SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um ano depois do início da Operação Escudo, a Baixada Santista vive aumento da violência nos dois municípios que concentraram as ações policiais na região. Santos e Guarujá tiveram, respectivamente, altas de 100% e 80% nos registros de homicídio doloso no primeiro semestre de 2024, em comparação ao mesmo período do ano passado.
Com isso, eles contrariam uma melhora nos índices gerais da região.
No primeiro semestre de 2024, a Baixada teve queda de índices criminais como roubo (-23%), roubo de veículos (-8%), furto (-11%) e estupro (-3%). À exceção do índice geral de roubo, todos os outros indicadores ainda estão piores em comparação a 2022, durante os governos João Doria e Rodrigo Garcia (à época, ambos no PSDB).
Ou seja, a violência na região piorou nos primeiros seis meses da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) e, neste ano, melhorou parcialmente.
O aumento dos homicídios em Santos e Guarujá, que estão entre as três mais populosas da Baixada Santista (junto com São Vicente, que tem a segunda maior população), também contraria a tendência na região. No conjunto dos nove municípios, houve queda de 18% nos homicídios dolosos e de 14% no número de vítimas.
Quando é considerada a quantidade de vítimas de assassinatos nas duas cidades, o aumento é ainda maior: de 125% em Santos e 109% em Guarujá. A primeira metade de 2023 teve um total de 15 pessoas foram assassinadas nos dois municípios. No mesmo período de 2024, foram 32 vítimas.
Esses números pioraram mesmo sem levar em conta a letalidade policial, que também cresceu de forma expressiva na região. De janeiro a junho do ano passado antes da Operação Escudo, 28 pessoas foram mortas por policiais na Baixada Santista. Com a operação, o número de mortos pela PM ao longo de um semestre foi superado em pouco mais de um mês.
Neste ano período que abrange a operação oficial da PM mais letal desde o massacre do Carandiru foram 104 mortes nos primeiros seis meses, um aumento de 271%. A alta é ainda maior se comparada ao ano retrasado: 395% na letalidade policial em dois anos.
A frequência de mortes pela PM diminuiu após o encerramento da Operação Verão, em 1º de abril, mas ainda assim manteve-se em patamares maiores do que no período pré-Escudo do ano passado.
A Operação Escudo foi deflagrada em 28 de julho após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, 30, que integrava a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), batalhão de elite da PM conhecido pelo alto índice de letalidade.
Diferentes fases da ação, que neste ano passou a ser chamada de Operação Verão, deixaram um saldo oficial de 93 mortos por policiais.
Moradores afirmam que a violência policial era menor antes de julho do ano passado, quando a Escudo começou. Hoje, há uma sensação de que a truculência continuou mesmo com o encerramento oficial das operações.
“Até hoje eles [policiais militares] saem avisando por aqui ‘quem a gente pegar de madrugada sem uniforme do trabalho vai morrer'”, conta a subgerente de restaurante Ana, 29. Ela mora da Vila Edna, bairro pobre de Guarujá. “Outro dia um PM deu um tapa na cara de um rapaz durante um enquadro, aqui do lado. Sem motivo, do nada. A sobrinha dele, de oito anos, viu tudo.”
No caso da queda de homicídios na região, a melhora foi puxada por municípios como Praia Grande, São Vicente, Bertioga e Cubatão. As operações Escudo e Verão, no entanto, tiveram atuação tímida em vários desses municípios, à exceção de São Vicente.
Em Santos, houve também uma alta de 46% nos casos de roubo de carga. Se comparado com o período de janeiro a junho de 2022, o aumento é ainda maior, chegando a 171%.
Na cidade que abriga o maior porto do país, esse tipo de crime está associado à atuação do crime organizado. Desarticular a facção criminosa PCC na Baixada era um dos objetivos da operação anunciados pela gestão Tarcísio.
O aumento dos roubos de carga em Santos e em Praia Grande, que teve aumento de 50% nesse tipo de crime também contraria a tendência regional. Em conjunto, os nove municípios da Baixada Santista tiveram queda de 33% no registro desse crime em comparação com o ano passado.
Essa melhora, no entanto, também não se sustenta na comparação com o ano retrasado. Os registros de roubo de carga de janeiro a junho deste ano mais que dobram alta de 127% se comparados ao a 2022.
TULIO KRUSE / Folhapress