SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A 2ª Vara Empresarial de Belo Horizonte confirmou na quinta-feira (25) o processamento da recuperação judicial do grupo Coteminas, presidido por Josué Gomes da Silva, hoje no comando da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
No início de maio, a companhia havia conseguido antecipar os efeitos para se proteger cautelarmente da execução de dívidas.
O grupo empresarial declarou ter um passivo de R$ 2 bilhões. A recuperação judicial inclui nove empresas. Além dos braços têxteis, como Santanense e Ammo Varejo (que vende Santista, Artex e Mmartan), estão também no grupo a Fazenda do Cantagalo e a Santanense Empreeendimentos Imobiliários.
Após a divulgação da crise no grupo, Josué chegou a se afastar da presidência da Fiesp para cuidar dos negócios em seu estado natal.
A companhia vem enfrentando ações judiciais, protestos e foi alvo de audiências públicas em Minas Gerais, na Paraíba e em Santa Catarina onde tem fábricas. Além disso, há relatos de salários, benefícios e outras obrigações trabalhistas em atraso.
No pedido encaminho à Justiça de Minas Gerais, os advogados do grupo disseram que a Coteminas começou a ter problemas em 2008, quando o real desvalorizou e as exportações caíram. À época, suas fábricas passaram a operar com 60% de ociosidade.
Os anos seguintes foram de acúmulos de prejuízos. Em 2019, chegaram a R$ 570 milhões. Até então, segundo o pedido de recuperação judicial, a geração de caixa do grupo ainda era suficiente para manter as contas em dias, fossem impostos ou o custeio de dívidas.
O agravamento da situação teria chegado com a pandemia, a partir de 2020, devido à elevação dos preços das matérias-primas para confecção “para um patamar jamais praticado”, combinado à desvalorização da moeda nacional.
“Nos anos de 2020 e 2021 mais intensos e rodeados de incertezas quanto à Covid-19, registraram uma redução drástica de suas operações industriais, o que lhes fez consumir todo o capital de giro disponível para que pudessem se manter adimplentes com suas obrigações”, escreveram os advogados do grupo.
Toda essa fragilidade financeira e operacional teria levado o grupo a fechar uma operação com a Farallon, que incluía um empréstimo de R$ 300 milhões. A contrapartida incluía a emissão de debêntures conversíveis em ações pela Ammo, o braço de varejo do grupo, subscritas pelo fundo Ordenes.
Esse acordo resultou, no fim do primeiro trimestre de 2023, na indicação, pela Farallon, de um novo presidente para a Ammo. Segundo o grupo Coteminas, o novo administrador se reportava diretamente à gestora.
Segundo a Coteminas, a nova gestão foi ruim e a Ammo “teve os piores resultados de sua história, fazendo com que a sua geração de caixa médio mensal chegasse ao patamar negativo de aproximadamente R$ 6 milhões”.
Foi a negociação com a Farallon que levou a Coteminas a pedir a proteção cautelar na Justiça. No fim do ano passado, a gestora notificou a Coteminas que poderia declarar o vencimento antecipado das debêntures. Isso poderia resultar na transferência integral das ações da Ammo.
Após a apresentação do pedido de recuperação judicial, Coteminas e Farallon chegaram a um acordo segundo o qual o fundo poderá comprar a Mmartan e suas debêntures não serão incluídas na relação de credores sujeita aos efeitos do processo.
Agora, com o processamento da RJ, o grupo Coteminas terá 60 dias (que poderão ser prorrogados) para apresentar a primeira versão de seu plano de recuperação.
O juiz Adilson Cláver de Resende determinou que duas empresas façam a administração judicial do processo de recuperação Inocêncio de Paula Sociedade de Advogados e Credibilitá Administração Judicial.
Resende escreveu na decisão de quinta que o pedido tem repercussão nacional, envolve milhares de credores e discussões complexas sobre empréstimos. Por isso, entendeu que manter duas administradoras era necessário.
FERNANDA BRIGATTI / Folhapress