Ativistas pró-Palestina veem Kamala com desconfiança, e Gaza vira nó para campanha da vice

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A substituição de Joe Biden por Kamala Harris renovou as esperanças de muitos democratas com engajamento do eleitorado negro e jovem, mas pode não ser suficiente para recuperar o apoio dos simpatizantes do partido críticos ao apoio dado pelo atual governo a Israel.

Diversos manifestantes com quem a reportagem conversou durante o protesto realizado na quarta-feira (24) contra o discurso de Binyamin Netanyahu no Congresso dos EUA disseram que, em sua visão, a vice é tão responsável quanto Biden pela atuação americana no conflito no Oriente Médio.

Ao mesmo tempo, eles afirmam que ainda há tempo de Kamala se diferenciar de Biden. Alguns viram com bons olhos o fato de ela não ter participado da sessão legislativa em que o premiê israelense discursou —enquanto vice, Kamala é presidente do Senado, mas sua equipe havia avisado na semana passada que ela não participaria por um conflito de agenda.

“Biden desistiu da candidatura por causa do nosso movimento”, disse William Chan, 48. Vestindo um uniforme militar, ele afirma ser veterano do exército e que serviu no Iraque em 2002 e 2003.

A afirmação ecoa a visão de muitos defensores do voto não comprometido nas primárias, uma campanha que, na prática, tentou boicotar a nomeação de Biden como o candidato do partido. O esforço, no entanto, não foi o suficiente para ameaçar a candidatura do presidente, que desistiu após forte pressão sofrida em razão de seu desempenho desastroso contra Donald Trump.

Ainda assim, o movimento se viu revigorado com a saída do octogenário, chamado de “Joe genocida”, da corrida. “Se Kamala quer ser presidente, ela precisa reconsiderar sua política para o Oriente Médio”, completou Chan.

Desde que se tornou a provável candidata democrata, a vice não tratou do conflito em Gaza em suas aparições públicas. Antes disso, suas falas eram com frequência mais duras do que as de Biden em relação a Israel e à tragédia humanitária na região.

No entanto, mesmo que defenda uma posição diferente de Biden se eleita, o fato de continuar servindo no seu governo limita a margem de manobra de Kamala para divergir do mandatário na campanha.

“Se Kamala não cortar as relações com Israel, não terá meu voto”, afirmou o jovem Tayyab, de 24 anos. De família muçulmana, ele mora em Baltimore (Maryland), e viajou cerca de duas horas a Washington para participar da manifestação.

“Ela não está no discurso do Netanyahu por uma preocupação com a sua imagem, todos nós sabemos que ela vai se encontrar com ele na quinta”, disse, em referência à reunião bilateral prevista entre os dois.

De origem palestina, Hind, 31, mora nas proximidades da capital americana. Ela diz que não vê diferença entre Kamala e Biden, e que a vice teria que mudar suas visões se quiser que a eleitora mude as dela. A jovem não pretende votar em ninguém para presidente em novembro.

Esse é o mesmo plano de Mohamed, 25. De Cleveland (Ohio), ele afirma que votou em Biden em 2020, mas se arrependeu. “Kamala é a mesma coisa, não se importa com nada que não a sua própria agenda. É triste, porque ela é uma mulher não-branca, está na minoria. Mas está do lado errado”, disse.

Na visão do jovem, “o sistema todo é corrupto”. Ele não estava sozinho —o mesmo pensamento era expresso em um grande cartaz com a frase “toda a p. do sistema precisa acabar”, acompanhada das imagens de Trump (chamado de fascista), Biden (chamado de genocida) e Kamala (chamada de assassina).

Alguns manifestantes, no entanto, se mostraram mais abertos a votar na vice, se não por um genuíno apoio, ao menos por pragmatismo.

“Espero que Kamala seja diferente de Biden, mas não acho que será. Mas eu vou votar nela. Também ia votar no Biden. Na verdade, eu vou votar em qualquer um que não seja o Trump”, disse Ted, 43, que veio da Filadélfia, localizada no estado-pêndulo da Pensilvânia, para o protesto.

Já Lia, 20, não pretendia votar quando Biden era o candidato, mas agora ela diz que está repensando. “Não tenho certeza o que acho de Kamala, mas é interessante que ela não esteja no Congresso hoje para ver o Netanyahu”, disse.

A exceção encontrada pela reportagem foi Chloe, 21. Estudante de cinema em Maryland, ela disse que até chorou quando Kamala se tornou a candidata (quase) oficial democrata. “Como uma pessoa queer, eu já ia votar no Biden por falta de opção, porque o outro é muito pior. Mas o fato de Kamala estar concorrendo agora é tão bom”, afirmou.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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