SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Santa Casa de Alfenas (MG) tratará de graça 50 pessoas com neuralgia do trigêmeo, um distúrbio que provoca uma dor intensa na região do rosto, por onde passa o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade tátil, térmica e dolorosa da face. É considerada pela medicina como a pior dor do mundo.
Interessados devem enviar uma mensagem para o email [email protected] com cópias de documento de identidade, comprovante de endereço, cartão SUS, laudo médico e exames recentes para comprovação da condição clínica e um relatório assinado por assistente social para comprovar a situação econômica.
O secretário municipal de saúde do município de origem deverá dar ao paciente uma carta se comprometendo a fornecer transporte, hospedagens e outras despesas não médicas na cidade de Alfenas.
A seleção, que acontecerá na próxima semana, vai obedecer critérios clínicos e sociais como idade, tempo de doença, intensidade dos sintomas, condição clínica geral do paciente e vulnerabilidade econômica.
Qualquer pessoa pode se inscrever, exceto as que possuem seguro ou plano de saúde.
Segundo Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa de Alfenas e presidente da Sbed (Sociedade Brasileira para os Estudos da Dor), os pacientes mais carentes, com maior gravidade e os que não responderam a medicações contra a neuralgia terão prioridade.
A expectativa é atender todos os selecionados até 31 de dezembro.
Com início em agosto, o tratamento será adotado de acordo com cada caso. O planejamento inclui a microcompressão por balão ou a radiofrequência. Na primeira técnica, é colocado um balão onde o trigêmeo sai do crânio. Ao insuflá-lo, o nervo é comprimido, levando ao alívio da dor.
Na segunda, o balão é substituído por um eletrodo de radiofrequência. “A radiofrequência ‘queima’ o nervo, reduzindo sua funcionalidade”, explica o médico.
O custo de cada tratamento é estimado em R$ 15 mil a R$ 20 mil, a depender do hospital, dos equipamentos e da cotação do dólar.
Carlos Marcelo de Barros é o responsável pelo caso da estudante de veterinária Carolina Arruda, 27, que convive com a neuralgia do trigêmeo há 11 anos. Ela foi beneficiada com a gratuidade no tratamento, previsto para durar meses. Internada desde 8 de julho na Santa Casa de Alfenas, Carolina permaneceu sedada por cinco dias na UTI para proporcionar ao cérebro um descanso das dores. Ela já retornou ao quarto.
A internação e os serviços hospitalares serão cobertos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e as despesas restantes ficarão a cargo da instituição. A equipe médica envolvida direta e indiretamente não receberá
honorários.
“O caso da Carolina é uma exceção, mais grave e altamente refratário. O tratamento dela, se fosse ser feito pelo preço normal, ficaria em uns 400 mil reais.”
“É preciso entender que a Carolina é uma exceção dentro desse processo. A maioria absoluta melhora com remédio e alguns precisam do balão da radiofrequência. Poucos não melhoram com isso. A Carolina tem uma alteração anatômica na artéria cerebelar superior. Ela comprime os dois nervos trigêmeos e isso foi evidenciado na nossa ressonância. Por isso que ela tem a trigeminalgia bilateral”, explica Barros.
Por não ter mais qualidade de vida e nem suportar a dor, a mineira de Bambuí estava decidida a ir à Suíça em busca da eutanásia -lá a prática é permitida por lei, ao contrário do Brasil. A vaquinha online criada na internet em 1º de julho havia arrecadado mais de R$ 134 mil até esta terça-feira (16). O objetivo da estudante era chegar a R$ 150 mil.
O médico Carlos Marcelo de Barros e outros cinco especialistas de Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Colatina (ES) discutiram e elaboraram a proposta terapêutica para o caso da estudante. A previsão é que o tratamento comece em 27 de julho.
O primeiro procedimento será o implante de neuroestimuladores na medula espinhal e no gânglio de gasser (origem facial do nervo trigêmeo), a ser realizado após a confirmação com um bloqueio teste (injeção de pequena quantidade de anestésico local próximo ao nervo para confirmação da origem da dor). A depender da resposta se discutirá com a paciente a decisão por reabordagem no gânglio da esquerda ou neuromodulação de gânglio de gasser.
Se não der resultado, os médicos tentarão o implante de bomba de infusão intratecal de fármacos -dispositivo implantado no abdômen da paciente que, através de um cateter colocado diretamente no sistema nervoso central, infunde analgésicos no alvo terapêutico.
Caso não dê certo, a opção será submeter a paciente a nova cirurgia de descompressão vascular do nervo trigêmeo.
Se nenhuma das opções proporcionar alívio da dor e qualidade de vida à Carolina, a última tentativa será a nucleotractomia trigeminal, cirurgia que tem o objetivo de interromper a transmissão sensitiva do nervo trigêmeo.
“Sou um médico muito sério. Nunca prometi nada para qualquer paciente, além de dedicação, esforço e fazer o que temos de melhor, mas não existe nada mais avançado do que isso para tratamento de dor. Estou esperançoso, mas não gosto de prometer. É importante dizer que a Carolina deu voz a milhares de pacientes”, finaliza o especialista.
A ação na Santa Casa de Alfenas (MG), que tratará de graça 50 pessoas com neuralgia do trigêmeo, se dará por meio de emenda parlamentar do deputado estadual Luizinho (PT/MG) e em parceria com a Faculdade Sinpain e a Prefeitura de Alfenas.
PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress