SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos três pessoas foram mortas em Bangladesh, nesta sexta-feira (19), após novos confrontos entre a polícia e manifestantes contrários ao sistema de cotas para o serviço público. Os tumultos ocorreram após a organização de atos que desrespeitaram a proibição de aglomerações imposta pelas autoridades, segundo a imprensa local.
Bangladesh impôs um toque de recolher e mobilizou militares para conter uma onda de violência que se intensificou nesta sexta, sem que a polícia conseguisse impedir as marchas, deter o ataque a uma prisão ou sufocar os distúrbios que deixaram 105 mortos ao longo da semana.
Manifestante gesticula enquanto outros entram em confronto com a polícia e com a Guarda de Fronteira de Bangladesh, em Daca, do lado de fora da televisão estatal do país Mohammad Ponir Hossain – 19.jul.24/Reuters A imagem mostra um protesto em uma rua movimentada.
O número de mortos é uma estimativa feita pela agência de notícias AFP com base nas vítimas relatadas por hospitais de todo o país. Mais de 1.500 pessoas teriam ficado feridas, incluindo cem policiais. Autoridades não divulgaram um balanço sobre as mortes.
Nesta sexta, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes em várias cidades, segundo a agência Reuters. Na capital, Daca, testemunhas relataram dezenas de incêndios.
Manifestantes ainda invadiram uma prisão no distrito de Narsingdi, na região central de Bangladesh, e libertaram centenas de detentos. Depois, eles incendiaram as instalações, disse um policial à AFP sob condição de anonimato.
Numa tentativa de conter os tumultos, as autoridades proibiram reuniões públicas. O chefe de polícia Habibur Rahman afirmou que a medida era necessária para garantir a segurança pública.
As telecomunicações também foram interrompidas, e canais de notícias saíram do ar. No dia anterior, as autoridades já tinham cortado alguns serviços de telefonia móvel para tentar impedir novos protestos.
O jornal bengali Prothom Alo relatou que os serviços de trem foram suspensos em todo o país. Estradas também foram bloqueadas nos protestos, que contam com a adesão de estudantes.
Em alerta de segurança, a Embaixada dos EUA em Daca disse em nota que os protestos estavam se espalhando, com confrontos violentos sendo relatados em toda a capital. A situação era “extremamente volátil” e havia “centenas, possivelmente milhares” de feridos em todo o país, segundo o comunicado.
Na véspera, estudantes enfrentaram policiais com pedaços de paus e pedras. A multidão incendiou o prédio da emissora BTV e dezenas de veículos que estavam estacionados próximos do local.
Os protestos começaram devido à revolta de estudantes contra cotas controversas que reservam 30% dos empregos públicos para parentes daqueles que lutaram pela independência de Bangladesh, em 1971.
A agitação nacional -a maior desde que a primeira-ministra Sheikh Hasina foi reeleita este ano– também foi estimulada pelo alto desemprego entre os jovens, que representam quase um quinto de uma população de 170 milhões.
Alguns analistas dizem que a violência também é impulsionada por problemas econômicos mais amplos, como inflação alta e reservas estrangeiras em declínio.
Os protestos abriram antigas e sensíveis divisões políticas entre aqueles que lutaram pela independência de Bangladesh do Paquistão, em 1971, e aqueles acusados de colaborar com Islamabad.
Grupos internacionais de direitos humanos criticaram a suspensão de serviços e a ação das forças de segurança. A União Europeia disse estar “profundamente preocupada” com a violência e as mortes.
“É vital que mais violência seja evitada, e que uma solução pacífica para a situação seja encontrada o mais rapidamente possível, fundamentada no Estado de Direito e nas liberdades democráticas”, disse em comunicado.
A violência ligada aos protestos também eclodiu em Londres, na Inglaterra, que abriga uma grande população bengali, e a polícia teve de conter confrontos no leste da capital britânica.
Redação / Folhapress