LOS ANGELES, EUA (FOLHAPRESS) – Os produtores de “O Poderoso Chefão” não queriam que o ator-problema Marlon Brando assumisse o papel do mafioso Vito Corleone sem antes passar por um teste de atuação. Mas como convencer alguém do porte dele a se submeter a isso?
Pois o diretor Francis Ford Coppola inventou o pretexto de que ele deveria fazer uma simples prova de maquiagem. O astro botou graxa no cabelo, um punhado de lenços de papel na boca para projetar o que chamava de “mandíbula de buldogue” e ganhou o papel. O resto é história.
Anedotas como essas recheiam o Academy Museum of Motion Pictures, instituição erguida pela Academia responsável pela entrega do Oscar em Los Angeles. Itens de figurino, objetos de set, storyboards, equipamentos de filmagem, máscaras e bonecos, além de um farto material audiovisual compõem o acervo do museu, aberto em 2021. Material farto para cinéfilos, ideal para quem esteja passando alguns dias na grande metrópole californiana.
Algumas obras ganham espaço especial ali, como “Casablanca”, de Michael Curtiz, filme para o qual o seu estúdio, a Warner, não dava muita bola, mas que acabou se firmando como um dos maiores clássicos da história.
O malfadado romance entre o expatriado americano vivido por Humphrey Bogart e sua antiga amante interpretada por Ingrid Bergman, agora casada com um refugiado perseguido pelos nazistas, só ganhou força graças ao fato de ter sido lançado poucas semanas após o desembarque dos Aliados no norte da África, onde a trama é ambientada.
Estão no museu a porta do clube noturno gerido por Rick Blaine, personagem de Bogart, e o piano no qual Sam, músico da casa, toca “As Time Goes By” Dooley Wilson, conta a instituição, era baterista e não pianista, de forma que teve de fingir que estava executando a canção nas cenas do longa.
O “Chefão” de Coppola tem uma ala só sua, com manequins empunhando os trajes dos personagens, como o que Robert De Niro usou ao dar vida ao jovem Vito na segunda parte da trilogia, e o vestido com que Diane Keaton aparece na sequência do casamento que abre o primeiro filme. A sala em que Don Corleone recebe seus apadrinhados e anuncia ofertas irrecusáveis também é recriada de forma meticulosa com mata-borrão na escrivaninha e tudo.
Mesmo uma cineasta que encarou a fanfarronice de Hollywood com distanciamento e certa dose de ironia, como Agnès Varda, tem seu lugar no Museu do Oscar. Entre pôsteres e vídeos de making of de “Cléo das 5 às 7”, a instituição reserva espaço especial para a produção da diretora da virada dos anos 1960 para os 1970, quando a belgo-francesa mergulhou no redemoinho político e comportamental da América da época e saiu com o documentário “Os Panteras Negras” e o experimental-hipponga “O Amor dos Leões”.
Por ser um museu mantido pela Academia, o Oscar tem papel central, é claro. Dá para ver um punhado de discursos dos vitoriosos, como aquele em que Steven Spielberg faturou sua primeira estatueta, por “A Lista de Schindler”, e a dedicou aos milhões de judeus mortos em campos de concentração. E uma ala conta a linha do tempo e curiosidades da premiação, com direito a estatuetas de verdade enfileiradas em mostruários mas ignora a gafe em que Warren Beatty e Faye Dunaway anunciaram a vitória de “La La Land” no lugar de “Moonlight”.
Para quem não está familiarizado com o metiê, o museu oferece lições bastante ilustrativas sobre todos os processos envolvidos na produção de um filme. Quando explica o trabalho de um figurinista, por exemplo, traz depoimento de Ann Roth detalhando o processo de criação dos vestidos usados por Viola Davis em “A Voz Suprema do Blues” ao lado de roupas usadas por Kate Winslet em “Titanic” e Eddie Murphy em “Um Príncipe em Nova York”. Para entender o que faz um cabeleireiro de set, exibe a peruca usada por Robin Williams em “Uma Babá Quase Perfeita” e Uma Thurman em “Batman e Robin”.
Bruce, um dos mais ilustres desconhecidos de Hollywood também está exposto lá. É o boneco mecanizado de 7,6 metros de extensão usado em “Tubarão”, de 1975 relíquia de uma época em que o cinema gastava miolos para produzir efeitos especiais práticos e ainda não havia cedido à medonha computação gráfica de Marvel e afins.
O que se diz é que, durante as filmagens, Spielberg levou os amigos Martin Scorsese, John Milius e George Lucas para conhecer o brinquedo, mas o último acabou preso na bocarra do bicho. Os demais forçaram até arrancar o futuro diretor de “Star Wars” de lá de dentro e deram no pé, com medo que tivessem quebrado alguma coisa e fossem obrigados a ressarcir os produtores.
Mas essa anedota o museu não conta.
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O jornalista viajou a convite da Latam, da Delta e da feira de turismo IPW
GUILHERME GENESTRETI / Folhapress