Com avanço da febre oroupoche no país, Saúde reforça investigação de microcefalia em bebês

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com o avanço dos casos da febre oropouche e o anúncio de que os anticorpos do vírus foram encontrados em quatro bebês que nasceram com microcefalia e em um feto natimorto, o Ministério da Saúde e especialistas da área estão reforçando a necessidade de que todos os casos dessas malformações no país sejam notificados e investigados.

Segundo a nota do ministério, os achados são evidências da transmissão vertical do vírus, mas ainda não permitem confirmar se a infecção durante a gestação foi a causa das malformações neurológicas nos bebês e da morte do feto.

Os quatro bebês são da região Norte. Já o feto, com 30 semanas de gestação, era de uma mulher de 28 anos, de Pernambuco, que teve sintomas sugestivos da febre oropouche e contato com pessoas que tiveram a doença confirmada em testes laboratoriais. Foi identificado material genético do vírus em sangue de cordão umbilical, placenta e diversos órgãos fetais (tecido cerebral, fígado, rins, pulmões, coração e baço).

De acordo com dados do ministério, de janeiro a 6 de julho deste ano, foram registrados 7.044 casos da febre oropouche, uma alta de 743% em comparação a todo o ano passado, quando foram computados 835 casos. A transmissão local foi confirmada em 16 estados e está sendo investigada em outros três.

O oropouche foi isolado pela primeira vez em 1955 no Caribe. No Brasil, isso ocorreu na década seguinte. Os casos e surtos sempre estiveram concentrados na região Norte. A partir de 2023, o sistema de detecção dos casos da febre oropouche foi ampliado para toda a rede nacional de Lacens (Laboratórios Centrais de Saúde Pública). Com isso, os casos passaram a ser identificados em outras regiões do país.

Apesar de o vírus estar circulando no país e nas Américas há tanto tempo, não existem estudos que demonstrem a relação entre o oropouche e problemas no sistema nervoso central de fetos de mães infectadas. Se isso for comprovado, será algo inédito na literatura científica.

“Nunca ouvimos falar disso. O número de casos [de microcefalia] ainda é muito pequeno, e as análises até agora não acendem um grande alerta. O oropouche está no Caribe há muitos anos e nunca foi relatado casos de microcefalia”, diz o virologista Gúbio Soares, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia), e um dos pesquisadores responsáveis por identificar o vírus da zika no país.

Segundo ele, é muito importante que se investigue a origem da microcefalia, com testes para outras patologias. “O fato de terem encontrado [anticorpos] nos bebês pode ter sido apenas a transmissão de anticorpos da mãe, isso não determina que foi oropouche que causou a microcefalia.”

Há uma série de fatores de risco ambientais ligados à malformação, como infecção gestacional por sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes e zika. Doenças ou condições maternas, como a diabetes e a desnutrição, e a exposição intrauterina a substâncias teratogênicas, como álcool, radiação e medicamentos também aumentam o risco de microcefalia, além de fatores genéticos.

Na nota técnica, o ministério pede a “intensificação da vigilância de transmissão vertical do vírus oropouche.” Também orienta que estados e municípios façam o acompanhamento do bebê “em mulheres com suspeita de arboviroses durante a gravidez, com coleta de amostras e preenchimento da ficha de notificação”.

Segundo a pasta, devem ser observados ainda casos de abortamento, óbito fetal e malformações neurológicas congênitas, com coleta de amostras de soro, sangue, sangue de cordão, líquor e tecidos para pesquisa de marcadores da infecção pelo oropouche.

Para o infectologista André Siqueira, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chadas (INI/Fiocruz), é importante que, a partir da experiência com o vírus da zika, o país avance rapidamente na investigação para esclarecer se o oropouche tem ou não potencial para causar microcefalia em bebês.

“Existe essa chance. O vírus tem um tropismo pelo sistema nervoso central [uma certa propensão a infectar células nervosas] e, com o aumento da sua circulação no país, aumenta também essa possibilidade.”

Segundo ele, embora o oropouche, antes da circulação do zika e do chikungunya, fosse a segunda arbovirose mais comum no país, atrás apenas da dengue, nunca houve um aprofundamento na caracterização clínica da infecção e nas possíveis sequelas ou consequências a longo prazo.

“Agora com a vigilância clínica e epidemiológica mais ativa se começa a levantar as possibilidades de encefalite e de outras complicações. No início, a zika também foi considerada uma infecção benigna e depois vieram as outras associações, como a síndrome de Guillain Barré [distúrbio autoimune em que o sistema imunológico ataca parte do sistema nervoso] e as alterações fetais.”

Com sintomas parecidos com os da dengue e da chikungunya, como dores de cabeça, muscular e nas articulações, a febre oropouche não é transmitida pelo Aedes aegypti, mas sim pelo mosquito Culicoides paraensis, também conhecido como maruim, meruim ou mosquito-pólvora, dependendo da região.

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ORIENTAÇÕES SOBRE FEBRE OROPOUCHE PARA GRÁVIDAS

– Evitar áreas onde há muitos insetos (maruins e mosquitos);

– Usar telas de malha fina em portas e janelas;

– Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas;

– Manter limpos casa, terrenos e locais de criação de animais;

– Recolher folhas e frutos que caem no solo;

– Se houver casos confirmados na sua região, siga as orientações das autoridades de saúde locais para reduzir o risco de transmissão.

CLÁUDIA COLLUCCI / Folhapress

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