BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – A divisão que existia entre quatro postulantes de partidos de esquerda para a Prefeitura de Belo Horizonte afunilou nesta semana. Agora, dizem seguir na disputa os deputados federais Rogério Correia (PT) e Duda Salabert (PDT).
As deputadas estaduais Bella Gonçalves (PSOL) e Ana Paula Siqueira (Rede), que eram pré-candidatas, anunciaram apoio à candidatura de Correia, que passa a reunir cinco partidos (PT, PV, PC do B, PSOL e Rede) em torno do seu nome.
Esse arranjo coloca pressão sobre Salabert, que não dá sinais de que irá desistir de concorrer à prefeitura. A pedetista tem citado sua posição nas pesquisas eleitorais.
Na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada no dia 5 de julho, Salabert aparece com 10% das intenções de voto, enquanto Rogério Correia pontuou 8%. Com margem de erro de quatro pontos percentuais, os dois estão tecnicamente empatados.
O petista defende que as pesquisas não devem ser o único critério para a escolha da cabeça de chapa e cita ser o candidato escolhido pelo presidente Lula (PT) como trunfo para angariar o apoio da esquerda.
O apoio público do mandatário veio apenas no mês passado, quando o presidente esteve em Belo Horizonte e disse que Correia é seu candidato.
“A gente entende a posição [de candidatura] da Duda como legítima, mas fizemos o convite para ela integrar a nossa chapa”, afirmou Correia.
“Temos até o dia 5 de agosto [data-limite definida pela Justiça eleitoral para as convenções partidárias] e nós deixamos o espaço ainda de vice aberto para articulações com demais partidos” disse Correia, que destacou que Duda pode ser uma opção para o posto.
O presidente do PDT em Minas Gerais, deputado federal Mário Heringer, descartou a possibilidade de o partido apoiar outro candidato nas eleições enquanto Salabert mantiver o interesse em concorrer no pleito.
“A esquerda ainda vê a Duda de maneira estigmatizada, preconceituosa. Ela é muito mais que uma personagem trans a que as pessoas estão querendo restringi-la. A Duda tem mais voto que os outros candidatos e eles querem que ela seja a vice”, afirmou Heringer.
“Essa história de ir para o PT só porque o PT quer não dá. Queremos montar uma chapa forte, mas não pode partir do princípio que ela é a primeira que está excluída. É algo que ficou perceptível desde o início das conversas”, disse.
Questionada sobre a declaração de Heringer, Bella Gonçalves afirmou que o apoio ao nome de Correia, cuja campanha ela irá coordenar, envolveu uma articulação nacional e a influência de Lula.
“Eu também sou uma mulher LGBT e tenho um apreço e admiração gigantescas pela Duda. Debatemos no PSOL que era importante avançar na unidade progressista, e ela poderia se encabeçada por qualquer um, eu, o Rogério ou a Duda”, afirmou Gonçalves.
“Mas o apoio do presidente Lula à nossa chapa é decisivo, e o pedido dele a nós não pode ser desconsiderado”, completou.
A importância da aliança da esquerda em uma chapa única foi ressaltada também pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), que esteve no evento em que a deputada estadual Ana Paula Siqueira (Rede) declarou apoio à candidatura de Correia.
“Há um entendimento de que a frente ampla que elegeu o presidente Lula deva permanecer unida tanto quanto possível. Eu e a Ana Paula entendemos que a melhor alternativa nesse momento é fazermos essa união em torno da pré-candidatura do Rogério”, disse a ministra.
O apoio do presidente Lula à nossa chapa é decisivo, e o pedido dele a nós não pode ser desconsiderado
deputada estadual
“Nós temos um carinho pela deputada Duda, ela tem o direito de se colocar na cena política, respeitamos o seu tempo, mas óbvio que ela é uma pessoa muito preciosa desse campo progressista”, afirmou a ministra, que evitou cobrar diretamente o apoio da deputada do PDT.
A influência das alianças nacionais é uma das apostas do PT para convencer Salabert a se unir à candidatura de Correia. Questionado sobre se o presidente do PDT, Carlos Lupi, poderia interferir na questão, o dirigente estadual do partido descartou a hipótese.
“O Lupi jamais tiraria uma candidata do PDT para colocar de algum outro partido se não houvesse a concordância do partido na cidade ou no estado. A candidatura está mantida”, afirmou Heringer.
Apesar das divisões, a importância da reunião dos nomes da esquerda em uma única candidatura para chegar ao segundo turno é consenso entre os partidos.
Pesquisa Datafolha mostrou que 28% do eleitorado da capital mineira se dizem de direita, 23%, de centro, e 18%, de esquerda. Nas duas últimas eleições na cidade, os candidatos da esquerda não chegaram ao segundo turno.
Em 2020, Áurea Carolina (PSOL) teve 8,33% dos votos. No pleito anterior, Reginaldo Lopes (PT) foi escolhido por 7,27% dos eleitores.
ARTUR BÚRIGO / Folhapress