SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos 13 pessoas foram mortas nesta quinta-feira (18) após estudantes e policiais entrarem em confronto em Daca, a capital de Bangladesh, no pior dia de violência da atual onda de protestos contra uma política que estabelece cotas para a alocação de empregos governamentais.
As autoridades cortaram alguns serviços de internet no país para tentar conter as manifestações, que acabaram se intensificando a partir da terça-feira (16).
Segundo a agência de notícias Reuters, outras 19 pessoas já haviam morrido ao longo da semana. Um levantamento da AFP, por sua vez, aponta que 32 pessoas já morreram nos protestos a maioria delas na quinta. A BBC havia confirmado 17 mortes até a noite de quarta (17) entre elas, um jornalista de 32 anos do Dhaka Times.
Os manifestantes exigem que o Estado pare de reservar 30% dos empregos governamentais para as famílias de pessoas que lutaram na guerra de independência de 1971.
Nesta quinta, os estudantes seguravam pedaços de paus e atiraram pedras contra os policiais. A multidão ainda incendiou o prédio da emissora BTV e dezenas de veículos estacionados do lado de fora, disse um funcionário à AFP, sob condição de anonimato. “O fogo ainda está se alastrando […]. Nossa transmissão foi interrompida.”
As vítimas nesta quinta incluem um motorista de ônibus que foi levado a um hospital com um ferimento de bala no peito, um puxador de riquixá (espécie de carroça levada por uma pessoa), além de três estudantes, disseram autoridades à Reuters.
Centenas de pessoas ficaram feridas quando a polícia disparou gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar grupos de manifestantes, que também incendiaram postos policiais e outras instalações, disseram testemunhas.
Na quarta (17), a primeira-ministra Sheikh Hasina condenou o que chamou de massacre dos manifestantes em um discurso televisionado e prometeu que os responsáveis seriam punidos independentemente de sua afiliação política.
As declarações, porém, não foram suficientes para conter a onda de violência. Novos confrontos foram registrados depois que a polícia tentou novamente dispersar as manifestações com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.
“Primeiro, exigimos que a primeira-ministra se desculpe conosco”, disse Bidisha Rimjhim, uma manifestante de 18 anos. “Em segundo lugar, a justiça deve ser feita para nossos irmãos assassinados.”
Novos confrontos eclodiram em várias cidades de Bangladesh durante o dia, quando a polícia de choque atacou os manifestantes, que, por sua vez, fizeram uma nova série de barricadas em estradas e rodovias.
Segundo a AFP, mil pessoas foram tratadas no hospital por ferimentos sofridos durante os confrontos com a polícia.
A agitação em todo o país, a maior desde que a primeira-ministra Sheikh Hasina foi reeleita no início deste ano, é alimentada pelo alto desemprego juvenil. Quase um quinto da população do país, estimada em 170 milhões, está desempregada ou fora da educação.
O governo de Hasina aboliu o sistema de cotas em 2018, mas um Tribunal Superior o restabeleceu no mês passado. O governo recorreu da decisão, e a Suprema Corte suspendeu a ordem do Tribunal Superior.
O ministro da Lei, Anisul Huq, disse que o governo estava disposto a negociar com os manifestantes. Os ativistas, por sua vez, recusaram-se sob a justificativa de que “discussões e tiros não combinam”.
“Não podemos pisar em corpos para fazer discussões. As conversas podiam ter ocorrido antes”, disse o coordenador do protesto Nahid Islam à Reuters.
Hasina, filha de Sheikh Mujibur Rahman, que liderou Bangladesh à independência, até agora rejeitou as demandas dos manifestantes para que a política seja abolida, dizendo que o assunto está nas mãos dos tribunais.
Todas as universidades públicas e privadas foram fechadas indefinidamente a partir de quarta, e as forças de segurança foram implantadas nos campi universitários para manter a ordem.
Grupos de direitos humanos como a Anistia Internacional e as Nações Unidas instaram Bangladesh a proteger os manifestantes pacíficos da violência.
Redação / Folhapress