SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rússia realizou na madrugada desta quarta (31) um dos maiores ataques com drones contra a Ucrânia desde que invadiu o vizinho, em fevereiro de 2022. As forças de Vladimir Putin testaram uma nova tática na ação, que não deixou vítimas.
Foram lançados nada menos que 89 drones, segundo a Força Aérea ucraniana, que disse ter abatido todos. O grosso do ataque ocorreu contra a região da capital, Kiev, alvo de 40 dos aparelhos.
Mas o que chamou a atenção foi o padrão da ação, que viu um “número significativo” de drones desarmados sendo usados como iscas para a defesa antiaérea. O porta-voz da agência de inteligência militar da Ucrânia, Andrii Iusov, disse que o objetivo era fazer seu país gastar munição e também identificar a localização das suas baterias.
No início da guerra, a Ucrânia tinha vantagem em campo com os aviões-robôs, empregando tanto modelos maiores de ataque quanto uma infinidade de versões pequenas, capazes de aumentar a vigilância no campo de batalha e ajudar a artilharia a ajustar suas mira, quando não simplesmente lançar granadas sobre soldados e blindados.
Aos poucos, a Rússia empatou o jogo com contramedidas eletrônicas para desativar os drones e passou a investir na tecnologia. Sua frota de ataque consiste primariamente de modelos suicidas derivados do iraniano Shahed-136, batizados de Gerânio-2.
Mais recentemente, surgiram na Ucrânia modelos de ataque maior alcance que foram desenhados pelos russos, conhecidos como Gérbera. A vigilância é conduzida principalmente pelos drones da linha Orlan, e há inúmeros aparelhos menores de emprego variado.
Na terça, o ministro da Defesa da Rússia, Andrei Belousov, afirmou que o país quadruplicou sua capacidade de produção diária de drones, chegando a 4.000 desses robôs. Ele não especificou, contudo, quantos desses são modelos mais sofisticados.
O ataque desta quarta não causou danos importantes. Um míssil Kh-59, que havia sido lançado contra a região de Mikolaiv (sul ucraniano), também foi abatido, segundo Kiev.
PUTIN REINICIA EXERCÍCIOS NUCLEARES
Na Rússia, o Ministério da Defesa anunciou também nesta quarta que iniciou a terceira etapa de exercícios de emprego de armas nucleares táticas, aquelas que têm menor potência e são desenhadas para uso pontual em campo de batalha.
A simulação envolveu forças dos distritos militares Sul e Central, próximo à Ucrânia. “O atual estágio do exercício visa manter a prontidão de pessoal e equipamento de unidades para uso em combate de armas nucleares não estratégicas”, afirmou a pasta.
As manobras testaram o carregamento e emprego de ogivas nucleares em mísseis lançados pelo sistema Iskander-M, que são transportados em veículos independentes.
Os exercícios foram determinados por Putin em maio, após uma escalada mais aguda na crise com o Ocidente, quando a França sugeriu enviar tropas à Ucrânia e os EUA liberaram o uso de armas suas contra o território russo. Naquele mês, envolveram forças junto ao país invadido. Em junho, uma segunda fase teve participação de Belarus e mirou a região do Báltico.
A carta nuclear tem sido jogada pelo Kremlin desde a aurora da guerra, e neste ano os rivais passaram a pagar o blefe: os EUA anunciaram que irão instalar mísseis ofensivos na Alemanha, algo que não ocorria desde o fim da Guerra Fria. Putin advertiu que tal movimento encontrará uma resposta espelhada.
IGOR GIELOW / Folhapress