WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Em uma eleição marcada pela temática da idade, Donald Trump anunciou o jovem J.D. Vance, 39, como vice de chapa na disputa pela Presidência dos EUA. A escolha é um gesto à ala mais a direita do partido, alinhada ao empresário, e mira o voto da classe trabalhadora branca do meio-oeste americano.
O anúncio, feito nesta segunda (15) na rede social Truth em paralelo à convenção republicana, encerra um mistério que vinha sendo feito havia meses. A demora é atribuída tanto a um cálculo político -estender o suspense ao máximo para impulsionar o impacto da notícia- quanto a uma indecisão de Trump sobre seu companheiro de chapa.
“Após longas deliberações e reflexões, e considerando os talentos extraordinários de muitos outros, decidi que a pessoa mais adequada para assumir a posição de Vice-Presidente dos Estados Unidos é o Senador J.D. Vance, do grande estado de Ohio. J.D. serviu honrosamente ao nosso país no Corpo de Fuzileiros Navais, se formou na Universidade Estadual de Ohio em dois anos, com Summa Cum Laude, e é formado pela Faculdade de Direito de Yale”, disse Trump em um post na rede social Truth.
“J.D. teve uma carreira empresarial muito bem-sucedida em tecnologia e finanças e agora, durante a campanha, estará fortemente focado nas pessoas por quem lutou tão brilhantemente, os trabalhadores e agricultores americanos na Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Ohio, Minnesota e muito além”, completou.
Também nesta segunda, Trump se tornou oficialmente o candidato do Partido Republicano à Casa Branca na convenção da sigla. O ex-presidente venceu as primárias republicanas com facilidade no início do ano, derrotando adversários como a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley e o governador da Flórida, Ron DeSantis.
O senador foi nomeado o vice na chapa por aclamação durante a convenção.
O presidente Joe Biden, provável adversário da dupla na eleição em novembro, chamou Vance de “clone de Trump”. “Eu não vejo nenhuma diferença.”
Vance é senador por Ohio. Originalmente um investidor de risco, ele ganhou projeção nacional em 2016 com o livro best-seller “Hillbilly Elegy” (“Era uma Vez um Sonho”, na tradução para o português), adaptado para o cinema em 2020. Na obra, Vance faz um retrato da classe trabalhadora branca americana ao contar sua própria origem pobre no Cinturão da Ferrugem.
Como Trump já antecipou em seu anúncio, a escolha de Vance é vista como uma forma de conquistar votos entre esse eleitorado, especialmente importante no chamado “paredão azul”: Wisconsin, Pensilvânia e Michigan. Biden precisa vencer nesses estados para se manter na Casa Branca, além de distritos em Nebraska e Maine. Se Trump furar esse paredão, como fez em 2016, ele é eleito.
Na convenção, o ex-presidente atingiu o número mínimo de delegados necessários para ser nomeado (1.215) após a delegação da Flórida, representada pelo seu filho Eric Trump declarar seu apoio a Trump. Estavam ao lado dele seus irmãos Tiffany e Donald Trump Jr.
“É minha honra nomear Donald J. Trump para o cargo de presidente dos Estados Unidos”, disse Jeff Kaufmann, diretor do partido em Iowa, o primeiro estado a se manifestar nas primárias republicanas, e responsável por fazer o discurso de nomeação.
Ecoando os apelos de união feitos pelo empresário desde que foi vítima de uma tentativa de assassinato no último sábado, Kauffman disse que as críticas ao governo Joe Biden que serão feitas nos próximos dias não resultam de partidarismo, “mas de uma preocupação com o bem-estar e a segurança dos americanos”.
Republicanos estão aproveitando a atração gerada pela convenção para projetar uma imagem mais moderada de Trump e, assim, convencer eleitores independentes, ainda indecisos com seu voto e que têm restrições com o empresário em razão de sua imagem agressiva e polarizadora.
No discurso, Kaufmann repetiu os eixos temáticos da convenção e bandeiras da campanha de Trump: tornar os EUA ricos de novo, seguros de novo, fortes de novo e grandes de novo.
A convenção começou com um momento de silêncio em respeito às vítimas do ataque de sábado, seguida por uma oração comandada pelo arcebispo Elpidophoros, da Igreja Ortodoxa Grega.
O encontro vai até quinta (18), quando Trump deve aceitar a indicação em um discurso. São esperadas cerca de 50 mil pessoas na cidade.
São 2.429 delegados no encontro, sendo que 2.265 são obrigados a votar em Trump por ele ter vencido as primárias em seus estados.
O evento, que atrai ampla cobertura da imprensa, serve como uma oportunidade de projeção da candidatura para um eleitorado mais amplo, e está atraindo ainda mais atenção após a tentativa de assassinato sofrida por Trump durante um comício no sábado na Pensilvânia.
O republicano lidera das pesquisas de intenção de voto e, desde que perdeu a Casa Branca, ampliou ainda mais seu domínio sobre o partido. Diferentemente de 2016, quando o empresário precisava de um vice que fosse uma ponte com o establishment do partido e o eleitorado evangélico, encontrada em Mike Pence, dessa vez um vice importa muito pouco para ele em termos eleitorais.
Assim, pesou mais no cálculo de Trump a lealdade, reflexo do conflito vivido entre ele e Pence. A tensão atingiu o ápice no 6 de Janeiro, quando o ex-presidente o pressionou para rejeitar a confirmação da vitória de Joe Biden pelo Congresso -nos EUA, o vice preside o Senado e a sessão conjunta das duas Casas.
Pence se negou a fazer isso, afirmando que não teria poder constitucional para tal. Apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio nesse dia, interrompendo o procedimento pela força. Desde então, os dois romperam relações, e Pence se tornou um dos principais críticos de Trump no partido, chegando a concorrer contra o empresário pela nomeação republicana.
Vance, por sua vez, já afirmou que não teria certificado o resultado da eleição imediatamente se estivesse na posição de Pence.
“Donald Trump escolheu J.D. Vance como seu companheiro de chapa porque Vance fará o que Mike Pence não fez em 6 de Janeiro”, disse em nota a campanha de Joe Biden após o anúncio.
“Esta é uma pessoa que apoia a proibição do aborto em todo o país enquanto critica exceções para sobreviventes de estupro e incesto; criticou o Affordable Care Act, incluindo suas proteções para milhões com condições preexistentes; e admitiu que não teria certificado a eleição livre e justa em 2020”, completou.
FERNANDA PERRIN / Folhapress