SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), deturpou em vídeo divulgado nesta sexta-feira (19) o que ele mesmo havia dito nesta semana sobre um boletim de ocorrência de violência doméstica feito contra ele por sua esposa, Regina Carnovale Nunes.
No início da semana, em sabatina Folha/UOL, ele disse que o BO nem sequer existia. “É óbvio que é forjado”, disse o prefeito na última segunda-feira (15).
No dia seguinte, porém, a Secretaria da Segurança de São Paulo contrariou o prefeito sobre o registro policial e afirmou que Regina compareceu sim a uma Delegacia da Mulher, em fevereiro de 2011, para denunciar ameaças do marido.
Já nesta sexta-feira, em vídeo postado em suas redes sociais, Nunes disse que, durante a sabatina de segunda-feira, ele quis dizer que a história criada sobre o boletim de ocorrência é que seria uma história forjada.
“Em nenhum momento afirmei que aquele BO é falso como documento. O que eu disse na entrevista é que o seu conteúdo tem informação que não corresponde à realidade.”
Isso não é verdade. Na sabatina, quando questionado sobre o tema, Nunes disse: “A Regina já falou que ela não fez [o BO]”. O prefeito ainda sugeriu que um documento da delegacia provaria a não existência do registro policial, o que também não se confirmou.
Trata-se de mais uma versão do prefeito e pré-candidato à reeleição sobre o caso. Em 2011, Nunes foi acusado de violência doméstica, ameaça e injúria pela esposa, com quem é casado até hoje.
O registro policial foi revelado pela Folha na campanha de 2020, quando Nunes disputava a eleição na condição de vice de Bruno Covas (PSDB). Sua existência já havia sido admitida por Regina Nunes.
O tema já se transformou em uma vidraça eleitoral do prefeito. Em entrevista ao UOL na manhã desta sexta-feira, a deputada federal e pré-candidata à prefeitura Tabata Amaral (PSB) criticou o prefeito e disse que ele mentiu ao ter negado a existência do boletim de ocorrência.
Após a sabatina Folha/UOL, aliados do prefeito avaliaram que houve um erro de comunicação e que, na realidade, Nunes não queria questionar o BO, mas sim dizer que o conflito com a esposa nunca existiu.
Ainda de acordo com o entorno de Nunes, é uma interpretação errada dizer que ele negou a existência do BO -embora sua fala tenha sido nesse sentido.
Mesmo no círculo do prefeito, porém, houve quem questionasse essa estratégia. A leitura, no entanto, é a de que Nunes não poderia ir contra a versão de Regina, que já em 2020 passou a negar todo o episódio –após ter, em um primeiro momento, admitido à Folha a existência do BO.
Em 2011, Nunes foi objeto de um BO de violência doméstica, ameaça e injúria. Ele e Regina têm uma filha, e hoje ela nega ter havido agressão.
O documento policial obtido pela reportagem traz o relato de Regina, que à época disse ter deixado Nunes “devido ao ciúme excessivo” dele.
“Inconformado com a separação, [Nunes] não lhe dá paz, vem efetuando ligações proferindo ameaças, envia mensagens ameaçadoras todos os dias e vai em sua casa onde faz escândalos e a ofende com palavrões. Afirma a vítima que diante da conduta de Ricardo está com medo dele”, diz um dos trechos do boletim de ocorrência registrado por Regina.
Na ocasião da publicação da reportagem, em nota assinada de próprio punho, Regina afirmou que havia dito no boletim de ocorrência “coisas que não são reais”. Depois, em meio a críticas de adversários de Covas durante a campanha, mudou a versão e afirmou não se lembrar de ter feito o boletim de ocorrência.
Nunes também registrou um boletim de ocorrência em 2011. O registro ocorreu menos de um mês após Regina ter ido à delegacia. O boletim por lesão corporal feito pelo atual prefeito diz que na ocasião “em conversa referente à pensão, veio a autora [Regina] por agredir a vítima [Ricardo Nunes]”.
CAROLINA LINHARES / Folhapress