Dólar tem alta firme com pressão de commodities e moeda japonesa; Bolsa cai

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar tinha alta firme nesta quarta-feira (24), repetindo o movimento do dia anterior com pressão de commodities no exterior, em meio, também, à recuperação do iene japonês.

Às 11h15, a moeda norte-americana subia 0,94% e estava cotada a R$ 5,640 na venda. Já a Bolsa brasileira caía 0,16%, aos 126.391 pontos.

Dois fatores têm gerado pressões sobre moedas emergentes nesta quarta: a recuperação do iene frente ao dólar e a piora nas perspectivas sobre a economia da China, o que prejudica a demanda por matérias-primas globalmente.

A moeda japonesa tem acumulado ganhos contra a divisa norte-americana em meio a suspeitas de intervenção cambial das autoridades e à especulação sobre se o Banco do Japão elevará os juros em sua reunião na próxima semana.

Um iene valorizado ante o dólar e a possibilidade de diminuição no diferencial de juros entre Japão e Estados Unidos levam investidores a reverterem operações de “carry trade”, isto é, quando tomam ativos em locais com juros baixos para rentabilizar em outros com juros mais altos. Isso provoca uma fuga de capitais de emergentes para sustentar essa reversão no mercado japonês.

O dólar tinha queda de 1,03% em relação ao iene, a 153,97.

Os ativos emergentes também estão sendo impactados por uma fraqueza dos preços de commodities, uma vez que pioraram as perspectivas econômicas na China, grande importadora de matérias-primas.

A queda do minério de ferro, em particular, prejudica o Brasil. A matéria-prima da siderurgia teve mais um dia de fortes perdas na Bolsa de Dalian, atingindo o menor valor em mais de três meses.

A desvalorização da commodity também afetou a sessão do dólar e o pregão da Bolsa na véspera, quando a moeda norte-americana subiu 0,33%, a R$ 5,587, e o Ibovespa caiu 0,96%, aos 126.632 pontos.

“As quedas fortalecem o dólar contra moedas de países que são fortes exportadores, porque as commodities contribuem com uma fatia alta na balança comercial desses países”, afirma Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.

“Ou seja, quanto mais baixo o preço das commodities, pior a balança comercial desses países, causando assim uma aversão a risco por parte dos investidores nos emergentes.”

Na cena doméstica, o mercado estava de olho em falas de Roberto Campos Neto, presidente do BC (Banco Central), e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ambos em eventos no Rio de Janeiro.

Recentemente, Lula colocou panos quentes sobre as tensões de investidores quanto às contas públicas do país, dizendo que “haverá cortes de gastos sempre que necessário”.

O mercado, porém, segue receoso com a cena fiscal brasileira. O governo divulgou, na segunda-feira, o Relatório Bimestral de Despesas e Receitas, que trouxe detalhes sobre o contigenciamento de R$ 15 bilhões no Orçamento anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) na semana passada.

Com o documento, o governo confirmou a necessidade de bloqueios em verbas de ministérios para levar a projeção de déficit primário do governo central em 2024 a R$ 28,8 bilhões —exatamente no limite inferior da margem de tolerância da meta de déficit zero.

“Agora, ou as economias provenientes da revisão dos benefícios fiscais se mostram tão significativas quanto o governo prevê, ou a situação pode se tornar crítica”, avalia André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.

“Um déficit primário acima de R$ 28,8 bilhões, que é o limite do novo arcabouço fiscal, poderia minar a confiança no governo e causar uma nova disparada no câmbio, semelhante ao ocorrido no segundo trimestre do ano.”

A cena corporativa também era destaque do dia. Santander Brasil divulgou alta de 44,3% no lucro líquido do segundo trimestre, em um desempenho que superou previsões do mercado e que foi apoiado por aumento de empréstimos e das tarifas.

O Santander Brasil foi o primeiro grande banco que atua no país a publicar resultados trimestrais, dando o tom para os próximos balanços dos rivais Itaú Unibanco e Bradesco.

Balanços decepcionantes da Tesla e da Alphabet, controladora do Google, minavam a sessão da Nasdaq nos Estados Unidos, índice que reúne a maior parte do setor de tecnologia norte-americano. O resultado das duas companhias levantaram questões sobre o domínio das big techs e o boom da Inteligência Artificial.

Na terça-feira, além da queda de commodities, o mercado repercutiu a cena fiscal brasileira após a divulgação do Relatório Bimestral e os desdobramentos da desistência de Joe Biden da corrida pela reeleição nos Estados Unidos.

Joe Biden anunciou, no domingo, que não será mais candidato à reeleição e endossou a candidatura de Kamala Harris, sua vice-presidente.

A perspectiva de um novo mandato de Trump na presidência dos EUA havia afetado o apetite por risco em mercados emergentes. Temores de uma política comercial restritiva e uma política externa isolacionista geraram pressão em uma série de moedas, incluindo o real.

“A decisão de Biden mexe com os mercados porque a chance de Trump ganhar diminui, então isso ‘enfraquece’ a chance da política ficar mais protecionista, o que enfraquece o dólar”, afirma Hemelin Mendonça, educadora financeira e sócia da AVG Capital.

A semana ainda guarda os dados do PIB dos Estados Unidos e do PCE, indicador preferido de inflação do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), que serão conhecidos na quinta e na sexta-feira.

A partir deles, o mercado reajustará as expectativas para quando o ciclo de afrouxamento monetário dos EUA poderá começar, com a maior parte das apostas mirando o mês de setembro.

Redação / Folhapress

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