SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os mercados globais reabriram nesta segunda-feira (15) repercutindo o atentado sofrido por Donald Trump em comício no último sábado.
Agora, investidores ajustam posições prevendo uma possível vitória do candidato republicano nas eleições presidenciais dos Estados Unidos após o tiroteio, e ativos financeiros ligados ao ex-presidente e suas propostas para a economia ganharam um novo impulso.
O dólar se fortaleceu em relação à maioria das moedas globais, sobretudo as de mercados emergentes. O peso mexicano, mais sensível ao risco de protecionismo nos EUA do que outras divisas pares, perdeu 0,84% nesta sessão.
No Brasil, o dólar subiu 0,28% em relação ao real, fechando em R$ 5,445 na venda. O avanço da moeda perdeu fôlego por aqui ao longo do dia diante das expectativas de agentes financeiros sobre a política monetária dos Estados Unidos.
“Vemos um aumento considerável nas perspectivas de vitória de Trump na eleição que se aproxima, tomando como base tanto cenários anteriores na própria história americana, quanto o exemplo brasileiro, com a vitória do ex-presidente Jair Bolsonaro [após o episódio da facada desferida por Adélio Bispo em 2018]”, avalia Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos e mestre em finanças pelo MIT Sloan School of Management.
De acordo com ele, a perspectiva de uma vitória republicana nas eleições traz um efeito de curto prazo na economia global, em especial pela memória do primeiro mandato de Trump.
“As Bolsas performaram muito bem na época por causa dos esforços agressivos na política de impostos. No curto prazo, devemos ver juros futuros americanos e perspectivas de inflação subindo, o que fortalece o dólar.”
As propostas de Trump, hoje, miram novamente a política fiscal e monetária dos Estados Unidos. O ex-presidente defende uma nova reforma tributária, com corte nos impostos pagos por empresas norte-americanas e uma alíquota maior nas tarifas de importação feitas pelo país, o que tende a estimular o crescimento econômico e a inflação.
Com isso, o chamado “Trump Trade” afetava os títulos do Tesouro dos EUA, os Treasuries, com salto nas curvas de longo prazo e queda nas mais curtas.
Os Treasuries, porém, também respondiam a sinais de autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) de que o primeiro corte na taxa de juros do país deve ocorrer em breve.
Trump foi ferido após tiros serem disparados contra ele durante um comício em Butler, no estado da Pensilvânia, no sábado (13). Segundo o ex-presidente, ele foi atingido por uma bala que perfurou a parte superior da sua orelha direita. A campanha do republicano diz que ele passa bem, e o incidente está sendo investigado como uma tentativa de homicídio.
As chances de uma vitória de Trump subiram no site de apostas PredictIt, usado como base para os mercados financeiros. Antes em 60% na sexta-feira, a possibilidade do republicano voltar à Casa Branca subiu para 67% nesta segunda, enquanto o atual presidente norte-americano Joe Biden ficou no patamar de 27%.
Nesta segunda, os principais índices de Wall Street subiram diante da perspectiva de um novo mandato de Trump e de um possível corte de juros pelo Fed em setembro.
O Dow Jones subiu 0,53%, para 40.211 pontos. O S&P 500 avançou 0,28%, a 5.631 pontos, enquanto Nasdaq ganhou 0,40%, para 18.472 pontos.
No pré-mercado, as ações da empresa de mídia do ex-presidente, a Trump Media & Technology Group Corp., chegaram a subir mais de 67%, alcançando cerca de US$ 50 por ação.
As criptomoedas também reagiram ao atentado contra Trump, e o preço do bitcoin atingiu US$ 62.830 na máxima do dia, em alta de 9,1% o maior patamar em duas semanas.
“A probabilidade de uma vitória de Donald Trump aumentou significativamente”, disse Grzegorz Dróżdż, analista de mercado da empresa de câmbio Conotoxia, ao Financial Times.
De acordo com ele, um novo mandato do republicano teria um “impacto positivo” nas criptomoedas, uma vez que ele tem feito acenos para reduzir a pressão regulatória sobre o setor e expressado entusiasmo com a mineração de bitcoin nos EUA.
Na Bolsa brasileira, o Ibovespa engatava o 11º pregão de altas, com avanço de 0,33%, a 129.320 pontos, segundo dados preliminares.
Além do atentado contra Trump, investidores também repercutiam os resultados do Boletim Focus do Banco Central, que trouxe uma redução na expectativa para a inflação ao final de 2024 após nove semanas consecutivas de alta.
Os analistas esperam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) seja de 4% no final do ano, mesmo número registrado há duas semanas no boletim Focus. No último levantamento, o mercado previa um aumento de preços de 4,02%.
“O mercado começa a interpretar como uma possibilidade de que agora a gente começa a ter uma inclinação dessa inflação para baixo”, disse o analista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos. “Por mais que a gente tenha uma alta de câmbio, o termômetro relacionado à inflação acaba contando muito.”
O IBC-Br, indicador conhecido como a prévia do PIB (Produto Interno Bruto), também estava no radar. A atividade econômica do país cresceu 0,25% em maio em comparação com o mês anterior, informou o BC.
Na análise de Adriana Dupita, economista-chefe de mercados emergentes da Bloomberg Economics, o dado reforça as chances de outro avanço do PIB no segundo trimestre, embora com crescimento mais lento do que no anterior.
“O indicador desmente condições financeiras mais apertadas desde abril, em meio ao enfraquecimento da moeda e taxas de juros de longo prazo mais altas. A resiliência do mercado de trabalho tem sido fundamental para combater esse efeito”, avalia.
As chuvas no Rio Grande do Sul, porém, podem ter afetado o resultado. “Os esforços para reconstruir propriedades danificadas e repor estoques de alimentos perdidos podem ter reforçado a impressão de vendas no varejo descomunal (0,8% mês a mês em maio)”, vê Dupita.
Nos destaques corporativos, Suzano esteve entre as principais altas, com avanço de 3,63%. A companhia anunciou que irá entrar no mercado norte-americano de embalagens para consumo com a aq uisição de duas fábricas nos EUA por US$ 110 milhões.
As ações preferenciais e ordinárias da Petrobras subiam 0,92% e 1,42%, respectivamente, em meio à oscilação do barril do petróleo tipo Brent no exterior. Vale avançava 0,11%.
Na ponta negativa, Hypera perdeu 1,93%, após o banco Goldman Sachs afirmar que o dólar, se continuar acima de R$ 5,30, pode afetar as margens da companhia até o final do ano.
Sabesp perdeu 1,78%, no último dia para que investidores pessoas físicas fizessem reservas de ações da privatização da companhia de saneamento.
Fora do Ibovespa, Americanas perdeu 10,14%, tendo como pano de fundo comunicado de sexta-feira de que o acionista Inácio de Barros Melo Neto atingiu uma posição equivalente a 12,52% do total de ações ordinárias da varejista.
Na sexta-feira, o dólar registrou leve queda de 0,20%, cotado a R$ 5,430, e a Bolsa subiu 0,47%, 128.897 pontos. Investidores repercutiram novos dados de inflação nos Estados Unidos, que deram força à tese de um primeiro corte nos juros por lá ainda em setembro.
TAMARA NASSIF / Folhapress