SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, reagiu à entrevista do apresentador José Luiz Datena, pré-candidato tucano em São Paulo, em que ele lista à Folha condições ao partido para continuar com a pré-campanha e se compara a Joe Biden, presidente dos EUA, que desistiu de disputar a eleição.
“O Datena sabe que o PSDB não é um partido dirigido por golpistas ou sacanas”, disse Perillo à reportagem.
“Eu tenho conversado com ele [Datena] praticamente todos os dias, e ele está ciente de que, da nossa parte, jamais haverá qualquer motivação que o deixe inseguro”, disse o dirigente tucano.
“Jamais haverá, da parte de quem dirige o partido no país, no estado de São Paulo e na cidade de São Paulo, qualquer possibilidade de sacanagem com ele”, afirmou ainda.
Na entrevista, Datena se queixou de “tiros” que levou “dentro do partido” e disse estar sendo “sacaneado”. “Não precisa me aclamar, mas também não precisa atirar pelas costas”, declarou.
Perillo, por sua vez, disse que todas as conversas com Datena “têm sido assertivas”. “Todo o apoio tem sido dado à pré-candidatura dele por todos nós do partido. Ele tem toda a segurança para poder se candidatar a prefeito, apresentar o plano de governo dele, vencer as eleições e fazer um grande governo.”
“O que está em jogo não é desistência, o que está em jogo é a possibilidade grande que ele [Datena] tem de ganhar e fazer um grande governo”, disse o presidente do PSDB.
No entanto, como mostrou a Folha, boa parte dos tucanos acredita que o apresentador vai desistir e optar por manter seu programa na Band e, por isso, planos alternativos já são debatidos. Além de Datena, o PSDB está dividido entre quem apoia o prefeito Ricardo Nunes (MDB), cuja gestão tem uma série de secretários tucanos, e quem defende uma aliança com Tabata Amaral (PSB).
Datena, que já se filiou a 11 partidos e desistiu de concorrer quatro vezes, afirmou, na entrevista, que precisa de respaldo do partido para confirmar sua candidatura e voltou a dizer que, se houver sacanagem ou confusão, ele nem sequer irá à convenção marcada para sábado (27).
Na segunda-feira (22), em mais um sinal de que pode desistir, Datena cancelou sua visita ao Sindicato dos Hospitais de São Paulo, que tem recebido os pré-candidatos para apresentarem seus planos para a saúde. O apresentador afirmou que não está preparado para discutir a questão neste momento.
Dirigentes tucanos procurados pela reportagem, no nível municipal, estadual e nacional, afirmaram manter a expectativa de que ele seja, sim, candidato apesar das portas de saída elencadas na entrevista.
O discurso foi o de que o partido colabora e dá todas as condições para que ele concorra, inclusive ao contratar o marqueteiro Felipe Soutello e arcar com as despesas da pré-campanha.
Já opositores de Datena dentro do PSDB, que integram a ala que apoia Nunes, demonstraram irritação com o apresentador pelas falas acusatórias em relação ao partido e pelo que enxergaram como falta de disposição em reconstruir a legenda.
Ele disse, por exemplo, que não era “Deus para fazer o partido renascer”. E, apesar de admitir que sabia dos rachas no PSDB ao se filiar em abril, afirmou que o problema era maior do que pensava. “Eu sabia que o gelo do lago congelado do PSDB era fino, mas não tanto. Isso descobri depois de estar lá dentro.”
Ao Painel, o secretário-executivo do gabinete de Nunes, Fábio Lepique (PSDB), afirmou que a militância do PSDB não aceita Datena. “Ele estará sozinho na campanha e sabe disso.”
Nas redes sociais, Fernando Alfredo, aliado de Nunes e ex-presidente municipal do PSDB, compartilhou críticas ao apresentador e o desafiou para um debate com a militância tucana. Alfredo perdeu seu posto devido a uma intervenção da direção nacional tucana, que colocou o ex-senador José Aníbal no comando na capital.
Os dirigentes tucanos simpáticos a Datena dizem esperar que a ala opositora não vá à convenção e que não haja confusão preocupação pontuada pelo apresentador diante das divisões internas no partido.
“Essas convenções [dos partidos] vão ser por aclamação e com gente pesada. Se a nossa for porrada para todo lado, no que vai me ajudar? […] Quem foi atrás de cargo, emenda, dinheiro, esses já foram, mas deixaram alguns ali dentro para atrapalhar minha candidatura, inclusive a convenção”, disse Datena na entrevista.
Como a direção municipal do PSDB é um órgão provisório, não haverá uma convenção propriamente dita, com o voto de todos os delegados, mas uma deliberação da própria executiva municipal, em que Aníbal tem maioria.
“O partido está totalmente fechado com ele em São Paulo e ele vai ser aclamado candidato”, afirmou Aníbal, presidente municipal do PSDB, à Folha de S.Paulo.
“Da nossa parte, ele será referendado pela [direção] municipal, estadual e nacional. Tudo foi feito a favor dele e continuará sendo feito”, disse Duarte Nogueira, prefeito de Ribeirão Preto e presidente estadual da federação PSDB-Cidadania.
A avaliação de tucanos que apoiam Datena é a de que o apresentador não está acostumado à política e à vida partidária, em que é esperado haver desavenças, divisões e oposição interna. Além disso, Datena é descrito como uma pessoa desconfiada com os políticos em geral.
Ele reclamou, por exemplo, da entrevista à CBN do engenheiro Paulo Lourenço, um dos assessores de sua pré-campanha, que defendeu os radares de trânsito, enquanto Datena se diz contrário.
Mas, para esses tucanos, essas insatisfações com o partido são contornáveis e Datena estaria disposto a concorrer.
Ainda na entrevista à Folha de S.Paulo, Datena fala sobre as trocas na federação PSDB-Cidadania. “Fiquei sabendo depois. Mesmo assim, continuaram essas críticas idiotas, que só podem vir do intestino do partido.”
Segundo tucanos, porém, as trocas foram feitas para beneficiá-lo, já que aliados de Nunes deram lugar a nomes escolhidos por Aníbal.
CAROLINA LINHARES / Folhapress