SÃO PAULO, SP, BRASÍLIA, DF E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Depois da tentativa frustrada com a indicação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a pressionar para emplacar o novo presidente da Vale, que passa por um conturbado processo de sucessão em seu comando.
A avaliação, segundo a reportagem apurou, é que a relação de 15 candidatos à vaga apresentada pela consultoria internacional Russel Reynolds não tem um único nome de interesse dos grupos políticos ligados à gestão Lula, que agora buscam alternativas para incluir sugestões.
Pelo cronograma, o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, deve entregar o posto ao sucessor até o fim do ano. O processo seletivo tem pouca margem de manobra porque segue regras definidas no estatuto da companhia.
Depois que a lista foi entregue ao conselho de administração, que tem a prerrogativa estatutária de selecionar o presidente da companhia, começaram as pressões para a inclusão de outros nomes.
Pessoas que acompanham o processo contaram à reportagem, na condição de anonimato, que um dos protagonistas desse movimento é a Previ, fundo de pensão dos funcionário do Banco Brasil, sócia da Vale que costuma apoiar interesses dos governos petistas.
Inicialmente, o grupo alinhado ao governo tentou fazer esse adendo à relação original por meio do Comitê de Pessoas, responsável pela análise dos currículos. O estatuto da Vale, no entanto, não prevê esse tipo de interferência, prevalecendo os indicados pela Russel Reynolds.
A lista também foi vazada, expondo publicamente e criando constrangimento para os selecionados que atuam em outras empresas. Três deles pediram para sair. A relação foi publicada em 9 de julho pelo colunista Lauro Jardim, de “O Globo”.
Em nova investida para levantar alguém alinhado ao Executivo, circulou a informação de que o secretário-executivo do Ministério da Fazenda e já integrante do Conselho Fiscal da própria Vale, Dario Durigan, estaria sendo cotado para vaga de Bartolomeu, uma via igualmente complicada, já que o nome não foi cogitado pela consultoria.
A tentativa de emplacar o número dois da Fazenda também foi publicada por Lauro Jardim nesta quarta-feira (17). Segundo fontes, Durigan confirma ter recebido sondagens de conselheiros da Vale e admitiu a possibilidade de concorrer desde que a apresentação de seu nome fosse fruto de consenso.
Mas a notícia não repercutiu bem. As ações da Vale, que já acumulam queda de 20% no ano, fecharam a quarta-feira no vermelho, apesar de a empresa ter anunciado aumento trimestral de produção na véspera.
Na noite da mesma quarta a companhia tentou dirimir as especulações. A Vale divulgou comunicado ao mercado afirmando que o presidente do conselho de administração, Daniel Stieler, um dos representantes da Previ no colegiado, endossava o processo em curso para a seleção do presidente.
“Diante das notícias com tom especulativo publicadas recentemente pela mídia, o presidente do Conselho de Administração da Vale vem a público reiterar a lisura do processo de escolha do novo presidente da companhia, que segue estritamente as regras de governança”, destacou o texto.
Segundo o texto, Stieler reafirma sua “total confiança” na capacidade do conselho de tomar a melhor decisão, de acordo com o estatuto social, o regimento interno do colegiado, as políticas corporativas da companhia e legislação aplicável.
O comunicado afirmou ainda que o executivo reforça sua confiança na empresa de headhunter internacional, contratada para suportar o conselho na busca de um novo presidente.
Dois executivos do quadro interno da Vale agradam ao governo: os diretores Gustavo Pimenta, da área financeira, e Marcello Spinelli, da área de minério de ferro, principal negócio da mineradora.
Quem conhece a companhia de longa data defende que neste momento de crise a melhor solução seria indicar um executivo que já atuasse na companhia, pois facilitaria o consenso
Desde o início do processo de sucessão, o conselho da Vale já perdeu dois integrantes, José Luciano Penido e Vera Marie Inkster.
Em sua carta de renúncia, Penido escreveu que o conselho vinha sofrendo “nefasta influência política” e reclamou de “frequentes, detalhados e tendenciosos vazamentos à imprensa”. Ele recuou após contestação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
ALEXA SALOMÃO, CATIA SEABRA E NICOLA PAMPLONA / Folhapress