SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O município de Santana, na região metropolitana de Macapá (AP), tem o maior índice do Brasil de mortes intencionais correspondentes à soma de casos de homicídio doloso (crime com intenção), latrocínio (roubo seguido de morte), lesão corporal seguida de morte e intervenções policiais.
Foram 92,9 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes em Santana no ano de 2023, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que divulgou, nesta quinta-feira (18), a análise feita a partir de dados fornecidos por órgãos ligados aos governos estadual e federal.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, da FBSP, traz o ranking das dez cidades mais violentas do país. Além de Santana no topo, o Amapá tem a capital Macapá em 9º lugar. A Bahia possui seis na lista, sendo elas Camaçari (2º), Jequié (3º), Simões Filho (5º), Feira de Santana (6º), Juazeiro (7º) e Eunápolis (10º). Mato Grosso tem Sorriso, em 4ª posição, e Ceará tem Maranguape, em 8º.
Com apenas 16 municípios, o Amapá tem a maior piora do índice ao ser comparado com os outros estados. Em 2023, o estado registrou aumento de 36% de mortes intencionais a mais do que no ano anterior sendo o único dos sete do Norte a ter crescimento na taxa os demais apresentaram diminuição.
AS 10 CIDADES MAIS VIOLENTAS DO PAÍS EM 2023
Índice de mortes intencionais é para cada 100 mil habitantes.
92,9 – Santana (AP)
90,60 – Camaçari (BA)
84,4 – Jequié (BA)
77,7 – Sorriso (MT)
75,9 – Simões Filho (BA)
74,5 – Feira de Santana (BA)
74,4 – Juazeiro (BA)
74,2 – Maranguape (CE)
71,3 – Macapá (AP)
70,4 – Eunápolis (BA)
71,3 – Macapá (AP)
70,4 – Eunápolis (BA)
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Os números de Santana, que pulou da 31ª posição para o topo da lista das mais violentas em um ano, dão pistas sobre uma das principais hipóteses defendidas pelo Fórum para variações nas mortes violentas. Foram 72 vítimas de homicídio, uma de latrocínio e 27 de ações policiais.
De acordo com a publicação, a matança pode ser explicada por uma sequência de disputas entre facções pelo porto considerada a porta fluvial do estado e pela atuação policial.
Ainda conforme o anuário, 33% das mortes violentas intencionais do ano passado no Amapá são decorrentes de intervenções policiais, ou seja, 1 a cada 3 casos.
Em nota, a Secretaria da Justiça e Segurança Pública do estado também atribuiu o aumento da violência a uma guerra entre facções rivais, que começou no fim de 2022 e escalou ainda mais no ano seguinte, principalmente, nos quatro primeiros meses de 2023.
A pasta vinculada ao governo de Clécio Luis (Solidariedade) disse ainda que adotou estratégias de inteligência, incluindo operações policiais na região metropolitana e na área de fronteira, em Oiapoque, que resultaram a diminuição da violência a partir do segundo semestre.
Santana possui 107.618 habitantes (segundo o Censo de 2022) e fica a 17 quilômetros de Macapá.
TIROTEIO E MORTE NA IGREJA
Um culto de Páscoa interrompido por tiroteio retrata essa escalada da violência no ano passado em Santana. No dia 9 abril, um homem armado invadiu a igreja evangélica Congregação Monte Carmelo, na área portuária, e efetuou diversos disparos.
Denilson de Jesus Cardoso da Silva, de 39 anos, morreu no local. Ele possuía passagem na polícia por roubo. Outra vítima era uma criança de 3 anos. A pequena Evelin Lopes de Souza levou dois tiros e chegou a ser internada em um hospital infantil na capital, mas não resistiu aos ferimentos após quatro dias.
Uma adolescente foi baleada de raspão nas costas, recebeu atendimento médico e teve alta no mesmo dia. Vinicius Ferreira de Souza, com então 35 anos, levou cinco tiros e sobreviveu. Ele é ex-detento Iapen (Instituto de Administração Penitenciário), preso por tráfico de drogas.
No dia 17 de abril, oito dias depois do tiroteio, as polícias Civil e Militar prenderam um suspeito de ter participado da ação. A secretaria informou, na época, que os dois homens baleados na igreja eram os dois verdadeiros alvos do ataque. O caso ainda é investigado.
JORGE ABREU / Folhapress