Nunes distorce número de mulheres em sua gestão e foge de críticas a Bolsonaro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Durante sabatina nesta segunda-feira (15), o prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) distorceu o número de mulheres no alto escalão de sua gestão e fugiu de críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que apoia sua candidatura e indicou o coronel Mello Araújo (PL) como seu vice.

Em sabatina realizada por Folha de S.Paulo e UOL, o político ainda desviou de perguntas sobre o ataque golpista de 8 de janeiro e sobre suspeitas em contratos emergenciais da prefeitura. Ele também mudou sua versão sobre uma denúncia de violência doméstica feita por sua esposa, Regina Carnovale Nunes, em 2011.

Nunes tem 24% das intenções de voto na capital paulista e está empatado tecnicamente com Guilherme Boulos (PSOL), que tem 23%, segundo pesquisa Datafolha feita entre os dias 2 e 4 de julho. O apresentador José Luiz Datena (PSDB) marca 11%, e o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), 10%.

Veja algumas das declarações do pré-candidato durante a sabatina.

‘53% É O NÚMERO DE MULHERES NA ALTA GESTÃO DO MEU GOVERNO’

Questionado sobre por que não escolheu uma mulher como candidata a vice e sobre como pretende aumentar a diversidade em seu governo, o prefeito rebateu que o nome de Mello Araújo foi uma decisão conjunta de vários partidos, negou imposição de Bolsonaro e afirmou que “53% é o número de mulheres na alta gestão do seu governo”.

Segundo comunicado oficial da Prefeitura divulgado em 8 de março, essa é a porcentagem de cargos de liderança da administração municipal -759 dos 1.610 cargos de chefias, direção e coordenação. Ele não mencionou, porém, que apenas 10 das 35 pastas com status de secretaria ou secretaria-executiva, nomeadas pelo prefeito, são comandadas por mulheres (28%).

‘EU SOU RICARDISTA’

Nunes evitou temas polêmicos sobre Bolsonaro. Perguntado se é um bolsonarista “de carteirinha”, respondeu: “Eu sou ricardista. Trabalhei muito para ter o apoio do Bolsonaro, estou grato e feliz por ter o apoio do presidente Bolsonaro”.

Ele também evitou falar sobre a investigação que mira a existência de uma “Abin paralela” durante a gestão do ex-presidente, que teve nova fase na semana passada. Citou o caso Escola Base, quando inocentes foram condenados erroneamente, e até a soltura do presidente Lula (PT).

“Estamos num Estado democrático de Direito […] que prevê a presunção de inocência. É necessário ter cautela com essas questões. […] As pessoas, se você beliscar, dói, têm sentimentos. Imagine ser bombardeado para depois acabar descobrindo que não houve nenhuma ilegalidade”, disse.

‘O 8 DE JANEIRO FOI UM ATENTADO CONTRA O PATRIMÔNIO PÚBLICO’

Questionado se acha que a depredação das sedes dos três Poderes em Brasília em 8 de janeiro foi um atentado contra a democracia, Nunes disse: “O 8 de janeiro foi um atentado contra o patrimônio público que eu repudio […] [Eram] aposentados, pessoas que estavam ali fazendo um ato totalmente errado, mas não dá para se comparar uma coisa com a outra”.

Ele insistiu três vezes em equiparar o caso a um episódio de 2015, em que o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), então coordenado pelo seu adversário Boulos, invadiu os prédios do Ministério da Fazenda em São Paulo e Brasília contra o ajuste fiscal.

Segundo matéria da Folha da época, em Brasília, os manifestantes quebraram uma das vidraças na portaria e picharam o edifício e, após confronto com a Polícia Militar, deixaram o local. Em São Paulo, onde Boulos estava, alguns invadiram o prédio, mas não chegaram a subir e ficaram no saguão após negociação com a segurança e a Polícia Militar.

‘QUANTO CUSTA UMA VIDA? NÃO DÁ PARA FALAR’

Sobre reportagem do UOL que afirma que pelo menos 223 de 307 contratos para obras emergenciais sem licitação trazem indícios de combinação de preços, o prefeito respondeu: “[Isso seria] crime por parte de quem? Da empresa […] Quanto custa uma vida? Não dá para falar. 90% [dos contratos emergenciais são para salvar vidas]”, justificou.

Questionado se os outros prefeitos não tinham os mesmos problemas em suas gestões, afirmou: “Como funciona obra de emergência? Não é o prefeito, não é o secretário que determina, são os engenheiros da prefeitura, a Defesa Civil, que ao serem chamados vão até lá e fazem um laudo dizendo: aqui tem um risco”.

‘É ÓBVIO QUE [BOLETIM DE OCORRÊNCIA POR VIOLÊNCIA DOMÉSTICA] É FORJADO’

Nunes mudou, pela primeira vez, sua versão sobre um boletim de ocorrência de violência doméstica, ameaça e injúria registrado em 2011 por sua esposa, Regina Carnovale Nunes, com quem continua casado e tem uma filha. “É óbvio que é forjado”, disse ele, demonstrando irritação.

“Minha esposa Regina contratou um advogado, ele peticionou na delegacia para poder pegar o documento e fazer o exame grafotécnico. Qual foi a resposta? A resposta foi: não existe esse boletim de ocorrência aqui, físico. […] Colocaram no sistema”, declarou.

O documento é verdadeiro. O registro policial, revelado pela Folha de S.Paulo na campanha de 2020, quando ele disputava a eleição como vice de Bruno Covas (PSDB), foi realizado em 18 de fevereiro de 2011, na 6ª Delegacia da Mulher, em Santo Amaro (zona sul). Ele consta do sistema da Polícia Civil e já foi admitido por sua esposa.

JÚLIA BARBON / Folhapress

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