Ex-governadores ensaiam candidaturas nanicas à Prefeitura de Curitiba

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Dois ex-governadores do Paraná, o ex-senador Roberto Requião (Mobiliza) e o deputado federal Beto Richa (PSDB), resolveram se lançar pré-candidatos a prefeito de Curitiba em outubro, mesmo sem a estrutura partidária robusta que já tiveram no passado e agora com dificuldades de toda ordem para fecharem alianças.

Principal nome do MDB paranaense por décadas e histórico representante da esquerda estadual, Requião deixou o partido em 2021 na esteira da aproximação dos emedebistas com o governador Ratinho Junior (PSD). No ano seguinte, concordou em se filiar ao PT e concorrer ao Governo do Paraná, dando um palanque regional ao presidente Lula (PT).

Após a derrota nas urnas (Ratinho Junior foi reeleito ainda no primeiro turno), Requião verbalizou isolamento, criticou os rumos da gestão Lula 3, e, em março último, deixou a sigla. Mais tarde, aceitou o convite para entrar no Mobiliza (antigo PMN), legenda que em Curitiba está sendo organizada por um grupo de sindicalistas ligados aos trabalhadores do transporte público.

“Fui três vezes governador, fui senador, fui prefeito. Curitiba me conhece”, minimiza ele ao ser questionado sobre estrutura para campanha.

Requião já foi prefeito de Curitiba, no final da década de 1980. “Me candidatei com 2% [de intenção de voto] contra o Jaime Lerner, que era o Deus, e eu me elegi prefeito”, diz ele.

Segundo o ex-governador, sua pré-candidatura agora é “um imperativo moral e ético”. “Está virando uma brincadeira essa eleição, essa negociata de partidos. A cidade não está sendo considerada.”

Requião é um crítico da articulação que aprovou o nome do deputado federal Luciano Ducci (PSB) para encabeçar uma frente de esquerda contra o grupo que está no poder, do atual vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD).

Pimentel costura apoios no campo da direita, com o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro e o Novo do ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, por exemplo.

Ducci ganhou o apoio do PT e do PDT e já se apresenta como aliado de Lula na pré-campanha. “É um bom sujeito, nada pessoal contra ele. Mas Ducci é um cara da direita, votou pela cassação da Dilma Rousseff. Como é possível o PT apoiar?”, reclama Requião.

Ele alega não ter desistido de fechar uma aliança com PDT, Rede e PSOL. “Eu gostaria, mas é uma decisão deles, não vou fazer barganha, negócio com ninguém. Está na mão deles”, afirma o ex-governador, que recentemente se encontrou com Carlos Lupi, integrante da cúpula pedetista.

Em Curitiba, contudo, a sigla de Lupi já indicou que deve caminhar com Ducci, e aposta em um representante do partido, o deputado estadual Goura, para ser vice na chapa.

Assim como Requião, o atual deputado federal Beto Richa também já foi prefeito de Curitiba. Deixou o segundo mandato no Executivo local em 2010, para assumir o Palácio Iguaçu. Hoje, contudo, ele volta para a corrida à prefeitura em uma situação diferente.

Richa permanece no PSDB, legenda que não tem a força de dez anos atrás, e agora busca partidos menores para tentar melhorar suas condições para a disputa de outubro.

“Tentando ainda algumas coligações com partidos menores, visto que os maiores já entraram em entendimento com governo, com prefeitura, para apoio ao candidato oficial”, diz Richa, em referência ao pré-candidato do PSD, que tem o apoio do prefeito Rafael Greca e do governador Ratinho Junior.

“Isso nos restringiu bastante o leque de possibilidades de alianças. Mas estou insistindo, para ter mais tempo de televisão”, diz ele, que nega eventual recuo na candidatura, na hipótese de ter que caminhar sozinho, com chapa pura.

Em março, Richa ainda ensaiou a migração para o PL de Bolsonaro, legenda com a maior bancada na Câmara dos Deputados, mas a resistência de lideranças do partido em Curitiba e o veto do PSDB nacional frustraram o movimento do tucano.

Sobre outubro, ele minimiza quando questionado sobre as chances de vitória. Nas urnas de 2022, por exemplo, o tucano fez 65 mil votos e só conseguiu assumir a cadeira de deputado federal quando um correligionário perdeu a vaga por decisão da Justiça Eleitoral.

“Eu estava desacostumado com eleição proporcional, que é absolutamente diferente de uma eleição majoritária. Muitos nem sabiam que eu era candidato”, diz.

Richa também reconhece, contudo, o provável impacto dos escândalos de corrupção que o atingiram depois do segundo mandato no Governo do Paraná.

“Também não posso me iludir e dizer que não tive prejuízo político, prejuízo de imagem, pelo que aconteceu comigo, pelas injustiças de que fui vítima. Lógico que teve. Mas não era para tão pouco voto”, diz ele, ainda sobre o desempenho de 2022.

Somente entre outubro de 2018 e novembro de 2019, Richa se tornou réu em oito ações penais, e chegou a ser preso em três ocasiões.

Para ele, a possibilidade de resgatar agora o que considera realizações das suas gestões na prefeitura também seria uma forma de “reconstruir minha imagem”.

“Eu estou apostando nisso. Sei das dificuldades [para vencer nas urnas], mas há possibilidade de êxito”, diz ele.

Além de Richa, Requião, Ducci e Pimentel, outros seis nomes se apresentam como pré-candidatos à Prefeitura de Curitiba: Andrea Caldas (PSOL), Cristina Graeml (PMB), Luizão Goulart (Solidariedade), Maria Victoria (PP), Ney Leprevost (União Brasil) e Samuel de Mattos (PSTU).

CATARINA SCORTECCI / Folhapress

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