SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cerca de 200 imigrantes e refugiados da Venezuela se reuniram na avenida Paulista neste domingo (28) para se opor a Nicolás Maduro, 61, e prestar solidariedade aos mais de 21 milhões de compatriotas que elegem o próximo mandatário neste final de semana.
A manifestação foi convocada pela Rede de Venezuelanos no Brasil (Redeven) em 41 cidades do país. Em São Paulo, a mobilização teve apoio da ONG Casa Venezuela, que trabalha pela integração socioeconômica de migrantes. O protesto foi pacífico e durou cerca de duas horas.
O ato, em frente ao monumento que homenageia o venezuelano Francisco de Miranda, considerado precursor da independência hispanoamericana, teve discursos, falas improvisadas e gritos de “vai cair, vai cair, esse governo vai cair”.
Os participantes também cantaram o hino nacional e músicas como “Alma llanera”, composição de Pedro Elías Gutiérrez e Rafael Bolívar Coronado, considerada um segundo hino do país e símbolo da identidade cultural venezuelana.
Algumas pessoas, com os rostos pintados ou adereços nas cores nacionais, seguravam bandeiras, faixas e cartazes nos quais se liam “María Corina estamos contigo”, “Venezuela livre”, “voltaremos para casa” e “não pude votar, vote por mim”.
De cerca de 560 mil migrantes do país vizinho que estão no Brasil, apenas 1.026 estão registrados para votar. No território brasileiro, a votação só pôde ser feita na embaixada venezuelana em Brasília.
Para Guillermo Pérez, 36, doutorando em ciência política na Unicamp e um dos porta-vozes do ato, as dificuldades impostas aos eleitores são parte da política autoritária do regime, de cerceamento da participação democrática.
A mobilização da oposição no país, no entanto, fez nascer uma esperança de troca no comando e retorno da democracia. Com o regime sob pressão internacional e desgastado pela crise econômica prolongada, Nicolás Maduro enfrenta, pela primeira vez, uma ameaça desde 2013.
Durante seus 11 anos no comando, a Venezuela protagonizou uma das maiores crises humanitárias das Américas. Com salários irrisórios e a persistência da pobreza e da desigualdade, o país viu sua população diminuir em quase 2,5 milhões de pessoas em um intervalo de sete anos, devido às migrações.
O médico Jesus Segovia, 33, conta que recebia um salário de cerca de R$ 50 no país. Em 2018, com a reeleição de Maduro, Segovia veio para o Brasil pela fronteira em Roraima. Em São Paulo, o especialista em cirurgia pediátrica trabalhou por três anos como atendente de call centers até revalidar o diploma.
“Acredito que as pessoas na Venezuela estão mais participativas e querem a liberdade. Antes até havia mais seguidores do chavismo, mas isso mudou. É mínimo o apoio popular ao atual governo”, diz.
Luz Estela Carrero Flores, 64, arquiteta e professora universitária que mora no Brasil há oito anos, também não vê condições para a continuidade do regime de Maduro. “Estamos cansados, fartos, vamos sair dessa ditadura”, afirma.
“María Corina é nossa libertadora e com Edmundo González vamos levar a Venezuela adiante. Não seremos mais um fardo para os outros países.”
Na última década, o país caribenho se tornou origem de uma das maiores diásporas do mundo. A comunidade de venezuelanos no exterior é estimada em 7,7 milhões de pessoas.
“Passamos momentos muito difíceis como migrantes, momentos humilhantes. Mas nós seguimos lutando. Precisamos de um país livre e democrático novamente”, disse Guillermo Pérez. “Estamos aqui para mandar energia positiva e acompanhar”.
JOÃO RABELO / Folhapress