WASHINGTON, EUA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O candidato à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, Donald Trump, anunciou nesta segunda (15) que escolheu o senador por Ohio J.D. Vance, 39, como vice da chapa que vai disputar a Casa Branca em novembro.
Advogado formado na Universidade Yale, James David Vance fez carreira como investidor na Califórnia, mas ficou conhecido nacionalmente graças ao seu livro “Hillbilly Elegy” (“Era uma Vez um Sonho”, na tradução para o português), publicado em 2016 e que virou filme em 2020.
Na obra, Vance faz um retrato da classe trabalhadora branca americana ao contar sua própria origem pobre no Cinturão da Ferrugem -o filme de 2020, que estrelou Glenn Close e Amy Adams, foi indicado ao Oscar nas categorias de melhor atriz coadjuvante para Close e melhor maquiagem.
O livro se tornou um best-seller do New York Times logo antes das eleições de 2016, em parte porque Vance dizia que a obra ajudava a entender o apoio em peso da classe trabalhadora branca dos EUA a Trump.
A obra descreve um cenário de pobreza, violência, uso de drogas e alcoolismo, e exalta, apesar desses problemas sociais, os “valores dos Apalaches”, em referência à área ao redor da cordilheira de mesmo nome no leste dos EUA. Esses valores seriam o patriotismo e a lealdade, entre outros.
De forma polêmica, Vance escreve que a responsabilidade pela pobreza da sua família e das pessoas que conheceu não se explicava por fatores macroeconômicos ou falhas do Estado, mas sim pela “cultura caipira” de não se esforçar, evitar trabalho duro e se aproveitar de benefícios e programas assistencialistas do governo.
Em 2022, Vance foi eleito senador por Ohio, com o apoio de Trump. A relação entre os dois começou conflituosa: Vance era um crítico ferrenho do republicano, e já chegou a comparar Trump com Hitler, chamar o trumpismo de “ópio das massas” e afirmar que o empresário “não está apto para o mais alto cargo de nossa nação” em 2016.
Aos poucos, as declarações públicas de Vance sobre Trump começaram a mudar. Em 2018, ele disse que o republicano era “um dos poucos políticos que entende a frustração que existe” no Cinturão da Ferrugem. Em 2020, o escritor apoiou a reeleição do então presidente.
No ano seguinte, Vance repetiu a narrativa falsa de Trump de que a eleição que perdeu para Joe Biden havia sido fraudada. Quando decidiu lançar-se ao Senado, em 2022, ele procurou Trump e ganhou o endosso do ex-presidente. Em entrevistas, Vance justificou a mudança radical de posição dizendo que mudou de opinião ao longo da presidência do empresário, que avalia como positiva.
Vance tem opiniões que devem dificultar o apelo de Trump a um eleitorado menos extremista: enquanto o ex-presidente defende uma postura moderada em relação ao aborto, por exemplo, o senador já apoiou a proibição do procedimento adotada no Texas e criticou exceções feitas para casos de estupro e incesto.
Além disso, ele é a favor de uma lei federal contra a interrupção da gravidez -hoje, graças a uma decisão da Suprema Corte (com votos favoráveis dos três juízes indicados por Trump), cada estado do país decide se proíbe o aborto ou não. Recentemente, Vance tem suavizado seu discurso para se aproximar de Trump.
Já os pontos fortes de Vance são sua idade -em uma corrida em que o tema ganhou centralidade- e sua eloquência. Ele é um convidado frequente em programas de TV, e sua performance é elogiada por Trump. O senador também tinha apoio do filho mais velho do ex-presidente, Donald Trump Jr.
Analistas veem a escolha do senador como um sinal de que Trump está passando o bastão, tendo em vista a idade do escolhido. Também pesou na decisão a lealdade: Vance já disse que, ao contrário do então vice-presidente Mike Pence, ele teria obedecido Trump e se recusado a certificar, pelo menos imediatamente, a vitória de Biden nas eleições em 6 de janeiro de 2021 -quando apoiadores do republicano invadiram o Capitólio justamente para impedir que isso acontecesse.
No sábado (13), depois do atentado contra Trump na Pensilvânia, Vance responsabilizou Biden e o Partido Democrata pelo ocorrido, dizendo em uma publicação no X que “a proposta central da campanha [do presidente] é a de que [Trump] é um fascista autoritário que deve ser impedido a qualquer custo. Essa retórica levou diretamente à tentativa de assassinato”.
FERNANDA PERRIN E VICTOR LACOMBE / Folhapress