BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A associação que representa os servidores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) classificou como “humilhante” a proposta de reajuste salarial oferecida pelo governo e anunciou, nesta sexta-feira (19), o início de uma operação-padrão.
O Ministério da Gestão e Inovação ofereceu reajuste zero para a base em janeiro do ano que vem e 5% de aumento em abril de 2026. Para o topo da carreira, a recomposição proposta é de 9,5% no ano que vem e de 5% em 2026.
A categoria chamou de “desastrosa” a segunda mesa de negociação realizada na quinta-feira (18) e disse que a equipe do ministério “demonstrou ignorar completamente todos os problemas” apontados na primeira rodada.
“Essa situação não nos deixou alternativa, tanto pelo acinte da proposta quanto pela criticidade da vacância de nossos cargos, senão estabelecer uma operação padrão em relação às atividades da Abin”, diz a nota divulgada pela Intelis.
A associação citou eventos importantes, como a realização do “Enem dos Concursos”, no mês que vem, e a reunião da cúpula do G20, em novembro, no Rio de Janeiro, e disse que o governo decidiu “abrir mão” de sua agência de inteligência.
“Às vésperas da realização de eleições municipais, CPNU [Concurso Nacional Unificado], reunião do G20 e desintrusões de terras indígenas, eventos críticos e do interesse de agentes adversos, o governo do Brasil decide abrir mão da sua agência de inteligência e escolhe deliberadamente tomar decisões à base do improviso!”, afirma a Intelis.
“Esperamos que ainda haja tempo para reverter o dano gigantesco que será o primeiro país do G-20 a prescindir do seu serviço de Inteligência. Por ora, a granada segue no bolso do ‘inimigo'”, conclui a nota dos oficiais de inteligência.
A associação afirmou que, após “o governo do desvio”, sofre agora com “o governo do desmonte”, e que o topo da carreira recebeu “a pior proposta dentre as que têm sido colocadas para níveis semelhantes”.
Entre outros pontos, a categoria pedia a equiparação salarial com a Polícia Federal. O governo argumentou que todo o funcionalismo público recebeu 9% de aumento em 2023 e que parte dos benefícios da Abin, como o auxílio-alimentação, foram reajustados neste ano.
A reportagem procurou o ministério da Gestão e a Abin neste sábado (20), mas não houve retorno até a publicação deste texto.
A Abin entrou no alvo da Polícia Federal pela suspeita de que a agência tenha sido usada para ações clandestinas no governo Jair Bolsonaro (PL), sob o comando do hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro Alexandre Ramagem (PL).
A investigação da PF aponta que a estrutura teria sido usada para blindar os filhos do ex-presidente; atacar a credibilidade do sistema eleitoral; e espionar ilegalmente autoridades, como ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e senadores da República.
Apesar disso, servidores reclamam que a maioria das acusações pesa contra policiais federais levados por Ramagem para a agência no governo passado. No dia 11, o policial federal Marcelo Araújo Bormevet e o militar do Exército Giancarlo Rodrigues foram presos na operação que investiga a “Abin paralela”.
THAÍSA OLIVEIRA / Folhapress