SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O corregedor da Polícia Militar de São Paulo, coronel Fábio Sérgio do Amaral, oficial que ocupa uma das funções mais importantes da corporação na gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), publicou nas redes sociais manifestação contra o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.
A postagem, à qual a Folha de S.Paulo teve acesso, foi compartilhada pelo oficial no status do WhatsApp. Ela traz uma foto de Boulos em fundo preto, dentro de um círculo vermelho, cruzado por uma faixa da mesma cor, semelhante ao símbolo de proíbo estacionar. Sobre a foto os dizeres: “Ele não”.
Coronéis ouvidos pela reportagem dizem que manifestações político-partidárias desse tipo são vedadas a PMs da ativa e, principalmente, para quem faz parte do alto comando da instituição como ele. Isso porque elas trazem prejuízo à imagem da PM como uma polícia de estado e não de governo.
Amaral pode ser, em tese, punido por tal manifestação.
Procurada, a gestão Tarcísio não informou se a publicação fere as normas da corporação e se vai tomar providências. Disse, apenas, que “a publicação mencionada foi compartilhada em caráter temporário, no perfil particular do oficial, restrito aos seus contatos pessoais”.
Para a advogada e socióloga Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, a manifestação do coronel é algo preocupante, “sobretudo quando não se tem clareza de como será a fiscalização do uso indevido de redes sociais por policiais durante as eleições deste ano”.
“É preciso tomar muito cuidado, ainda mais em um momento político muito polarizado, em que a gente vê as polícias se movimentando fortemente, politicamente, para essa participação eleitoral partidária, sem contornos claros”, afirmou ela.
Ainda segundo Carolina, ainda que a postagem tenha sido feita no WhatsApp, é necessário todo o cuidado porque as mensagens enviadas por ele podem ter um impacto na tropa.
“Claro que é sempre importante respeitar a liberdade de expressão e a opinião política de policiais. Agora, é importante saber a questão do uso de redes sociais em nome da corporação para fazer política. Ela é vedada. Já era antes, enfim, pelos códigos clássicos superiores da polícia e pela resolução de 2021.”
A Corregedoria é uma das unidades responsáveis por investigar e punir os PMs envolvidos em publicações indevidas nas redes sociais. Foi ela quem investigou, por exemplo, o coronel Aleksander Toaldo Lacerda que em 2021 publicou nas redes sociais convocação para o ato bolsonarista do Sete de Setembro e críticas a políticos e ao Judiciário.
O oficial foi afastado do comando de Sorocaba e investigado pela Corregedoria.
A crise criada pelo caso Toaldo levou a PM a criar uma diretriz para disciplinar o uso das redes sociais pelos policiais militares em todo o estado. Para coronéis ouvidos pela reportagem, a situação do corregedor vai além dos vetos dessa norma porque se tratar de alguém que precisa dar o exemplo.
Coronel Fábio, como Amaral é conhecido na instituição, é um dos coronéis ligados ao secretário Guilherme Derrite (Segurança) que ganharam poderes na mudança feita em fevereiro deste ano, quando houve a movimentação de 34 coronéis de uma só vez, comunicados pelo “Diário Oficial”.
Nessa movimentação, foram rebaixados os coronéis que eram contra a politização da tropa pelo governo Tarcísio, caso do então subcomandante-geral, o coronel José Alexander de Albuquerque Freixo.
O corregedor é um dos oficiais com passagem pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e que fazem parte do chamado núcleo duro da PM.
Procurado, Boulos não quis comentar o assunto.
A Folha de S.Paulo também solicitou um posicionamento do secretário Guilherme Derrite, mas o oficial da reserva da PM paulista não se manifestou.
Por meio de nota, a corporação informou que a mensagem “foi compartilhada em caráter temporário, no perfil particular do oficial”.
“A publicação não está mais disponível e o posicionamento não reflete os valores e diretrizes da Instituição, a qual é legalista, imparcial e isenta de posições políticas. Seu compromisso é único e exclusivo com a proteção da população e o combate ao crime”, finaliza a nota enviada à Folha de S.Paulo.
ROGÉRIO PAGNAN / Folhapress