Professora diz ter sido agredida ao doar marmitas na rua na zona sul de SP

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A professora Simone Mendes Maldegan, 50, diz ter sido agredida pela síndica de um condomínio na zona sul de São Paulo enquanto distribuía refeições a moradores em situação de rua. A agressora teria citado uma nova lei que proíbe a entrega de marmitas na capital paulista. O projeto de lei, no entanto, está suspenso da sua tramitação na Câmara de Vereadores.

A professora e mais quatro voluntários participavam da ação social, no dia 6 de julho. O local onde foi agredida era a penúltima parada da rota que faz todos os sábados. Os dois carros com os voluntários estacionaram em frente ao número 238, na rua Manuel Buchalla, no bairro do Ipiranga. Era madrugada, pouco antes da 1h.

Enquanto o grupo organizava as doações, um dos voluntários ficou encarregado de buscar os moradores em situação de rua. Segundo a professora, eles estavam na rua das Juntas Provisória, a poucos metros dali. Simone Maldegan é voluntária há sete anos do Projeto Abayomi, que auxilia a população em situação de rua com entrega de refeições.

Poucos minutos após chegarem no local, uma mulher teria se queixado da presença do grupo. Ela conta que estava tendo uma reunião de amigos no prédio e que a síndica do condomínio questionou por que ela “estava alimentando bandido”.

Essa não era a primeira vez que o grupo se reunia naquele local. “Temos um roteiro fixo, onde fazemos algumas paradas, atendemos alguns moradores que estão passando, mas temos nossas paradas certas, é o nosso trabalho de construção de vínculo afetivo para poder entender as histórias e poder contribuir com a pessoa de acordo com a sua necessidade individual”, afirmou a professora.

Esclarecimento da professora sobre suspensão do projeto de lei teria irritado a síndica. “Essa mulher saiu da festa e veio questionar o nosso trabalho dizendo que tinha uma lei que não podia dar comida para morador de rua. Expliquei que essa lei tinha caído. Ela ficou brava e disse que eu estava dando comida pra bandido e que eles depois viriam assalta o pessoal do condomínio”, diz Simone.

Vereador suspendeu proposta que prevê multa por doação a morador de rua. O vereador Rubinho Nunes (União) anunciou no dia 28 de junho a suspensão da tramitação do PL que estabelece regras para a doação de alimentos à população de rua. Proposta prevê multa de até R$ 17 mil a quem fizer doações sem aval da Prefeitura de São Paulo.

Professora diz ter sido agredida e ofendida moralmente. À reportagem, ela afirmou que foi empurrada pela síndica e ouviu diversos xingamentos. “Ela queria que a gente tirasse o carro da frente do prédio. Tiramos o carro e fomos um pouco mais pra frente. No momento em que virei de costas, ela me empurrou. Eu não reagi. Ela continuou me xingando”, lamentou.

Agressora também teria ofendido morador em situação de rua. De acordo com o relato da professora, a síndica o chamou de “bandido” e também tentou agredir outra voluntária do projeto. “Quando entrei no carro, ela veio pra cima da gente com os amigos dela e se jogou na janela do carro, tentou agredir a minha voluntária. Joguei o meu corpo por cima para para proteger, foi quando levei socos. Ela tentou me puxar pra fora da janela do carro”, lembrou Simone.

Simone Maldegan ficou com hematomas na perna e no braço. Ela foi socorrido ao Hospital do Ipiranga e foi medicada. “Dói mais na alma do que no corpo. O corpo sara, a marca de violência de você estar fazendo uma coisa boa, uma coisa certa é mais difícil, é complicado”, diz a professora.

PROFESSORA DISSE QUE PM NÃO DEU IMPORTÂNCIA PARA DENÚNCIA

Os voluntários do projeto social acionaram a Polícia Militar de São Paulo. Uma viatura que estava fazendo ronda, segundo a professora, não deu importância para a denúncia do grupo.

Policiais se negaram a atender ocorrência. Simone lembra que um dos oficiais teria a desencorajado a ir a delegacia de madrugada, questionou o que ela estava fazendo na rua naquele horário e não foram ao local do crime. “Eu queria que eles fossem ouvi-la para eu ter os dados dela [síndica], mas não foram”.

“Falei que tinha sofrido violência, e ele respondeu que não iria colocar os policiais dele em risco”, disse Simone.

A professora conseguiu registrar o boletim de ocorrência na segunda-feira (8). Ela também fez o exame de corpo de delito e prestou depoimento à polícia na quinta-feira (11).

A ocorrência foi registrada como injúria e lesão corporal no 16º Distrito Policial (Vila Clementino). A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que orientou a vítima sobre o prazo de seis meses para representar criminalmente contra a autora por se tratar de crime de ação penal condicionada.

A voluntária do Projeto Abayomi diz que descobriu nome e informações da síndica e que vai processá-la. A reportagem não teve acesso ao nome da suspeita, por isso, a reportagem não conseguiu localizar a sua defesa.

Ela afirmou que vai continuar distribuindo as refeições para a população em situação de rua. Disse ainda que o projeto de lei fomentou o clima de hostilidade e intolerância. “Nunca tinha sido agredida durante ação social. Essa lei maldita coloca em risco o trabalho de todo mundo e dá direito a esses fascistas de atacarem as pessoas que fazem o bem’.

A reportagem procurou a Polícia Militar de São Paulo para questionar o procedimento adotado pela viatura que atendeu os voluntários. Não houve retorno. O texto será atualizado caso haja resposta.

EDUARDA ESTEVES / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS