PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – “Vocês conhecem o lema de Paris: boia e não afunda. E alguém disse: A vida não é esperar que a tempestade passe, e sim aprender a dançar sob a chuva.”
Foi com essas frases, em tom de autoajuda, que o diretor artístico da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, Thomas Jolly, resumiu neste sábado (27) a atitude dos organizadores diante da chuva, que ele definiu como “convidado extra” do espetáculo da véspera.
Paris-2024 considerou o show um êxito, apesar da chuva e de alguns erros e imprevistos.
A bandeira olímpica foi hasteada de cabeça para baixo. O barco da Coreia do Sul foi identificado com o nome oficial da inimiga Coreia do Norte (República Popular Democrática da Coreia). O Comitê Olímpico Internacional pediu desculpas oficialmente aos sul-coreanos.
“Muita gente achava que [a cerimônia no rio Sena] nunca ia acontecer, por razões de segurança. Mas não tivemos nenhum incidente antes, durante ou depois”, comemorou o presidente do comitê organizador, Tony Estanguet.
Ele divulgou alguns números da festa: mais de 300 mil espectadores; 6.800 atletas nos barcos; 2.000 artistas.
Entre os poucos que criticaram a cerimônia, estão os políticos franceses de ultradireita, incomodados com a participação de drag queens, de uma modelo trans e de uma DJ LGBT, entre outros acenos de Jolly à diversidade.
Sobre a questão política, Jolly disse que ficaria “a manhã inteira” discorrendo, se pudesse. “Os Jogos Olímpicos são políticos, mas no sentido da ‘polis’ grega: reunir a cidade. Minha vontade não era ser subversivo, nem chocar: eram simplesmente ideias de inclusão, gentileza e solidariedade. Temos uma necessidade louca disso.”
“Na infância, fui vítima de assédio. Conheço a adversidade e sempre quis combatê-la através do teatro”, acrescentou Jolly, 42, considerado um dos diretores mais ousados da atual geração.
Os organizadores revelaram alguns segredos do show. Desde o início a ideia era fazer a canadense Céline Dion interpretar “Hymne à l’Amour”, clássico de Edith Piaf, no meio da Torre Eiffel. Como a cantora canadense sofre de síndrome de um transtorno neuromuscular, foram oferecidas alternativas menos arriscadas fisicamente. “Não, não, eu quero fazer na Torre Eiffel, como vocês propuseram”, respondeu Dion, segundo Jolly.
Estanguet contou que os dois atletas que acenderam a pira olímpica, a ex-corredora Marie-José Pérec e o judoca Teddy Riner, foram avisados por telefone, pelo próprio Estanguet, no final da manhã de sexta-feira. “Eu sabia que eles iam aceitar, então deixei para o último momento.”
Thierry Reboul, diretor de cerimônias responsável pela logística do evento, explicou que até momentos antes não se sabia se choveria ou não. “Não sabíamos se daria para colocar os artistas nos telhados. Foi preciso adaptar.”
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress