econômico Mundial promove em Dalian, perto de Pequim, falou que a economia pós-pandemia é como alguém que se recupera de doença grave.
“Segundo os princípios da medicina tradicional chinesa, não se pode tomar remédio drástico nesse momento”, disse ele, segundo o jornal Lianhe Zaobao, de Singapura. “Deve ser condicionado com precisão e lentamente, para que sua base seja restaurada gradualmente.”
A declaração foi apagada da transcrição de Li, tanto no site do Fórum como no relato da agência Xinhua, mas bastou para criar um movimento de queda nas ações chinesas desde então. Bancos e fundos passaram a expressar, em suas projeções, desesperança quanto a um dos maiores focos de interesse –os estímulos de curto prazo ao consumo.
Com duração de três dias, a reunião quinquenal de 400 líderes do PC Chinês, de todo o país, é vista historicamente como ponto de partida para mudanças. Foi assim em 1978, na ascensão de Deng Xiaoping; 1993, quando foi estabelecida a “economia de mercado socialista”; e 2013, na ascensão de Xi Jinping. Esta é a primeira em que Xi, como Deng em 1993, controla o partido, para delinear as prioridades até 2035.
No extenso debate público que vem precedendo o encontro, que será a portas fechadas, alguns economistas chineses se destacaram, somando-se aos sinais conflitantes do que vem por aí. Um deles é Yao Yang, professor e diretor do Centro para Pesquisa Econômica da China, da Universidade de Pequim, a mais representativa do establishment.
Ele alertou há três semanas, falando para empresários e autoridades em Xangai, que “muita gente tem grandes expectativas para a Terceira Plenária, esperando outra onda de reformas e iniciativas amplas, mas as reformas significativas foram completadas nos anos 1990”.
A tarefa agora é “consolidar as conquistas”. Isso envolveria, pela ordem, dobrar a renda per capita até 2035, “vencer a competição ideológica com os EUA através da tecnologia”, ajustar a distribuição de renda aperfeiçoando o sistema de seguridade social e integrando áreas urbanas e rurais.
“O camarada Deng nos falou nos anos 1980 que a China deveria primeiro tornar as pessoas ricas”, disse Yao. “Na nova era é diferente, o objetivo é a prosperidade comum. A Terceira Plenária visa construir um socialismo de alto nível. É o socialismo com prosperidade comum. Num certo sentido, significa atingir a intenção original do partido.” Nova era se refere ao período iniciado no final de 2012, com Xi no poder.
Em linha divergente, David Daokui Li, professor de economia da Universidade Tsinghua, onde o próprio Xi se formou, disse no mês passado no think tank Centro para China e Globalização, de Pequim, ter “certeza de que grandes políticas e grandes direcionamentos políticos serão anunciados”.
Argumentou com uma declaração de Xi em maio, num simpósio em Jinan também preparatório para a Terceira Plenária, em que o líder falou que “a aspiração do povo chinês por uma vida melhor” é o propósito maior ao aprofundar as reformas. Daokui Li prevê desde a reestruturação nas dívidas dos governos locais, com transferência de receita hoje com Pequim, até o incentivo ao mercado imobiliário.
Xinhua e Diário do Povo, ligados mais diretamente ao regime, publicaram séries com artigos extensos e repetitivos sobre a Terceira Plenária, pouco esclarecedores. O mais significativo saiu na revista bimensal teórica do PC Chinês, Qiushi, em edição que contou também com uma compilação de passagens de Xi sobre os temas da reunião –a começar daquela sobre a aspiração do povo por vida melhor.
Em texto assinado pelo vice-diretor da Comissão de Economia e Finanças do partido, Han Wenxiu, são listados os focos de atenção para reforma. Os três primeiros: ciência e tecnologia e um sistema industrial moderno; agricultura e áreas rurais, com mais integração cidade-campo; e tornar o desenvolvimento verde e de baixo carbono a base da modernização.
NELSON DE SÁ / Folhapress